Capítulo 17 - Irmãos separados

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Faedran esperou por mais sinais de sua irmã com a agonia de alguém que espera por uma desgraça inevitável. Quando sentiu a presença dela se aproximando, experimentou certo alívio, mas a sensação durou pouco. Havia o rastro de mais alguém ali, um cheiro bastante claro, apesar da chuva. Não tendo muita opção, Faedran passou a segui-lo, e não demorou muito até que encontrasse seu dono: um indivíduo baixo, magro, vestido com um manto e um capuz escuros. Ele estava na orla do bosque e, um pouco estabanado, amarrava um cavalo a uma árvore. Faedran sentiu a apreensão do estranho e tentou se aproximar com cautela. Por azar, o cabeça coberta da figura se moveu em sua direção exatamente naquele momento; o cavalo, por sua vez, relinchou, e o dokalfar soube que havia sido descoberto.

Nesse instante, a pessoa tirou o capuz. Era um rapaz – um elfo – de olhos assustados, cujos cabelos úmidos faziam com que ele se parecesse um cão perdido. Estava pálido... e apavorado; afastou-se um pouco, trêmulo, encarando o lobo branco como se estivesse prestes a desmaiar; de tão nervoso, não percebeu que, logo atrás dele, uma águia havia pousado e...

– Hora de dormir, garoto.

Faena. A irmã de Faedran, já transformada em dokalfar, agarrou o pobre coitado por trás e tampou seu nariz e sua boca com um trapo de algodão cru. O rapaz deu um grito abafado e se debateu, mas logo seus olhos se anuviaram; ele perdeu o vigor e amoleceu como um boneco de pano nos braços da elfa negra, protestando baixinho por debaixo da mordaça, até finalmente perder a consciência.

Seiva do carvalho de Ma Ulna, Faedran pensou, enquanto Faena largava o garoto no chão. Nada mais poderia fazê-lo dormir tão rápido. Ma Ulna está por trás disso também.

– Irmão... – Faena murmurou, séria, evitando olhar para o lobo – Já que está aqui, por favor, me ajude.

Faedran sacudiu a cabeça e, segundos depois, levantou-se sobre duas pernas, já transformado em dokalfar. Seu rosto estava tomado pela fúria.

– Faedran....

O que está fazendo? – ele gritou, aproximando-se da irmã e do jovem desmaiado – Quem é esse?

Faena tirara um rolo de corda de uma bolsa e agora amarrava as pernas do rapaz.

– Não me orgulho de meus últimos atos – ela disse – Nem me orgulharei dos próximos. Mas este... – ela fitou o rosto do garoto por um breve instante – é um clérigo que pode curar a Rosa Negra. Ele vai viajar conosco até Afeldhun.

Faedran estacou. O quê...? Foi isso... esse elfo da Lua... que Ma Ulna mostrou para Faena? Se fosse verdade, se ele realmente pudesse curar Duncan e Fierna...

O Asyn se sentiu tentado, mas por muito pouco tempo. Ao olhar uma segunda vez para sua irmã amarrando um garoto à força, Faedran recuperou o bom senso. O dokalfar se abaixou, empurrou Faena para o lado e ergueu o jovem elfo nas costas o mais delicadamente possível.

– Irmão! – Faena sibilou, enfurecida – O que pensa que está fazendo?

– O que você pensa que está fazendo, Faena? – Faedran trovejou – Você raptou alguém em nome de Afeldhun. Eu posso farejar o medo nele, ele está apavorado! Que diabos você fez?

Ela o olhou do chão, estoica.

– Não acha que ele me seguiria por bem, acha?

O dokalfar sacudiu a cabeça.

– Um elfo da Lua, um sacerdote! Que consequências isto trará ao bando, ao nosso lar, aos nossos pais? Em que estava pensando, irmã?

Naquele momento, ela se levantou. Seus olhos se encheram de raiva.

Sombra e Sol (EM HIATO - autora teve bebê)Onde histórias criam vida. Descubra agora