Capítulo 39 - Forte

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– E se ele não voltar?

Lyriel lançou a pergunta enquanto observava Faedran. O dokalfar estava estirado no chão, imóvel, e algumas gotas de suor começavam a brotar de sua testa. Havia tirado as botas – "facilita", tinha dito – e segurava a pena branca que usava nos cabelos em uma das mãos. A outra repousava no torso de Dara, que havia deitado a cabeça no peito do elfo negro. Por algum motivo, Lyriel achava que Dara estava fazendo mais do que apenas observar. Ela gostava do dokalfar, tinha gostado dele desde o primeiro instante...

Como a Driali, Lyriel pensou, perguntando a si mesma se estava errada. Não, não estou. Olhe para ela. Pálida. Nervosa. Oh, Deusa, se ela soubesse sobre Dufel...

Driali respirava fundo, confusa. Era uma mulher acostumada a fatos e ações palpáveis; habituara-se a sempre saber o que fazer em seu trabalho na milícia. A vida em Silena, agora ela concluía, era simples. Se havia goblins atacando as fazendas, bastava assustá-los e, em último caso, eliminá-los. Se havia raposas matando galinhas, a resposta eram as armadilhas. Para os bandidos de estrada, havia a espada e a cadeia. Orcs não falavam outra linguagem que a da violência. Para tudo havia um protocolo, uma forma certa de agir; ela era muito boa em seguir as regras e, quando necessário, também era boa em escutar o próprio bom senso.

Fora o seu bom senso que a guiara até ali, aos sopés da Colina de Prata. Só que, pela primeira vez, ele também a fizera quebrar as regras, e agora havia um grande problema. Driali tinha um amigo perdido na Floresta de Elwing, capturado pelos orcs. A irmã desse amigo estava chorando, assustada, esperando que a ideia de um dokalfar desse certo. Dufel estava pálido, nervoso, que diabos, meu irmão está com uma cara horrível. Lena, pela primeira vez, não tinha um conselho para dar. Nenhum deles entendia ao certo o que Faedran estava fazendo.

Bem, talvez Dara entendesse. Talvez Eladar, que não estava ali, também pudesse compreender, mas Driali não compreendia. Ainda assim, o elfo negro conseguira convencer a todos eles. "Não há tempo. Não há tempo, nós vamos demorar horas para chegar a Elwing, e talvez seja tarde demais. Preciso ver o que está acontecendo agora."

Então ele explicou que viajaria com o espírito do lobo pelo plano astral. Lily, Lena e até Dufel já tinham ouvido falar sobre coisa parecida, mas dizia-se que em Edrim isso era muito perigoso, principalmente depois da queda de Rodrom. O dokalfar, então, afirmou que já havia viajado assim em Afeldhun e que, agora que sua irmã o chamava, ele sabia exatamente aonde ir. Naquele instante, Lyriel se lembrou de um detalhe. "Eladar fez a mesma coisa para curar Clahel. Foi o que minha mãe disse. É verdade, é possível...".

Em algum momento, eles disseram "sim, faça", e agora Faedran estava deitado no chão daquele jeito. Ele podia já ter viajado em Afeldhun, mas Elwing não era a floresta dentro da floresta; era lar de orcs e suas atrocidades. Driali se arrependia mais e mais a cada minuto. O dokalfar mal respirava, mas os olhos se mexiam muito por debaixo das pálpebras. A pergunta de Lyriel ainda pairava no ar.

E se ele não voltar?

– Não diga besteiras, Lily – Driali rebateu.

– Não é besteira, mana. – Dufel argumentou. – Já ouvi histórias...

– Eu não quero saber! – Ela sibilou.

– Não briguem! – Olena pediu; – Vão perturbar a energia dele.

A anã também estava aborrecida. Ela enxergava Faedran como seu paciente e sentia-se responsável por ele; o elfo negro podia até se fazer de durão, mas seu corpo ainda estava se recuperando. Lena se lembrou de seu pai e sorriu. Galnor de Kretton não gostava de dokalfar, nunca os aceitara plenamente, mas tinha certo respeito por Afeldhun. Já sua mãe, Olívia, ensinara a ela que uma curandeira não podia escolher quem tratava. Se a Deusa colocara aquele dokalfar em seu caminho, era porque ele precisava dela, e nunca se virava as costas para um paciente... ou para os desígnios da Lua.

Sombra e Sol (EM HIATO - autora teve bebê)Onde histórias criam vida. Descubra agora