Capítulo 41 - Olhos fechados e olhos de chuva

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Faedran sonhava com Afeldhun.

Era um sonho parecido com tantos outros do dokalfar: ele era um lobo e corria pela floresta, rápido, suas patas mal tocando a relva. Aquilo costumava provocar uma sensação de liberdade que permanecia até muito tempo depois de Faedran despertar. Contudo, naquele momento, não era isso que ele sentia. Na verdade, pela primeira vez em sua vida, o dokalfar preferia acordar a continuar ali, correndo em uma floresta de sonhos.

Preciso voltar. Preciso.

Ele queria retornar para os sopés da Colina de Prata. Precisava dar um jeito de ajudar Dara, precisava ir atrás de sua irmã e do elfo da Lua, que ainda estavam em Elwing... Faedran não podia e não queria ficar ali, preso em uma Afeldhun onírica. Era isso que ele parecia estar: preso. Alguma coisa não o deixava voltar.

Faedran...

O lobo estacou. Era a terceira vez que ouvia aquele chamado. Achou a voz familiar, mas não tinha certeza...

Faedran!

Agora a voz tinha gritado; o berro fora tão alto que os ouvidos dele zumbiram. O lobo sacudiu a cabeça, tonto, e olhou ao redor. Seus olhos se arregalaram, espantados, quando ele percebeu onde estava.

Ma Ulna. – Ele disse, ao enxergar um esplendoroso salgueiro à frente.

A árvore de Ma Ulna era ainda maior e mais bonita dentro de seu sonho. Seus ramos não eram dourados, e sim coloridos, cascatas de arco-íris. Havia uma porção de vagalumes valsando ao redor dos galhos e o vento fazia as folhas dançarem em um ritmo harmônico. Faedran contemplou a beleza do salgueiro por alguns segundos, mas sua atenção se voltou para a figura que se aproximava: uma mulher de cabelos de pérola e pele de avelã.

– Finalmente, filhote de lobo – ela disse. – Eu já estava achando que você não viria.

Ma Ulna. Ela continuava a mesma, uma raposa de olhos brilhantes e membros encarquilhados. Sorria para ele.

– Ma Ulna! – Faedran exclamou. – O que está acontecendo? Isto é mesmo um sonho?

Ela assentiu.

– É, e você está prestes a me dizer que não há tempo para sonhos. Que precisa voltar para ajudar seus companheiros de jornada e sua irmã, não é?

Faedran aquiesceu. Sem mais nem menos, voltara a ser um dokalfar. Ma Ulna riu.

– Vocês, crianças, estão sempre tão apressadas e cheias de certezas...

Ele sacudiu a cabeça.

– Não é isso, Ma Ulna. Não tenho certezas, pelo menos nenhuma que sua sabedoria não possa rebater. Mas minha pressa tem suas justificativas...

– Faedran. – Ela o interrompeu. – Quando eu convenci os anciões de enviarem você, e apenas você, atrás de Faena, você me perguntou o porquê. Lembra?

– Lembro, Ma Ulna.

– E eu lhe pedi que confiasse em mim e esperasse, não foi?

Ele concordou.

– Escute. Sua irmã e o clérigo ficarão bem. Ah, e aquele belo espírito que se feriu ajudando você já está livre do veneno da cobra. Não se preocupe.

Faedran pareceu espantado, fazendo Ma Ulna rir novamente. 

– Você curou Dara?

– Este não é o nome real dela, sabe? Mas sim, eu a ajudei. Ela me disse que você é muito preocupado, mas que ela gosta muito de você.

Sombra e Sol (EM HIATO - autora teve bebê)Onde histórias criam vida. Descubra agora