Capítulo 40 - "Vou achar seu filhote."

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Não tinha sido muito difícil sair da clareira dos orcs. O ritual, ou celebração, seja lá o que fosse, havia favorecido a fuga de Eladar e Faena. Nenhum dos orcs se importou quando viu seu xamã sair com o elfo da Lua e a dokalfar, um em cada ombro, em direção à floresta. As criaturas estavam entorpecidas demais para se alarmar; talvez pensassem que o feiticeiro buscava reclusão para algum desígnio ainda mais sombrio do que aquele festival de sangue e fogo.

Obrigada, Deusa, Eladar pensou, enquanto tentava não tropeçar. Ele já devia ter caminhado quase uma milha naquele corpo enorme e desajeitado, e decidiu que nunca mais reclamaria da própria magreza ou da falta de músculos. Pelo menos eu sou leve. Ainda bem que não estou carregando Dufel. O que ele não diria se estivesse aqui, me vendo carregar o próprio corpo. O garoto já desviara de umas três poças de lama e quanto mais caminhava, mais se convencia de que tinha de estar muito atento. O problema é que isso tornava a jornada mais lenta, e eles precisavam se afastar o quanto antes. Alguma hora, alguém ia dar pela falta do xamã. Além disso, Eladar não aguentaria muito mais naquele corpo.

– Elfo. – Faena disse, batendo com a mão nas costas do orc. – Pode me colocar no chão. Estamos longe o suficiente.

Ele obedeceu. Já de pé, Faena olhou para o orc e depois fitou o corpo do clérigo. Ela concluiu que o elfo parecia ainda menor e mais magro em cima do xamã.

– Eladar... – ela disse, olhando ao redor; – Vou me transformar, como combinamos. Você aguenta mais um pouco?

– Claro, Faena. – Ele assegurou. – Pode ir.

– Grite se algo acontecer. Por favor.

Ela não esperou que ele respondesse. Virou as costas e se afastou, sumindo em meio às árvores. Faena ia voar para saber que direção seguir naquele labirinto verde. Eladar, por sua vez, tirou o próprio corpo dos ombros e se recostou a uma árvore, tentando esconder a massa de músculos que era seu hospedeiro. Olhou para baixo, para sua forma original, e teve medo da própria palidez. Credo. Será que ainda estou vivo mesmo?

O garoto respirou fundo, tentando se acalmar. Deusa, que confusão. A vida em Silena parecia muito distante agora, mas seus pensamentos flutuavam ao redor deles... sua irmã, sua mãe, seu pai, sua casa, seus tios, Cla-céu. O jardim onde Lily colhia rosas e Valenia podava os pés de chá. O templo onde ele e Myron faziam círculos de runas, acendiam incenso e conversavam horas a fio sobre a visão de Eladar, sobre seus medos, sobre tudo. A praça onde Dufel gostava de cantar e onde ele e o bardo caminhavam, sem rumo, rindo de qualquer bobagem. Tio Laucian ensinando a caçar no bosque de carvalhos... ah, como Lily ficou brava naquele dia em que a armadilha dela pegou um sapo ao invés de um coelho. Tia Elora fazendo um piquenique no lago, rindo e cantando com a filha no colo, potes de compota de cidra no chão. Oh, Deusa, que saudades. Eu queria voltar a vê-los. Meu pai... minha mãe... o que aconteceu com eles?

Obrigado pelas informações, fedelho.

De repente, Eladar se deu conta do que estava fazendo. Que distração estúpida. Terrível. Maldição, onde estava o seu bom senso?

Eu vou me vingar por esta humilhação, maldito. Eu vou. Quem você quer que eu estripe primeiro? Sua irmã? Ou sua mãe?

– Cale-se! – Ele disse, colocando as mãos na cabeça. – Cale-se! Você não vai fazer nada!

Ah, eu vou, elfo. Eu vou. Juro por Kathul.

– Kathul foi banido! Cale-se!

– Eladar?

Sombra e Sol (EM HIATO - autora teve bebê)Onde histórias criam vida. Descubra agora