Capítulo 8 - Faena

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Faena Eochad estava desesperada.

Ela até tentava se manter calma. Tentava ocultar o fato de que nunca tinha sentido tanto medo em sua vida, mas duvidava que conseguiria manter sua máscara por muito mais tempo. Além disso, havia Faedran. Ela não podia esconder quase nada dele, e isso era irritante.

A dokalfar suspirou. Estava sentada sobre o musgo, olhando para um de seus lugares favoritos de Afeldhun – as três Cascatas de Pérola, pequenas quedas d'água que desembocavam no lago Fyorn.

Afeldhun. A floresta dentro da floresta. O refúgio dos "dokalfar de prata". Era assim que eles eram chamados pelos poucos pálidos que sabiam da verdade e, apesar de Faena não gostar muito dos pálidos (seu pai abominava que ela usasse esse termo), tinha que admitir que era um nome bonito. "Dokalfar de prata". Prata. A cor da Deusa.

Por favor, Lua, ajude-nos. Ajude meus pais.

Duncan e Fierna Eochad. Os Gylfis de Afeldhun. Ela era filha deles, era a Asynja de seu povo. Por anos, aquilo havia sido suficiente para que Faena acreditasse ser capaz de proteger sua amada terra e seus irmãos de qualquer mal. Ela era a Asynja e, junto de Faedran, o Asyn, guardaria Afeldhun com sua vida. Viveriam para sempre ali, encerrados sob as estrelas, sob a Lua. A floresta era vasta. Seus céus, infinitos. Faena não precisava de mais nada.

Mas então, ela chegou, despedaçando certezas.

Uma doença. Uma estúpida doença, vinda não se sabia de onde. Rosa Negra. Tinha atingido, de uma vez só, seu pai e sua mãe. Faena sempre os vira como criaturas inquebrantáveis, acima do perigo e das mazelas do mundo lá fora, mas agora...

Eles morreriam. Não havia cura conhecida e eles morreriam. Era o que Hagnan, o curandeiro, havia acabado de dizer. Era no que ela pensava, ouvindo o murmurar da água, o sibilar do vento, o barulho das aves, dos esquilos... O mundo continuaria, com ou sem seus pais. Era o ciclo da vida... da natureza...

– Não! – Faena sibilou de repente, golpeando o chão frio com a mão fechada – Não vai ser assim.

Segundos depois, ela sentiu, mais do que ouviu, uma movimentação suave. Faedran.

– Ficará comigo, irmão? – ela perguntou – Independente do que acontecer? Eu sei que está aí. Faz meia hora que chegou.

Faena olhou para trás. Seu irmão finalmente abandonou o esconderijo por entre os urzais e caminhou até ela. Sentou-se na grama, apoiando-se sobre as patas traseiras. Orelhas em pé, costas eretas, cauda repousando no chão. Seus olhos cor de âmbar estavam calmos. Faena jamais vira um lobo maior em sua vida, mas aquela expressão dócil e os pelos brancos faziam com que ela se lembrasse de uma pequena raposa das neves.

– Eu vou até Ma Ulna, Faedran – ela afirmou, encarando-o – Perguntarei a ela o que tenho de fazer.

O lobo ergueu o focinho e depois balançou a cabeça. Faena entendeu o que ele estava tentando dizer.

– Eu vou sim – ela insistiu – Deve haver alguma coisa que nós possamos fazer, irmão. Ma Ulna tem que saber.

Faedran bufou. Seus pelos das costas e da cauda ficaram eriçados e ele se colocou de pé. Andou em círculos, agitado; em poucos segundos, o lobo simplesmente desapareceu, dando lugar a um dokalfar de pele cinza-azulada e cabelos prateados. Estava sempre vestido da mesma maneira: um gibão, uma calça e botas de couro cru, roupas abençoadas por Ma Ulna (as únicas que ficavam com ele independentemente de sua forma). Também havia a velha pena de águia em seus cabelos e o crescente branco pintado na testa, logo acima de seus olhos dourados. Os de Faena eram prateados - era uma das únicas diferenças entre eles.

Sombra e Sol (EM HIATO - autora teve bebê)Onde histórias criam vida. Descubra agora