Capítulo 15 - Três dias, três pistas

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– Queria falar comigo, mãe?

Valenia assentiu, séria, enquanto afivelava o cinto. Eladar quase nunca via sua mãe naqueles trajes. Ela usava calças, braçadeiras e uma armadura leve de couro. Tinha dois punhais atados à cintura e seus cabelos curtos haviam sido penteados e amarrados para trás.

– Feche a porta, El – ela pediu – Venha até aqui.

O garoto obedeceu. Ele se aproximou vagarosamente e sentou-se na beira do colchão. Olhou para seu pai, cuja respiração lhe parecia ofegante demais.

– E se papai acordar, mãe? – El perguntou, de repente – O que digo a ele?

Valenia sorriu. Sentou-se no colchão também, ao lado do marido, e respirou fundo, enquanto acariciava seus cabelos.

– Diga a ele para, pelo amor da Deusa, usar as asas que tem – ela disse, mordendo os lábios – Diga a ele que vá atrás de mim, porque não aguento mais de saudades. Fale que eu o amo e que tem uma carta minha na gaveta da escrivaninha.

Eladar baixou os olhos, metade sorriso, metade tristeza. Ela não quer ir. 

– Mãe... vocês precisam mesmo fazer essa viagem? – ele perguntou.

Valenia sorriu. Eladar sabia que ela diria sim.

– Sabe o quanto respeito você e meus tios – ele continuou – Mas... mãe... parece que vocês tomaram esta decisão tão de repente...

– El... – Valenia o interrompeu – Filho... não foi de repente, nem impensado. Eu garanto a você.

O garoto assentiu, pálido. Então...

– Tem alguma coisa a mais – ele murmurou – algo que vocês não contaram. Não tem?

Ela suspirou.

– Vou falar a mesma coisa que falei para sua irmã, dois dias atrás. Sim, há mais coisas. Não vou mentir porque vocês dois não são tolos, e eu nunca os trataria dessa forma. Porém, eu asseguro, El, que vocês não precisam se preocupar. Não faremos nada muito temerário. Somos pais, agora, e não temos condições de bancar heroísmos. Estamos deixando muito para trás, meu querido.

Valenia esticou a mão e acariciou o queixo do filho. Ele aquiesceu, tristonho, e depois disse:

– Eu entendo. É que... é frustrante para mim não poder ajudar, mãe. Mesmo. Eu não quero que vocês passem meses fora. Eu queria poder acordar o papai, queria poder...

– El! – Valenia o interrompeu – Não, filho. Sem culpa. Você não tem culpa de nada, absolutamente nada.

Ele respirou fundo e deu de ombros. Sacudiu a cabeça, como se tivesse acabado de despertar.

Bah. Desculpe, mãe. Com minha frustração quem deve lidar sou eu. Agora... eu queria perguntar uma coisa muito importante. Se há algo mais acontecendo... se é perigoso... não seria melhor a gente saber do que se trata? E se isso chegar aqui? Sabe... eu digo... bem...

– Eu entendi, querido.

Valenia empalideceu, mas manteve-se serena. Parece que já havia considerado aquela possibilidade.

– Sabe que não é por mim que pergunto, mãe – o garoto insistiu.

Ela suspirou e sorriu. Lily me questionou da mesma forma. Valenia sabia que eles tinham certa razão e concordava com o raciocínio dos filhos. Porém...

Se ainda houvesse magia, El, eu não sairia daqui nem que a própria Deusa mandasse. Antes as coisas boas e ruins podiam viajar como as estrelas cadentes correm no céu. Mas agora... agora, não. Nada vai chegar aqui, não antes de tirarmos toda esta história a limpo.

Sombra e Sol (EM HIATO - autora teve bebê)Onde histórias criam vida. Descubra agora