– Queria falar comigo, mãe?
Valenia assentiu, séria, enquanto afivelava o cinto. Eladar quase nunca via sua mãe naqueles trajes. Ela usava calças, braçadeiras e uma armadura leve de couro. Tinha dois punhais atados à cintura e seus cabelos curtos haviam sido penteados e amarrados para trás.
– Feche a porta, El – ela pediu – Venha até aqui.
O garoto obedeceu. Ele se aproximou vagarosamente e sentou-se na beira do colchão. Olhou para seu pai, cuja respiração lhe parecia ofegante demais.
– E se papai acordar, mãe? – El perguntou, de repente – O que digo a ele?
Valenia sorriu. Sentou-se no colchão também, ao lado do marido, e respirou fundo, enquanto acariciava seus cabelos.
– Diga a ele para, pelo amor da Deusa, usar as asas que tem – ela disse, mordendo os lábios – Diga a ele que vá atrás de mim, porque não aguento mais de saudades. Fale que eu o amo e que tem uma carta minha na gaveta da escrivaninha.
Eladar baixou os olhos, metade sorriso, metade tristeza. Ela não quer ir.
– Mãe... vocês precisam mesmo fazer essa viagem? – ele perguntou.
Valenia sorriu. Eladar sabia que ela diria sim.
– Sabe o quanto respeito você e meus tios – ele continuou – Mas... mãe... parece que vocês tomaram esta decisão tão de repente...
– El... – Valenia o interrompeu – Filho... não foi de repente, nem impensado. Eu garanto a você.
O garoto assentiu, pálido. Então...
– Tem alguma coisa a mais – ele murmurou – algo que vocês não contaram. Não tem?
Ela suspirou.
– Vou falar a mesma coisa que falei para sua irmã, dois dias atrás. Sim, há mais coisas. Não vou mentir porque vocês dois não são tolos, e eu nunca os trataria dessa forma. Porém, eu asseguro, El, que vocês não precisam se preocupar. Não faremos nada muito temerário. Somos pais, agora, e não temos condições de bancar heroísmos. Estamos deixando muito para trás, meu querido.
Valenia esticou a mão e acariciou o queixo do filho. Ele aquiesceu, tristonho, e depois disse:
– Eu entendo. É que... é frustrante para mim não poder ajudar, mãe. Mesmo. Eu não quero que vocês passem meses fora. Eu queria poder acordar o papai, queria poder...
– El! – Valenia o interrompeu – Não, filho. Sem culpa. Você não tem culpa de nada, absolutamente nada.
Ele respirou fundo e deu de ombros. Sacudiu a cabeça, como se tivesse acabado de despertar.
– Bah. Desculpe, mãe. Com minha frustração quem deve lidar sou eu. Agora... eu queria perguntar uma coisa muito importante. Se há algo mais acontecendo... se é perigoso... não seria melhor a gente saber do que se trata? E se isso chegar aqui? Sabe... eu digo... bem...
– Eu entendi, querido.
Valenia empalideceu, mas manteve-se serena. Parece que já havia considerado aquela possibilidade.
– Sabe que não é por mim que pergunto, mãe – o garoto insistiu.
Ela suspirou e sorriu. Lily me questionou da mesma forma. Valenia sabia que eles tinham certa razão e concordava com o raciocínio dos filhos. Porém...
Se ainda houvesse magia, El, eu não sairia daqui nem que a própria Deusa mandasse. Antes as coisas boas e ruins podiam viajar como as estrelas cadentes correm no céu. Mas agora... agora, não. Nada vai chegar aqui, não antes de tirarmos toda esta história a limpo.
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Sombra e Sol (EM HIATO - autora teve bebê)
FantasíaCerta manhã, Myron, o sumo sacerdote de Silena, simplesmente não desperta. Vivo, mas em um estado de coma, o clérigo não pode dizer o que há de errado, para desespero de sua esposa, Valenia, e de seus filhos, Eladar e Lyriel. Na mesma época, relatos...