Capítulo 24 - Criminosa

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Durante aquela manhã, Eladar e Faena encontraram pouca gente na estrada; em sua maioria, toparam com trabalhadores das fazendas ao redor, transportando animais, feno e caras cansadas e pouco afeitas à conversa. Depois de quase quatro horas de jornada, o chuvisco insistente que caía cessou, trazendo o sol para um céu cansado de nuvens. As mudanças climáticas incomodavam Faena, acostumada à estabilidade fresca de Afeldhun. Ela e seu prisioneiro viajaram em silêncio por quase todo o tempo mas, no início da tarde, a dokalfar sentiu a cabeça do elfo da Lua tombando sobre seu ombro.

– Vamos parar um pouco – ela disse, sacudindo as costas – Está me ouvindo, garoto?

Ele ergueu a cabeça, sobressaltado, e assentiu.

– Sim, sim... eu dormi. Desculpe.

– Procure se manter desperto – ela retrucou – Não quero que caia.

– Você não está com sono? Faz tempo que não dorme, não é?

Ela deu de ombros e não respondeu. Depois de quinze minutos, a elfa negra avistou um pequeno arvoredo e decidiu desmontar e guiar o cavalo até lá. Ela e o clérigo poderiam descansar se tivessem alguma cobertura, mesmo naquele horário. Ao chegar, Faena amarrou o animal e ajudou Eladar a descer da sela.

– Sente-se – a dokalfar ordenou, baixando o capuz dos dois.

Eladar obedeceu. Escolheu uma das árvores e encostou-se a ela, esticando os braços doloridos. Faena sentou a seu lado e passou a examiná-lo metodicamente, medindo sua temperatura com as mãos e olhando debaixo de seus olhos.

– E então? – ele disse, cansado do silêncio – O prisioneiro está morrendo ou goza de boa saúde?

A dokalfar franziu o cenho.

– Está com fome? – ela perguntou.

El balançou a cabeça, mas seu estômago roncava ostensivamente. Faena bufou.

– As raízes costumam dar conta do recado – ela disse – São amargas, mas nutritivas. Acontece que você está adoentado e precisa de repouso e bastante comida. Me sinto cuidando de uma criança... – ela torceu o nariz.

– Sobre essas raízes, de onde elas vêm? – Eladar ignorou a ofensa – Alguma planta diferente, de Afeldhun?

– Sim – ela tirou mais algumas da bolsa e as colocou na boca dele – Coma. Depois vai tomar mais da infusão. Pelo menos está sem febre...

– Eu falei que ia passar – o clérigo disse, a voz abafada pelas raízes – Fique tranquila, moça. Eu não vou te deixar na mão, prometo.

Ela franziu a testa, consternada. O garoto passou a mastigar, fazendo uma careta de desgosto. Aqueles braços amarrados deviam estar dormentes, mas ele não reclamava. Todo o descontentamento do elfo pálido se resumia a torcer o nariz para o sabor daquelas raízes que, ela precisava admitir, eram positivamente horríveis. De resto, ele se comportava como se estivesse em uma jornada com um velho conhecido.

Eu não entendo. O que será que ele está planejando? Será... não, não sei. Não sei.

Faena suspirou. Olhou para o alto, prestes a tomar uma decisão. Eladar a observou, mas sua mente fantasiava sobre pão com manteiga, queijo e salsichas. De repente, a dokalfar se voltou para ele.

– Deve ter notado que fomos para a estrada – ela disse.

Ele concordou, voltando à realidade. Faena prosseguiu:

– Daqui a umas boas milhas, atravessaremos a ponte sobre o rio Sankar. Lá perto há uma pequena estalagem, cercada por um estábulo e umas duas ou três choupanas de pessoas que resolveram se instalar por ali para criar porcos e galinhas. Nós chegaremos lá pela noite. Quero que você tente arranjar acomodação.

Sombra e Sol (EM HIATO - autora teve bebê)Onde histórias criam vida. Descubra agora