Capítulo 26 - As sombras lá fora

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El... El... eu preciso falar com você...

Era um chamado longínquo. Coisa de sonhos, talvez... 

El!

Ele estava dormindo em todos os sentidos: corpo adormecido, visão fechada. Laureana fizera o ritual depois do episódio de Clahel e da Rosa Negra. No entanto, o dono daquela voz era insistente, e o queria desperto.

El... Eladar. Filho, por favor...

Filho?

Aquela palavra o perturbou. Seu pai... sim! A voz era tão familiar, como ele não tinha percebido antes? O garoto decidiu que precisava acordar. Não tinha que abrir os olhos físicos, mas tinha de despertar sua visão embotada. Afinal, seu pai precisava falar com ele, e Myron de Silena sempre tinha bons motivos para falar com alguém.

Pai! Eu estou indo... estou indo...

Os olhos da alma ficavam leves durante o sono. De repente, Eladar surgiu numa dimensão escura. O garoto não passava de uma imagem borrada, tentando se conectar à energia do pai. Balançou a cabeça, zonzo, desacostumado ao próprio dom.

– Pai?

Assim que o chamou de novo, El o viu. Um homem pálido, vestindo uma túnica azul. Myron tinha uma expressão melancólica. Sabia que seu filho se sentia melhor sem a visão, mas precisava forçá-lo a usá-la de novo, por mais que aquilo doesse em seu coração de pai.

– Pai..? – Eladar perguntou, com a voz de alguém que acaba de acordar de um longo sono – Pai? Meus olhos estão embaçados. É você mesmo?

O homem se aproximou. Eladar sentiu um abraço cálido e sorriu.

Sim, meu menino. Sou eu.

***

Ver meu pai naquela noite – meu pai, Myron, e não sua forma de dragão me fez perceber o quanto estava com saudades de casa. Parecia que eu estava fora por uma eternidade, e não há duas noites. Olhei para aquela figura pálida e translúcida e experimentei uma confusão de sentimentos. Meu coração bateu acelerado no mundo físico, e retribuí o abraço de meu pai com medo de que ele desaparecesse de repente. Myron notou a agitação em minha energia. "Não filho, não se preocupe comigo. É normal que eu pareça cansado nesta dimensão. Não vou embora, não agora. Eu preciso falar com você".

Eu assenti, mas não me afastei. Atropelando as palavras, fui tentando contar que tinha encontrado alguém, que estava longe de casa.... pedi perdão, mesmo sabendo que não era culpa minha. Papai me interrompeu, colocando a mão sobre a minha cabeça.

"Eu sei o que aconteceu, El. Escute, filho, você não precisa pedir desculpas. Parece que sempre estou falando isso para você. Pare de se sentir responsável por tudo. Quanto a essa moça, Faena... fique com ela. Mantenha-se em movimento, mantenha-se longe de Silena. É melhor desse jeito, acredite".

Eu não entendi muito bem. De repente, senti um pânico enorme. "Pai, algo vai acontecer em Silena? Mas vocês estão lá!". Ele me interrompeu de novo e começou a explicar. "Não, El, não há nada de errado em Silena. A questão é você, filho. Lembra-se que eu disse que havia duas pessoas atrás de você? A que queria luz o encontrou. É essa moça, essa dokalfar. Não tenha medo de ajudá-la. Continue, por mais que possa parecer inconsequente. Você verá, El, que podem proteger um ao outro..."

Ele olhou para trás, nervoso, e depois segurou minhas mãos. "A outra pessoa... eu não sei quem é... mas ela está estendendo suas garras, Eladar, e eu e os cisnes... lembra deles? Pois bem, nós não vamos poder contê-las para sempre."

Sombra e Sol (EM HIATO - autora teve bebê)Onde histórias criam vida. Descubra agora