Capítulo 1 - Primeiro Olhar

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(POV Clarke)

De modo que lá estava eu naquele avião, com uma jaqueta de couro, vendo as palmeiras pela janela ao aterrissar. E pensei: genial. Jaqueta de couro e palmeiras. Não podia estar acertando mais...

Para não dizer o contrário.

Minha mãe não gosta muito da minha jaqueta de couro, mas eu juro que não a vesti para deixá-la furiosa, ou algo assim. Não fiquei aborrecida com o fato de ela ter decidido casar com um sujeito que vive a 4.800 quilômetros de distância, me obrigando a sair do colégio no meio do segundo ano; a abandonar a melhor e a única amiga que tive desde o jardim de infância, a cidade onde vivi todos os meus 17 anos.

Não mesmo. Não fiquei nada aborrecida.

Pois o fato é que eu realmente gosto do Kane, meu novo padrasto. Ele é bom para a minha mãe. Ele a deixa feliz.

Essa história de mudar para a Califórnia é que me deixou meio fora do meu caminho .

E acho até que ainda nem falei dos três filhos do Kane.

Estavam todos lá para me receber quando desci do avião.Minha mãe, Kane e os três filhos dele. Bellamy, Octavia e Jasper. São os meus novos meios-irmãos.

- Clarke!

Mesmo se eu não tivesse ouvido minha mãe berrando meu nome quando passei pelo portão, não tinha como deixar de vê-los- minha nova família. Kane fazia os dois menores segurarem aquele enorme cartaz dizendo "Seja bem-vinda, Clarke". Todos os passageiros que saíam do avião passavam por ali e ficavam dizendo "Olha só que gracinha!" e sorrindo para mim com aquele olhar enjoativo.

É isso aí. Não podia mesmo estar acertando mais. Estou acertando horrores.

- Tudo bem - fui dizendo, enquanto me aproximava depressa da minha nova família. - Agora podem abaixar isso aí.

Mas a minha mãe estava preocupada demais em me abraçar para prestar atenção. Ficava dizendo: "Minha Clarkezinha!" Eu odeio quando alguém que não seja minha mãe me chama de Clarkezinha, de modo que fui logo tratando de fulminar os garotos com um olhar bem malvado, para que não alimentassem qualquer esperança. Eles ficavam só rindo para mim por cima daquele cartaz imbecil,

- Como foi de viagem, guria?

Kane tirou a mochila do meu ombro e botou no dele. Visivelmente, estranhou o peso:

- O que é que você está trazendo aqui? Não sabia que é considerado crime contrabandear hidrantes de Nova York para outros estados?

Eu sorri para ele. Kane é aquele tipo de pateta grandalhão, mas é um pateta legal. Não podia ter a menor ideia do que é crime no estado de Nova York, pois só estive lá umas cinco vezes. E por sinal foi o suficiente para convencer minha mãe a se casar com ele.

- Não é um hidrante - eu disse. - É um parquímetro. E ainda tenho mais quatro malas.

- Quatro? - Kane fingiu que estava espantado. – Você por acaso pensa que está fazendo uma mudança?

Não sei se já disse que o Kane se acha o maior comediante? Só que não é. Ele é carpinteiro.

- Clarke - minha mãe repetia. - Estou tão feliz por você ter vindo. Você vai adorar a casa.  E espere só até ver o seu quarto.

Antes de se casarem, Kane e minha mãe passaram semanas procurando uma casa que tivesse pelo menos um quarto para cada filho. Finalmente se decidiram por aquela enorme casa na colina, que só puderam comprar porque estava num estado lamentável, e a firma de construção para a qual o Kane costuma trabalhar a reformou por um preço super camarada. Há dias minha mãe vinha falando sobre o meu quarto, que ela jura ser o mais bonito da casa.

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