Apesar de eu ter quase matado um homem naquela noite, não tive muito problema para dormir. Sério.
Bem, então eu estava cansada, certo? Olha, vamos encarar: eu tive um dia difícil.
E não que aqueles telefonemas que eu recebi logo antes de ir para a cama tenham ajudado. O padre Jaha estava totalmente furioso comigo por não ter contado antes sobre Lexa e agora Tad também parecia me odiar. Ah, e o tio dele, Marcus? É, o possível assassino em série. Quase esqueci essa parte.
Mesmo assim, apesar de tudo isso, finalmente consegui dormir. Estava sonhando, quando um barulho baixo me acordou. Levantei a cabeça e forcei a vista na direção da janela.Spike estava de volta. E tinha companhia.
Vi Lexa sentada ao lado de Spike. Para minha absoluta perplexidade, o gato estava deixando que ela o acariciasse.
Aquele gato estúpido que tinha tentado me morder a cada vez que eu chegava perto estava deixando uma fantasma – sua inimiga natural – acaricia-lo.
E mais, Spike parecia gostar. Estava ronronando tão alto que eu podia ouvi-lo do outro lado do quarto.
— Epa — falei, me apoiando nos cotovelos. — Isso é digno do Acredite se Quiser.
Lexa riu.
— Acho que ele gosta de mim.
— Não se ligue demais. Ele não pode ficar aqui, você sabe.
Pude jurar que Lexa ficou frustrada.
— Por quê?
— Porque Bellamy é alérgico, para começar. E porque eu nem perguntei a ninguém se podia ter um gato.
— Agora a casa é sua, não só dos seus irmãos — disse Lexa dando de ombros.
— Irmãos adotivos — corrigi. Eu pensei no que ela disse, depois acrescentei: — E acho que eu ainda me sinto mais uma hóspede do que uma moradora de verdade.
— Espere um século, mais ou menos. — Ela riu mais um pouco. — E você supera isso.
— Muito engraçado. Além disso, esse gato me odeia.
— Tenho certeza que não.
— Odeia sim. Sempre que chego perto ele tenta me morder.
— Ele só não conhece você. Vou apresentá-la. — Ela pegou o gato e o apontou na minha direção. — Gato. Esta é Clarke. Clarke, conheça o gato.
— Spike — falei.
— Perdão?
— Spike. O nome do gato é Spike.
Lexa pôs o gato no chão e olhou horrorizada.
— É um nome horrível para um gato.
— É — falei. Depois acrescentei em tom puramente casual, se é que você me entende: — Então, eu soube que você esteve com o padre Jaha.
Lexa levantou o olhar e deixou-o pousar inexpressivamente em mim.
— Por que você não contou a ele a meu respeito, Clarke?
Engoli em seco. O que é que as pessoas fazem, ensinam esse olhar de censura ao nascer, ou algo assim? Quero dizer, é incrível como algumas pessoas parecem ter aquilo pronto.
— Olha — falei. — Eu queria contar. Só que tinha certeza de que ele ia pirar de vez. Ele é um padre. Não achei que ele ficaria muito empolgado em saber que eu tenho uma fantasma morando no meu quarto — tentei parecer tão preocupada quanto me sentia. — Então, é... pelo o que vejo vocês dois não se deram muito bem, não foi?
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Sempre ao seu lado
RomanceVivi mais de mil anos. Morri incontáveis vezes. Esqueço o número exato. Minha memória é uma coisa extraordinária, mas não é perfeita. Sou humano. As primeiras vidas são um tanto indistintas. O arco da alma segue o desenho de cada uma das vidas. Houv...