Quando eu entrei no carro no fim do dia, Jasper estava todo agitado.
— Está todo mundo comentando! — gritou, pulando no assento. — Todo mundo viu! Você salvou a vida daquele cara! Você salvou a vida do Bryce!
— Eu não salvei a vida de ninguém — retruquei, ajeitando calmamente o espelho retrovisor para dar uma olhada nos cabelos.
Ótimo. O ar salgado definitivamente me faz bem.
— Salvou sim. Eu vi aquela tora de madeira. Se tivesse caído na cabeça dele, estava morto! Você o salvou, Clarke! Pode acreditar que salvou.
— Bem — disse eu, passando brilho nos lábios. — Talvez.
— Caramba, você só foi ao colégio um dia e já é a garota mais popular da área!
Jasper não conseguia mesmo se conter. Às vezes eu ficava pensando se um Lexotan não seria uma boa. Não que eu não gostasse dele. Na realidade, era o filho do Kane de que eu gostava mais – o que no fundo não quer dizer muita coisa, mas é o melhor que posso dizer.
Jasper chegara para mim na noite anterior, quando eu estava tentando decidir o que vestiria no primeiro dia de aula, e me perguntara, muito pálido, se eu tinha certeza de que não queria trocar de quarto com ele.
Fiquei olhando para ele como se ele estivesse maluco. Seu quarto era bem legal, e tudo mais, mas espera aí. Desistir do meu próprio banheiro e da vista para o mar? Nem pensar. Nem que isso significasse que eu estaria me livrando da minha companheira de quarto, a Lexa, que na realidade não tinha voltado a aparecer desde que eu a tinha mandado passear.
— Por que diabos eu haveria de querer trocar o meu quarto? — perguntei.
Jasper deu de ombros.
— É que... é que este quarto aqui é meio horripilante, não acha não?
Fiquei olhando para ele. Vocês deviam ver como o meu quarto estava. Com o abajur da mesinha de cabeceira aceso, envolvendo tudo numa maravilhosa luz rosada, e o meu CD player tocando Janet Jackson – tão alto que minha mãe tinha gritado duas vezes para eu abaixar –, horripilante era a última coisa que alguém diria sobre o meu quarto.
— Horripilante? — repeti, olhando ao redor.
Nenhum sinal da Lexa. Nenhum sinal de nada anormal. Estávamos perfeitamente instalados no reino dos seres vivos.
— O que tem de horripilante aqui?
Jasper franziu a boca.
— Não diga nada ao papai — explicou então — mas tenho andado por aí pesquisando esta casa, e cheguei à conclusão, sem sombra de dúvida, de que ela é mal-assombrada.
Fiquei olhando para sua cara, e vi que ele estava falando sério. Muito sério, como deixou claro o seu comentário seguinte.
— Embora a maioria dos cientistas tenha descartado quase todas as alegações de casos de atividades paranormais no país, persistem muitos indícios de fenômenos espectrais acontecendo no mundo sem explicação. Minha investigação aqui em casa ficou a desejar em matéria de indícios considerados tradicionais de presença de espíritos, como os chamados pontos frios. Mas ainda assim, Clarke, ficou perfeitamente evidente a variação de temperatura neste quarto, levando-me a concluir que provavelmente houve aqui pelo menos um caso de grande violência, talvez até um assassinato, e que alguns remanescentes da vítima (que você pode chamar de alma, se quiser) ainda estão por aqui, talvez na vã esperança de conseguir justiça para sua morte violenta.
Eu me recostei numa das colunas da cama. Caso contrário, poderia ter caído.
— Nossa — falei, fazendo força para manter a voz estável. — Ótima maneira de fazer uma garota se sentir mais bem-vinda.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sempre ao seu lado
RomanceVivi mais de mil anos. Morri incontáveis vezes. Esqueço o número exato. Minha memória é uma coisa extraordinária, mas não é perfeita. Sou humano. As primeiras vidas são um tanto indistintas. O arco da alma segue o desenho de cada uma das vidas. Houv...