Isso era tudo o que eu não queria ouvir. Nossa, você nem imagina como.
— Olha — falei rapidamente — acho que você deve saber que eu deixei uma carta com uma amiga. Se alguma coisa acontecer comigo, ela vai procurar a polícia e entregar a carta.
Dei um sorriso ensolarado para ele. Claro que era tudo uma mentira enorme, mas ele não sabia. Ou talvez soubesse.
— Não acredito — falou educadamente.
Dei de ombros, fingindo não me importar.
— O enterro é seu.
— Você realmente não deveria ter dado a dica ao garoto — disse Marcus, enquanto eu estava ocupada tentando ouvir sirenes. — Foi o seu primeiro erro, você sabe.
E não é que eu sabia mesmo?
— Bem, eu achei que ele tinha o direito de saber o que seu próprio pai estava armando.
Marcus me olhou um pouco desapontado.
— Não foi isso o que eu quis dizer — disse Marcus, e havia apenas um leve desprezo em sua voz.
— Então o quê? — Arregalei os olhos o máximo possível.
— A Pequena Srta. Inocente.
— Eu não tinha certeza de que você sabia sobre mim, claro — prosseguiu Marcus, quase amigavelmente. — Pelo menos até você tentar fugir ali na frente da escola. Esse, claro, foi seu segundo erro. Seu medo evidente de mim foi uma clara evidência. Porque então não houve dúvida de que você sabia mais do que era bom para sua saúde.
— É, mas olha — falei em minha voz mais razoável. — O que foi que você disse ontem à noite? Quem vai acreditar na palavra de uma delinquente juvenil de dezessete anos como eu contra a de um empresário grande e importante como você? Quero dizer, fala sério. Você é amigo do governador, imagine só.
— E sua mãe — lembrou Marcus — é uma repórter da WCAL, como você observou.
Eu e minha boca grande.
O carro, que não tinha dado sinais de diminuir a velocidade até aquele ponto, começou a fazer uma curva na estrada. Percebi de repente que estávamos na Seventeen Mile Drive.
Nem pensei no que eu estava fazendo. Simplesmente estendi a mão para a maçaneta e a próxima coisa que vi foi um parapeito vindo na minha direção, e água de chuva e cascalho batendo na minha cara.
Mas em vez de rolar para fora do carro, na direção daquele parapeito – abaixo do qual eu podia ver as ondas do Mar Inquieto se chocando contra pedras na base do penhasco – fiquei onde estava. Isso porque Marcus agarrou as costas do meu casaco de couro e não quis soltar.
— Não tão depressa — disse ele, tentando me puxar de volta para o banco.
Mas eu não ia desistir tão fácil. Girei e tentei bater com o salto da bota em sua cara. Infelizmente os reflexos de Marcus eram tão bons quanto os meus, já que pegou meu pé e torceu muito dolorosamente.
— Ei — gritei. — Isso dói!
Mas Marcus apenas riu e me deu outro soco.
Vou te contar, a sensação não foi muito legal. Durante um ou dois minutos não pude ver muito bem. Foi durante esse tempo que demorou até minha visão se ajustar que Marcus fechou a porta do carro, que tinha continuado aberta, me puxou de volta para o lugar e prendeu o cinto de segurança.
Quando meus globos oculares finalmente se ajustaram nas órbitas, olhei para baixo e vi que ele estava me segurando com força, principalmente agarrando um punhado do meu suéter.
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Sempre ao seu lado
RomanceVivi mais de mil anos. Morri incontáveis vezes. Esqueço o número exato. Minha memória é uma coisa extraordinária, mas não é perfeita. Sou humano. As primeiras vidas são um tanto indistintas. O arco da alma segue o desenho de cada uma das vidas. Houv...