Capítulo 16 - Alexandria

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Não tenho a menor ideia de quanto tempo fiquei lá deitada debaixo das pranchas de madeira e das telhas quebradas do desmoronamento. Pensando bem, devo ter perdido a consciência, ainda que por alguns minutos apenas.

Só lembro de uma coisa dura batendo em minha cabeça, e quando vi, estava tudo completamente escuro ao meu redor e parecia que eu ia sufocar.

Um dos truques favoritos de certos fantasmas é sentar-se no peito da vítima quando ela está despertando, para que a pobre coitada pense que está sendo sufocada sem saber por quê. Eu não estava entendendo direito o que estava acontecendo, e por alguns instantes cheguei a pensar que tinha fracassado e que Ontari ainda estava neste mundo, sentada no meu peito, torturando-me e se vingando do que eu tentara fazer.

Mas aí eu pensei que talvez estivesse morta.

Não sei por quê. Mas me ocorreu. Talvez fosse daquele jeito, estar morto. Pelo menos inicialmente. Era assim que a Ontari devia ter se sentido quando acordou em seu caixão. Devia ter se sentido do mesmo jeito que eu naquela hora: presa, sufocada, paralisada pelo medo.Minha nossa, não é de estranhar que ela estivesse sempre tão mal-humorada. Ela só podia mesmo querer voltar desesperadamente para o mundo que conhecera antes de morrer.

Aquilo era horrível. Era pior do que horrível.

Era o inferno.

Mas aí mexi uma das mãos, a única parte do corpo que ainda conseguia mexer, e senti uma coisa áspera e fria sobre mim. Foi então que entendi o que havia acontecido.

A galeria tinha desmoronado. Ontari tinha usado seu último resto de poder de movimentar as coisas para me atingir. E tinha feito um belo trabalho, pois eu não conseguia me mexer, presa debaixo de sabe-se lá quantos quilos de madeira e telhas.

Legal, Ontari. Obrigada mesmo.

Eu devia estar com medo, pois estava completamente paralisada, incapaz de me mexer, na mais total escuridão. Mas antes mesmo que pudesse entrar em pânico, ouvi alguém me chamando pelo nome.

No início achei que podia estar ficando louca. Afinal, ninguém sabia que eu tinha ido ao colégio, exceto Lexa, claro, e eu deixara bem claro para ela o que lhe aconteceria se aparecesse por lá. Ela não era burra. Sabia perfeitamente que eu ia fazer um exorcismo.

Será que tinha decidido aparecer assim mesmo? Será que tudo já tinha se acalmado? Eu não sabia. E se ela entrasse no círculo de velas e sangue de galinha, será que seria sugada para o mesmo mundo de sombras que havia levado a Ontari? Agora eu estava começando a entrar em pânico.

— Lexa! — berrei, esmurrando o pedaço de madeira que estava bem em cima de mim e recebendo no rosto uma pequena chuva de lascas de madeira e poeira. — Saia daí! — gritei. Aquela poeira toda estava me asfixiando, mas eu não me importava. — Vai embora! É perigoso!

De repente, um enorme peso foi retirado do meu peito e voltei a enxergar. Acima de mim estava o céu de um azul de veludo, salpicado de uma poeira de estrelas. E naquela moldura de estrelas um rosto se debruçava sobre mim com expressão preocupada.

— Ela está aqui! — gritou Jasper, com a voz quase irreconhecível. — Bellamy, eu a encontrei!

Outro rosto se juntou ao primeiro.

— Meu Deus — disse Bellamy ao me ver, com a voz arrastada. — Você está bem, Clarke?

Fiz que sim com a cabeça, atordoada.

— Me ajudem a sair daqui — falei então.

Os dois conseguiram tirar de cima de mim os pedaços maiores de madeira. Depois Bellamy mandou que eu passasse meus braços ao redor do seu pescoço, o que eu fiz, enquanto Jasper me segurava pela cintura. Com os dois me puxando e eu empurrando com os pés, finalmente consegui me livrar dos escombros.

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