Novos ares!

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–Como? –eu perguntei tentando entender a situação.
–Agora além de idiota você é surda princesa? –ele falou meu apelido com nojo.
–Isso é uma brincadeira de mal gosto Julian! -eu fui firme, me odiar era uma coisa, mais usar o nome da mãe de Hyoga para me atingir já era muito baixo, até mesmo para ele.
–Quer saber, acredite no que quiser, pessoas como você que tem uma vidinha perfeita, nunca conseguem ver a não ser que seja o obvio. –ele falou passando por mim e indo em direção as escadas.
Eu voltei para sala e fechei o notebook, não estava mais com inspiração para escrever, então subi tomei um banho relaxante e troquei de roupa para dormir.
Eu não consegui dormir direito, acordei várias vezes durante a noite (o que seria bem ruim para mim, pois como estamos no verão os dias são bem mais longos que as noites, e eu precisava descansar para mais um dia de treinos). Contudo, eu não conseguia parar de pensar no que Julian tinha me dito, será que eu realmente era parecida com a mãe de Hyoga? E se eu fosse, era por isso que ele me tratava tão bem? Isso não fazia o mínimo sentido droga, o que ele tinha, síndrome de Édipo?
Respirei fundo quando constatei a verdade, eu lembro de ter lido em algum lugar que Hyoga tinha síndrome de Édipo, se esse era o caso, será mesmo que eu sou parecida com a mãe dele? Será que todo esse tempo ele olha pra mim e vê a mãe dele? Isso explica o porquê dele sempre ter tanto cuidado comigo, droga eu tinha que descobrir se verdade ou enlouqueceria pensando nisso.
Quando decidi que não tinha mais jeito, resolvi me levantar e fazer minha higiene matinal, por fim desci sentindo o cheiro de café fresco, me dirigi a cozinha, onde os três rapazes estavam sentados. Hyoga me recebeu um sorriso singelo e puxou a cadeira vazia ao seu lado para eu me sentar, agradeci o gesto e sentei. Hoje ele vestia uma calça preta e uma regata azul, que davam destaque aos seus olhos, me senti esquentar com esse pensamento e olhei para os três a mesa, e desejei-lhe bom dia a todos envergonhada pela atenção excessiva. Depois disso eu comecei a me servir com umas frutas, nada pesado, e resolvi não pensar mais no que Julian me disse, pois já tinha me decidido que isso não me levaria a lugar algum.
–Hoje vocês irão treinar juntos! –Hyoga disse como se isso fosse a coisa mais normal do mundo, ao contrário da reação de todos. Jun se engasgou com o suco, Julian deu um pulo da cadeira horrorizado e eu travei no lugar.
–Você está de brincadeira não é Sensei? –perguntou Julian furioso.
–Não, a Alana pode muito bem treinar com vocês agora, sua maior dificuldade era dominar o cosmos, mais agora ela já aprendeu a controla-lo. –ele respondeu calmamente. –Consequentemente para o próximo passo ela precisa aprender a usar sua força em batalha, e isso ela só vai aprender treinando com vocês.
–Mais Sensei, nós podemos machuca-la, ainda é difícil para nós controlarmos nossas energias durante uma luta. –argumentou Jun. -Nada contra você Alana, eu só fico preocupado com sua segurança. -ele tratou de se explicar e eu sorri para ele, eu entendi perfeitamente sua preocupação e em momento algum discordava de suas palavras.
–Lembre-se que eu estarei lá para ajuda-lós, eu não colocaria ela em risco desnecessário. –ele falou se levantando e colocando os pratos na pia como se desse o assunto por encerrado, e se dirigiu a saída da cozinha. –Vamos treinar na Floresta de Coníferas e iremos acampar por lá, então preparem o necessário. -sentenciou.
–Sim Sensei. –eles responderam em uníssono se levantando, eu ainda fiquei uns segundos parada até que Jun percebeu.
–Você está assustada? –eu pisquei quando ele colocou a mão em meu ombro.
–Não. –respondi num sussurro.
–Não se preocupe, vamos tomar cuidado dobrado com você, e acredito que o sensei quer mesmo é mostrar a floresta para você, é um lugar lindo nessa época do ano, acho que ele está preocupado por você não vê nada além de neve, ele deve esta querendo te mostrar o que há de melhor por aqui. –ele falou amavelmente e saiu.
–Fale por você Jun, eu bem que poderia sem querer bater um pouco mais forte. –falou Julian ainda furioso me assustando, e então saiu da cozinha.
Eu retirei da mesa o que sobrou do café da manhã e fui a pia para lavar a louça, depois subi para o meu quarto e dentro de uma mochila coloquei roupa e artigos para higiene, bem como lençóis para me cobrir a noite e por fim desci. E encontrei Hyoga sozinho na frente de casa.
–Teremos de correr para chegar lá, eu levarei você, e os mandei na frente para preparar o acampamento. –ele veio em minha direção, e me colocou no colo.
–Vai demorar para chegar lá?
–Uma hora mais ou menos, descanse você me parece cansada.
Eu evitei olha-lo, a conversa com Julian sobre minha fisionomia ser parecida com a mãe dele ainda rondava meus pensamentos, então apenas me encolhi em seus braços e me deixei ser carregada por ele. Já estava tão acostumada com isso que já me sentia familiarmente confortável ali.
Eu acabei realmente dormindo durante o trajeto, aquele vento gelado em meu rosto enquanto eu era envolvida por aquele corpo quente, era a mistura perfeita para um sono maravilhoso.
–Alana!... Ei pequena acorde, nós chegamos. –Hyoga sussurrou com aquela voz grossa e máscula no meu ouvido, e eu me arrepiei toda enquanto passava a mão nos olhos. –Bem vinda a floresta Conífera ou como alguns a conhece, floresta boreal.
Hyoga me colocou no chão, e eu me assustei com a beleza daquele lugar, havia uma bela floresta de pinheiros, e um grande espaço com grama baixa, e nosso acampamento estava montado do lado de um pequeno rio que mais parecia um córrego. Ao longe eu podia ver montanhas e picos gelados, e o sol banhava nossas peles e mesmo com o frio eu me senti feliz, então corri para a grama para me divertir.
–Parece até uma criança brincando na grama. –disse Julian azedo, e eu estirei língua para este o que fez os outros dois rirem.
–Venha Alana vamos começar. –disse Hyoga.
–Certo.
Fomos os quatro para o outro lado do córrego, e caminhamos para uma parte mais plana, ficando um pouco longe de onde acamparíamos, mais ainda conseguíamos ver as 2 barracas montadas. Hyoga parou no meio de uma clareira, e nos olhou, ficamos os três juntos, com Jun no meio.
–Vamos primeiro treinar defesa pessoal, nada de usar a força e nem rapidez, apenas suas forças normais. –ele falou se afastando. –Julian quero que você tente derrubar a Alana.
Julian sorriu sadicamente e se posicionou a minha frente, enquanto Jun se afastou com Hyoga, eu fiquei em posição de defesa.
–Agora sim eu estou animado!.... Cuidado princesa, eu posso te quebrar quando te derrubar. –ele parecia estar adorando cada momento daquilo.
Julian começou a andar ao meu redor, como se procurasse uma brecha em minha defesa, coisa que não era verdade, pois tinha certeza que com qualquer movimento ele poderia me derrubar, ele estava apenas aproveitando o momento, como se tentasse prolonga-lo ao máximo. Eu respirei fundo e fiquei calma, eu sabia o que fazer, só precisava esperar ele vir.
Ele veio pela frente e eu me afastei para o lado e coloquei o pé para ele tropeçar, e este tropeçou e quase caiu, mais se equilibrou e veio me atacar por trás, então eu peguei seu braço e dei-lhe um balão. Pude ouvir as risadas de Hyoga e Jun.
–Eu achei que você tinha dito de que poderia quebra-la..... mais acho que ela que vai te quebrar Julian. –Jun falava entre as risadas.
–Acho que você não entendeu quando eu disse que era para tentar derruba-la. –falou Hyoga rindo. –Diferente de você que treina a seis anos, a Alana treina desde os 2 anos de idade, foi uma das exigências de meu mestre para a educação dela, e a mãe dela fez questão de cumprir.
–Meu pai que pediu? Droga, por isso que minha mãe nunca me deixava faltar a um treino. –eu falei feliz, era verdade que desde os meus 2 anos eu treinava kong fu, mais também treinei capoeira e karatê.
Julian estava emburrado, este ainda tentou mais umas cinco vezes me derrubar de forma diferente, mais ele sempre acabava no chão, enquanto Jun e Hyoga riam de se acabar, até que ele levantou com raiva e num piscar de olhos Hyoga estava na minha frente segurando a mão de Julian que estava a poucos centímetros do meu rosto.
–Eu disse que não era para usar força nem velocidade além do normal, e também que era só para derruba-lá, se você não consegue se controlar com uma garota, como quer se tornar um cavaleiro?- -falou Hyoga, ele emanava uma áurea que me dava medo, e eu senti tudo gelar.
–Tsc. –Julian puxou sua mão da de Hyoga e saiu com raiva.
Eu pisquei algumas vezes para tentar entender o que estava acontecendo, Julian realmente iria me bater?

"Filha, ele iria te quebrar!" -disse minha consciência.

Hyoga tinha me defendido, e estava puto com o comportamento de Julian. Jun se aproximava de mim e eu o vi tomar todo o cuidado para isso, e só então percebi que o chão ao nosso redor estava congelado, e olhei para Hyoga.
–Ela está bem, vá falar com seu irmão, e coloque algum juízo na cabeça dele. –Jun me olhou e eu afirmei com a cabeça, então ele se virou e foi falar com o irmão, me deixando sozinha com Hyoga.
Ele se virou para mim e eu o olhei ele parecia estar com muita raiva, mais suspirou e me abraçou.
–Obrigado. –eu falei e senti os músculos dele relaxarem, então ele colocou a cabeça em meu ombro e eu senti como se ele me cheirasse, o que me fez arrepiar toda.
–Me desculpe por coloca-lá em tamanho perigo, eu não achei que ele fosse se descontrolar daquela forma, mais ele precisava aprender que as coisas nem sempre são o que parecem. –ele falava tão baixo no meu ouvido que eu podia ouvir meu coração acelerado. -A vida de um cavaleiro é cheia de surpresas, ele tem que aprender sobre os diversos tipos de oponente e é minha obrigação como seu mestre prepara-ló para isso.
–Tudo bem, foi divertido. –eu rir, realmente tinha sido muito legal.
–Não ria, ele quase te machucou de verdade. –ele me abraçou mais forte e nossos corpos colaram.
–Mais você me protegeu como sempre. –eu enlacei meus braços em sua cintura e ele se afastou apenas o suficiente para me olhar sem deixar de me abraçar. –Em nenhum momento eu tive medo, por que eu sabia que você estava observando tudo.
–Eu sempre vou protege-lá pequena.
–Eu sei. –sorri e ele sorriu também, e este começou a alisar minha bochecha.
Depois de um tempo voltamos ao acampamento, e os rapazes já preparavam o almoço, o resto do dia foi tranquilo, Jun e Julian treinaram juntos, e depois de jantarmos na clareira eu fui lavar a louca, e do nada Julian se aproximou e mim.
–Me desculpe por me descontrolar. -ele parecia ter ensaiado aquela frase, e eu acabei rindo, mas logo respondi antes que ele ficasse com mais raiva de mim.
-Tudo bem, a culpa foi minha, eu deveria ter deixado você me derrubar. –mordi o lábio para não gargalhar, eu não podia perder a chance né?!
–Hora sua... –ele me olhou e acabou rindo também. –Eu ganharei na próxima.
–Estarei ansiosa por isso. –e com isso ele se afastou.
Tomei um banho um pouco mais longe de onde estávamos, mais eu sabia que Hyoga estava de olho em qualquer movimento, mais quem em sã consciência iria aparecer ali? Então depois de um maravilhoso banho de cuia (ninguém merece), eu voltei para nosso acampamento.
Conversamos um pouco e depois nos dirigimos para nossas respectivas tendas, e só aí me dei conta de que haviam apenas 2 tendas, e Jun e Julian se dirigiam para uma, o que me deixava com Hyoga na outra, então eu engoli em seco.

"Doida para tirar uma casquinha"

-"Calada consciência maldita"-respirei fundo me dirigindo a entrada.

–Não durma agora, tem algo que eu quero te mostrar. –Hyoga me falou animado.
–Sério, e o que seria? –me virei curiosa.
Ele me colocou no colo sem mais nem menos (como fazia sempre), e começou a correr sem me falar nada. Paramos no topo de uma montanha, e nossa como fazia frio ali, eu estava cansada por ter dormido pouco e não estava controlando direito meu cosmo. Me agarrei nele e este logo notou meu desconforto e me abraçou mais forte me aquecendo.
–Olhe para frente. –ele disse firme e eu assim o fiz.
Fiquei boquiaberta com tamanha beleza.

Eu sempre tinha visto em jornais, como aquele fenômeno era lindo, mais ver de perto era algo maravilhosamente surreal. O céu se tingia de várias cores, e na altura que estávamos parecia que eu podia tocar. Eu não tinha palavras para descrever tamanha beleza, eu estava me sentido realmente afortunada em poder ver de perto aquela beleza exótica que era a aurora boreal.
–É tudo tão fascinante. -sussurrei.
–Você gostou?
–Sim, muito obrigada. –eu levantei a cabeça o olhando, estávamos próximos demais, e eu não conseguia pensar, eu só queria beija-ló, e enfim tomei coragem, levantando um pouco os pés, e pude sentir quando trancou a respiração e pareceu se inclinar ao meu encontro, nossos olhos não se desgrudavam.
–Então essa é a bastarda de Camus? –me sobressaltei assustada com a voz de um homem que saia detrás das árvores de pinheiro existentes na montanha, sua áurea negra emanava fortemente demonstrando claramente que ele estava ali para lutar, e pela primeira vez na vida eu sabia que estava em perigo. –Ela parece mais gostosa de perto, mas claramente vou gostar ainda mais quando a fizer minha.

                                                                                                              ***

A filha de CamusOnde histórias criam vida. Descubra agora