Realidade!

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Abri meus olhos, e demorei para conseguir o foco através destes, meu corpo parecia mole, como se estivesse sido dopado, minha mente estava trabalhando mais devagar que o normal (mesmo para quem tinha acabado de despertar), mas ao olhar ao meu redor reconheci como meu quarto, eu sabia que deveria levantar logo, pois minha mãe viria trazer meu café da manhã. Projetei todo o meu tronco para frente, ficando assim sentada na cama, coloquei a mão no rosto e forcei a minha mente a trabalhar, à me lembrar do que eu deveria fazer hoje.

Num instante eu estava com preguiça de levantar, e no outro estava suando e com a respiração descompassada, virei de um lado para o outro desesperada a procura de alguma informação, mais tudo aqui me indicava que aquilo tudo não havia passado de um sonho, pois aquele era o meu quarto, o quarto onde eu havia crescido, onde minha mãe sempre me colocava para dormir, onde Hyoga nunca esteve.

Ainda em desespero coloquei a mão entre as pernas em uma procura louca, e um desejo infundado de que ali eu encontraria as respostas para tudo. Ao encostar minha mão naquele local percebi que usava um absorvente, eu congelei, não respirava mais, e nesse instante o trinco da porta de meu quarto foi aberto como uma resposta dos Deuses as minhas dúvidas, eu tinha certeza que dali viria todas as minhas respostas, seja quem fosse que entrasse.

Hyoga abriu a porta e antes mesmo de atravessa-lá seus olhos focaram nos meus, e este estancou, já minha reação não foi das melhores, um medo súbito se apoderou de mim e eu me encolhi toda me abraçando, como se meus braços pudessem me proteger do mundo. Ele vendo minha reação começou a se mover, entrou e fechou a porta, e foi se aproximando de mim, em seu belo rosto estava uma mascara indecifrável de seus pensamentos. Ele esticou a mão para me tocar e eu tremi de medo e me encolhi ainda mais, mesmo sendo ele eu me sentia suja, eu tinha nojo de mim mesma, meu estômago começou a embrulhar, eu virei para o lado e coloquei para fora algo que eu nem queria imaginar o que era.

Ele esperou que eu acabasse, que colocasse tudo para fora, seu rosto ainda naquela mesma mascara, e quando acabei ele veio em minha direção, pouco se importando com o chão cheio de vomito, ele iria me ajudar a levantar. Eu me desesperei novamente.

–Fique... longe... de mim. -as lágrimas em meu rosto eram de puro desespero e medo. E ele por um segundo pareceu ponderar suas ações, mas antes que eu concluísse esse pensamento ele me puxou pelo braço e me colocou no colo. Eu lutei, esperneie e gritei para que ele me soltasse, medo, angustia, nojo, desespero, todos aqueles sentimentos ruins se misturavam em mim.

Hyoga saiu comigo nos braços não dando a miníma atenção aos meus protestos, abriu a porta do meu quarto e me levou em direção ao banheiro social da casa, lá me colocou sentada no vaso, me olhou sério como quem diz a uma criança para ficar parada, e saiu de lá, eu ainda tremia e chorava copiosamente.

Toda a minha vida estava acabada, o que seria de mim agora, eu não tinha coragem de olha-ló nos olhos, eu não tinha coragem de me olhar, na verdade tudo o que eu sentia por mim era nojo e repulsa, olhei para o chuveiro e tive vontade de tomar um banho e esfregar meu corpo onde aquele maldito me tocou, mas tenho plena consciência que mesmo se esfregasse até minha alma, ainda não seria o suficiente, pois corpo e alma tinham sido maculados por aquele imundo.

Não havia mais uma razão na minha vida, eu tinha vergonha de ser o que eu agora era, em agonia olhei ao redor e vi a farmacinha, a abri, e lá encontrei uma cartela de remédios para dormir (minha mãe dava plantão e as vezes tinha problemas para regular o sono, então ela tomava um de vez em quando para ajudá-la a descansar), peguei os remédios e comecei a tirar de suas capsulas o mais rápido que podia não sei quantos tinham ali, só sei que no desespero joguei tudo de uma vez na boca e tentei engoli-los todos. Comecei a me engasgar, e foi nessa hora que ele entrou e olhou da minha mão com a cartela de remédios para mim, que ainda estava engasgada.

A filha de CamusOnde histórias criam vida. Descubra agora