Diário de Hyoga! Parte 1

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 Olhos grandes, castanhos e curiosos me observavam (da mesma forma que eu fazia), e diferente do que eu tinha imaginado ela veio até mim. Subiu com certa dificuldade no sofá e sentou comportadamente do meu lado esquerdo, e virou o rosto me encarando em desafio, tive uma enorme vontade de rir (como Mu a minha direita já fazia discretamente), ela era muito petulante para uma criança de três anos.

"Ela é bem diferente do que você imagina Hyoga, você vai se surpreender" –a lembrança de horas atrás com Mu tentando me preparar para este momento.

-Mamy me falou que você é meu paid.. pain... –ela tentava lembrar a palavra.

-Padrinho, eu sou seu padrinho. –ela balançou a cabeça afirmando e seus cachos castanhos caíram em cascata por seu rosto redondo.

-O que é isso? –ela me olhava curiosa e se não fosse tão pequena eu poderia jurar que me estudava. –É tipo um pai? –talvez ela tenha associado a palavra, ou fosse só uma forma de tentar entender, mas ao me lembrar do pai dela eu tratei de ficar mais sério, não podia deixar os sentimentos de perda me dominarem. –Porque eu já tenho um pai.

-Não, não como pai, é mais como uma pessoa que sempre vai te proteger. –tentei explicar.

-Hunnnn. –ela ficou pensativa. –Isso quer dizer que você me ama? –eu fiquei sem reação e Lyana que estava a nossa frente e até então estava triste tratou de dar um breve sorriso, diferente de Mu ao meu lado que estava se remexendo, provavelmente se segurando para não gargalhar. –Mamy me disse que sempre protegemos quem amamos. –ô, agora entendi o ponto, quase deixei escapar um suspiro de alívio.

-Há sim, é mais ou menos isso. –tentei não acabar com aquela inocência infantil, meus motivos para protege-la eram tudo menos inocentes.

Ela levantou ficando em pé no sofá, e veio até mim, ficando parcialmente da minha altura, e estendeu os bracinhos pedindo colo. Eu a peguei e ela deu um sorriso bobo, então me levantei do sofá com ela em meus braços, ela ainda ria, e estava tão quentinha, ainda com aquele cheiro de bebê. Isso acalmou meu íntimo, como se aplacasse um pouco a dor em meu coração, e então ela colocou suas mãozinhas em meu rosto me fazendo olhar dentro de seus olhos castanhos.

-Então eu também amarei você padrio. –por um momento eu pude jurar que senti sua energia através de suas mãos em meu rosto, uma energia quente e calorosa, tão diferente da minha e do seu verdadeiro pai.

Eu não sabia o que dizer a ela, então apenas sorri-lhe, com a certeza de que eu a protegeria de tudo e de todos. Aquela criança era minha última missão de vida, e eu a cumpriria com prazer.

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Passaram-se 4 anos desde que eu vim morar no Brasil, com a desculpa de estudar em um lugar que não chamasse tanta atenção. Agora com 18 anos eu estou terminando o ensino médio, e moro em um apartamento bem próximo da casa dos pais de Lyana (ela ainda mora com os pais por causa dos plantões no hospital), podendo assim sempre ficar de olho na Alana.

E por falar na minha protegida (que agora tem 7 anos, e é mais traquina do que qualquer moleque de sua rua), está na hora de eu passar na rua de sua casa. Não estranho ao ver enquanto subia a rua ela pendurada no pé de goiaba de sua residência. Lembro da primeira vez que ela subiu, tive de usar todo meu alto controle para não correr e tira-lá de lá, pois ela só tinha pouco mais de 5 anos. Mas graças a Atena nada aconteceu, e hoje a cena já é tão comum que eu mesmo já cansei de me perguntar se ela tem parentes macacos, pois vive pulando nos muros dos vizinhos e nas árvores deles. Acho que ela tem sorte de João Pessoa ser uma cidade tão arborizada.

A filha de CamusOnde histórias criam vida. Descubra agora