Uma nova eu?

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Acordei atordoada, uma leve dor de cabeça e junto com ela uma dor fina na coluna, nada insuportável como antes, apenas incômodo.

Enquanto levantava da cama, eu olhava ao redor, não conhecia aquele lugar. Além da cama o quarto possuía um guarda-roupa de casal em tom azul claro e uma cômoda de mogno com espelho, bem como uma escrivaninha com notebook em cima, ao lado dele pude perceber que havia uma folha em cima com algo escrito.

Estava fazendo um friozinho, mais nada insuportável, eu percebi que ainda trajava o manto preto pois ele estava cobrindo meu rosto dificultando minha visão, então resolvi tirá-lo e foi nesse momento que percebi que ainda usava roupas de dormir.

Sai da cama e ao colocar o pé no chão percebi que o piso era de madeira, mais este não estava frio, estava inesperadamente quente, comecei a perceber que o frio inicial havia passado. E assim como o piso, as paredes também eram de madeira, dando um ar simplório ao quarto.

Me dirigi ao guarda-roupa e ao abrir a primeira porta, percebi que ali haviam várias roupas minhas, então peguei a primeira que pus a mão, vesti uma calça preta de linho e uma regatinha da mesma cor, demorei algum tempo me vestindo por causa do incomodo nas costas.

Após me vestir por curiosidade fui até a escrivaninha e peguei a folha, nela havia um recado para mim.

"Espero que continue escrevendo, você trás sonhos e esperanças para todos com suas histórias" Alexei Hyoga Yukida...

Sorri com aquilo, então quer dizer que ele tinha lido meus livros e tinha gostado, isso me deixava muito feliz, resolvi por fim que era hora de sair do quarto, mais antes fui até a cômoda me olhar no espelho, para vê como estava meu cabelo, mesmo solto e com chapinha esse era rebelde. Foi ai que notei a cor deste, estava loiro, eu não podia acreditar que tinham pintado meu cabelo.

–Sério isso, uma morena de cabelo loiro, não, não, não ... –eu falava comigo mesma, enquanto quase corria para atravessar o pequeno quarto em direção ao espelho.

–KYAAAAAAAAAAAAAAA... –o que eu vi refletido no espelho me fez gritar como se não houvesse amanhã.

–Alana o que hou... Mãe?! -Hyoga quase arrombou a porta do meu quarto para entrar tamanho era seu desespero, mais ao me vê esse ficou branco como papel, e se segurou na parede para não cair.

–O que aconteceu comigo? –Hyoga que estava com cara de quem viu um fantasma, ao ouvir minha voz de desespero começou a se recuperar.

–Alana, é... Você deve está assustada não é? –ele despregou da parede e começou a caminhar em minha direção, eu corri por puro desespero e agarrei nele, eu só queria chorar, tudo estava muito louco agora, ele me abraçou forte, e foi nesse momento que percebi que estava tremendo . –Não se preocupe, eu estou aqui...

Eu imagino que é normal está assim, qualquer pessoa ficaria no mesmo estado em que eu estou agora, não? Não, eu não surtei por ter sido traída pelo cara que eu amei por anos e pelo qual escrevi estórias inspiradas nele (e olha que qualquer um surtaria por isso), não. Não surtei por descobrir que meu pai era um cavaleiro (é talvez um pouco), e que ele e minha mãe não ficaram juntos por que eu nasci. Não surtei ao descobrir que estava em perigo e que deveria a partir daquele momento morar com um cara super gato (pra não dizer lido, maravilhoso, gostoso, deus de ébano, tá bom parei hehehe), que descobri ser não só meu padrinho como este era o próprio Hyoga também um poderoso cavaleiro. Mas ao me olhar no espelho e vê que não só meu cabelo havia mudado de cor, como meus olhos e minha pela também haviam mudado, sério quem em sã consciência não surtaria?!

Minha pele antes morena, agora era tão branca que eu podia vê varias veias do meu corpo, minhas bochechas haviam tomado um tom rosado, e meus lábios estavam tão vermelhos que parecia que eu havia colocado batom, meu cabelo tinha ficado em um tom loiro que beirava o branco, mais nada me surpreendeu como a cor de meus olhos, eram de um azul tão claro que parecia cristalino. Será que eu havia herdado essa cor de olhos do meu pai, os olhos da minha mãe que sempre me invejaram eram verde musgo.

No começo eu chorei por está assustada, mais depois continuei chorando por tudo o que havia me acontecido, mais nesse momento eu estava chorando por não ter conhecido meu pai. Não que Alan tenha sido um mau pai para mim, só tenho boas lembranças dele, mais ele morreu em um acidente de moto quando eu tinha 9 anos, dessa forma eu só tenho poucas lembranças dele.

Em nenhum momento Hyoga falou nada, apenas continuou abraçado comigo, alisando meu cabelo, como se me ninasse.

–Desculpe eu fiquei assustada ao me vê no espelho, aquele reflexo não era eu, não a eu que vi refletida nos últimos 18 anos. –eu me separei do seu abraço enquanto falava, e olhei em seus olhos. –Mais agora estou bem, obrigado. Só estou me sentindo triste, na verdade, perdida seria a palavra correta para me definir agora, quem eu sou? Toda a minha vida foi uma grande mentira? –comecei a rir, um riso triste. –Eu nem conheci meu verdadeiro pai, e agora provavelmente ninguém me conhece.

Nesse momento me senti realmente desesperada, pois agora eu estava diferente, ninguém me reconheceria, como eu iria continuar com minha carreira agora? Não, ficar desesperada não resolveria nada, eu precisava me acalmar, tudo parece pior quando ficamos desesperados, eu resolvi respirar fundo para me acalmar. Olhei para Hyoga novamente em busca de apoio, e este me sorria de forma acolhedora e isso foi me ajudado a ficar mais calma.

Ele se aproximou de mim novamente e limpou meu rosto molhado, depois segurou minhas mãos entre as dele, e suas mãos eram inesperadamente quente, o que fez-me aquecer por completo.

Cá entre nós, sempre imaginei que um cavaleiro treinado na Sibéria possuiria um corpo mais frio que as outras pessoas, nunca estive tão enganada na vida, pois Hyoga acabou de me mostrar como eu estava errada.

–Agora entendo o por quê do meu mestre ter lhe dado o nome de Aqua. –ele falou alisando minha bochecha me tirando dos meus antigos pensamentos. –Seus olhos tem o tom azul claro das águas do mar tropical. São parecidos com os dele, um pouco mais claros apenas, na verdade posso dizer que os seus tem um tom únicos, são os mais lindos que eu já vi.

Eu posso jurar que pela primeira vez na vida (com minha pele atual, claro), eu havia corado na forma de pimentão maduro. Ao me vê corando daquela forma, ele riu abertamente me contagiando, e eu acabei sorrindo também.

–Entenda Alana, quem você é, não é decidido pela cor da sua pele, nem cabelo, muito menos pelos seus olhos.. –ele agora estava sério, me olhava profundamente nos olhos, me deixando sem reação. –Quem você é, ou quem você será de hoje em diante é decisão sua, nada nem ninguém além de você pode te mudar, suas decisões, e suas lembranças são o que te torna você, a você de hoje e sempre, você entende o que quero dizer?

–Mas Hyoga, e meus amigos e família, meus fãs, como eles irão lembrar-se de mim? –eu não poderia ser eu, se ninguém se lembrasse de mim, poderia?

Eu estava calma, agora eu só queria entender a situação em que eu me encontrava para melhor achar uma solução para tudo aquilo. Ele me sorriu novamente e passou a mão no meu cabelo bagunçando-o.

–O feitiço foi feito para que quando ele fosse desfeito todos os humanos normais lembrassem de você como você é agora, então não se preocupe com isso, para as outras pessoas você sempre teve essa aparência. –explicou-me ele. Hyoga e a dizer algo mais, mas eu o interrompi curiosa.

–Sério, então porque eu me lembro da minha antiga aparência?

–kkkkkkkkkkkk

–O que é tão engraçado? –ele riu de se dobrar, como se eu tivesse feito uma piada engraçada.

–Você não entendeu não é? – eu fiz que não com a cabeça, eu esperei ele se recuperar da crise de riso, e por fim ele voltou a falar. –Você é filha de Camus, o cavaleiro de ouro de Aquário, logo você não é uma humana normal.

Ele me explicava, como se falasse com uma criança que não enxergava o óbvio, mais eu realmente não sabia o que ele queria dizer com aquilo.

–Entenda Alana, não era qualquer cavaleiro, não um de bronze ou prata, mais um de ouro, aqueles que entre todos detém os maiores poderes que qualquer humano pode ter, é quase um poder de um Deus, o poder para enfrentar um Deus. –ele continuava segurando minha mão, só que agora Hyoga começou a me puxar, ele abriu a porta e começou a sair do quarto comigo. – O feitiço de Mu não era só para mudar sua aparência, mais era principalmente para suprimir seus poderes, meu mestre queria que você tivesse uma vida normal o máximo de tempo possível.

                                                                                                            ***

A filha de CamusOnde histórias criam vida. Descubra agora