birds

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E aqui estou novamente. Esperando e esperando minha vez nessa dura cadeira de plástico a qual eu já me acostumei a sentar. Esperando.

Você acha isso irônico, Harry? Eu estar aqui sentado, tentando ficar calmo e me controlando para não ir até a sua casa e dizer tudo o que eu preciso, enquanto sabe lá Deus o que você está fazendo?

Eu só queria fazer com que esses meses passassem mais rápido, e que esse peso de cima do meu estômago fosse retirado. Esclarecer tudo para você. Mas, não, eu não posso. E sabe por quê? Por que dessa vez, não é apenas eu quem está estressado. Você também está. Isso é novo e me preocupa, pois não sei se consigo te acalmar da forma que você faz comigo.

Eu decidi qual tatuagem fazer hoje. É, na verdade, a mais simples até agora.

— Que merda é essa? — Você me perguntou, puxando o livro de Artes para mais perto dos seus olhos.

— Van Gogh, Harry, Van Gogh.

— Eu sei ler! Mas, por que ele está com esse pano na cabeça?!

— Você não sabe? Ele brigou com um amigo dele, teve um surto e cortou a própria orelha.

— E o que ele fez com aquilo? — Referiu-se à orelha cortada.

— Deu a uma prostituta.

— Por quê? — A cada fato, você parecia ficar mais chocado.

— Não se questiona os gênios, Harry.

— Acho que seu conceito de "gênio" é bem diferente do meu.

— E qual seria o seu? Seria um de seus patéticos companheiros de cerveja, os quais você chama de "amigos"?

— Eu ia dizer Einstein. — Você respondeu-me um pouco constrangido. Talvez surpreso pela minha resposta.

Eu que definitivamente não sou o gênio da história toda. Preferi então, me manter calado.

Você continuou a passar as páginas, até parar em uma foto que lhe chamou a atenção.

Campo de trigo com corvos.

— Essa é até legal — e mais uma vez você tenta aliviar um dos momentos tensos que meu temperamento estressado cria. Desculpa.

— É... — Senti-me envergonhado pelo o que falei dos seus amigos. Eu não queria dizer aquilo, okay? É só que alguns comportamentos deles me tiram do sério, como por exemplo...

Tomar você de mim.

— Imagino a situação que ele deve ter criado em sua cabeça para pintar esse quadro. É como se os corvos fossem as trevas, engolindo pouco a pouco o trigo. E apesar disso, é como se o trigo não ligasse. É como se ele quisesse, precisasse, e na verdade, não se importasse nem um pouco do que estava chegando. Talvez ele só quisesse se divertir um pouco — você levantou seus olhos para mim por um momento e depois voltou a encarar a página do livro.

— Ele era louco, Harry.

— Não dizem que todos os gênios são loucos? — E lá estava eu, com um sorriso bobo no rosto.

O professor chegou e todo o nosso barato acabou.

Tivemos que voltar várias páginas e começar a estudar um assunto qualquer, o qual eu não estava nem um pouco interessado.

Eu queria destacar uma coisa, Harry. Algo que você deve saber.

Acredito que nunca tenha notado, mas você é uma das únicas pessoas que possui as palavras certas na ponta da língua para me acalmar. Ou me tirar do sério. E isso, é um poder. Um dom.

Deixar-te saber disso não é bom para mim, pelo contrário; estou lhe fazendo um favor ao te contar. Mas, eu não ligo que você volte a usá-las contra mim.

Você decifrou o motivo pelo qual eu irei tatuar os corvos no braço? Ou melhor, o porquê de uma mísera aula de Artes possuir tanta importância para mim? A resposta de tudo é fácil, Harry. Além de todo momento contigo ser precioso, você literalmente reviu sua opinião sobre Van Gogh, apenas pela besteira que eu falei. E isso é uma das coisas que eu mais amo na sua personalidade. Você odeia ver as pessoas ao seu redor decepcionadas. Então, me desculpa por te decepcionar.

Eu tenho que terminar por hoje. Minha sessão já vai começar, mas Harry, eu estou ficando mais louco a cada dia que passa... E não, isso não me torna um gênio.

De qualquer maneira, acabei de me animar um pouco. Essa memória fez com que eu percebesse que, se eu desse uma de Van Gogh, e lhe mandasse minha orelha...

Você a aceitaria, apenas para não me ver decepcionado.

36 REASONS (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora