quem brinca com fogo...

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Assim que o carro parou, desci rapidamente dele, correndo até a porta da floricultura. Não havia ninguém nos bancos do jardim, onde as meninas costumavam ficar brincando. Aquilo era aterrorizante; e se tiver acontecido alguma coisa com elas?

Bati na porta várias vezes até ouvir um "Quem é?".

— Louis! — A porta se abriu e eu me deparei com um policial. Ele deve ter percebido minha cara de espanto, por isso disse que eu deveria ficar calmo. E que precisava conversar comigo.

Nesse segundo eu estava tão assustado que praticamente pulei quando senti a mão de Harry no meu ombro. Por ele ser da família, o policial permitiu que ele ficasse.

— Aconteceu um acidente hoje na sua casa. O seu pai saiu para comprar algumas coisas e deixou sua mãe e suas duas irmãs dormindo em casa. De alguma forma, ainda estamos investigando o motivo, surgiram chamas que se espalharam por toda a casa, causando um incêndio de altíssimas proporções.

— Como... Como elas estão? — Percebi só agora meu pai sentado em uma das poltronas de lá, em choque. Ele mal levantava a cabeça.

— Um médico já veio aqui dar uma conferida nelas, e tudo está bem. Só precisam descansar agora.

A ideia de que eu poderia perdê-las me causou uma dor enorme. Mas eu tentei ser forte. Tentei manter a cabeça fria e pensar sobre aquilo.

Obviamente não fora um acidente. Elas estavam dormindo. Alguém tentara machucá-las.

— Eu tenho algo que pode ser uma pista. — Peguei meu celular do bolso e mostrei a mensagem que havia recebido mais cedo.

— "Quem brinca com fogo, acaba se queimando", essa mensagem é bastante importante. Provavelmente o primeiro passo para começarmos a pensar que talvez possa não ter sido um simples acidente. A sua família possui inimigos, Louis?

— Não a minha família. Mas, eu... Penso em alguém.

— Você poderia me dar o máximo de detalhes possíveis? — Concordei que sim.

— Tem uma garota no meu colégio que talvez possa ser capaz de ter feito tal ato...

(...)

No primeiro andar da floricultura, havia dois quartos e um banheiro, visto que passávamos muito tempo lá e às vezes era mais fácil simplesmente dormirmos ali mesmo.

E no maior quarto era onde estava minha mãe e minhas irmãs; para onde eu estava indo agora.

Encontrei-as deitadas, mas apenas as gêmeas dormindo.

— Mãe? — Chamei-lhe vagarosamente.

— Louis! — Um sorriso singelo estava no seu rosto.

— Como a senhora está? — Sentei-me na ponta da cama, segurando sua mão.

— Melhor agora.

— Me desculpe por isso ter acontecido, eu não imaginei que as coisas iriam a tal ponto... Eu suspeito que alguém possa ter feito isso com vocês. — Ela não pareceu tão surpresa.

— O seu pai disse que não tinha certeza se havia realmente fechado a porta ao sair. Pode ser que alguém tenha entrado... Mas não consigo enxergar um motivo para tudo isso.

E então pela primeira vez eu lhe contei tudo. Tudo o que havia acontecido nesses últimos anos.

— Se essa garota realmente tiver feito isso, irão descobrir, querido...

— A senhora se lembra de alguma coisa?

— Na verdade não... Eu realmente peguei no sono. Se a Mabel não tivesse me acordado, tudo seria mil vezes pior. Ela não parava de miar e depois de um tempo começou a lamber o meu rosto até que eu percebesse o cheiro forte de fumaça que já estava adentrando os quartos. Eu fui atrás das meninas e ficamos do lado de fora, enquanto os bombeiros começaram a apagar o fogo. Até que decidimos que seria melhor ficar por aqui.

Passei o resto da tarde conferindo se elas precisavam de algo, se eu poderia ajudar de alguma forma. Depois de me certificar de que estava tudo bem, fiquei no jardim com Harry.

O sol já começara a se pôr agora, e eu estava com a cabeça encostada em seu ombro.

— Louis, fica um pouco mais reto, por favor... — Olhei-o, confuso, mas obedeci. Percebi que sua mão estava nas minhas costas agora, mas havia algo nela. Eu conseguia sentir um objeto duro.

— O que foi?

— Espera. Só... Disfarça. — E ele passou a mão no meu rosto e sorriu para mim. Controlei minha curiosidade ao máximo para não simplesmente virar e ver o que ele estava escondendo atrás das minhas costas.

Ele estava tenso, com seu maxilar travado. Ok, aquilo estava me preocupando.

Harry desencostou o objeto vagarosamente das minhas costas e se inclinou para sussurrar algo no meu ouvido.

— Taylor está aqui. — Foi a única coisa que ele disse.

Era melhor que não falássemos agora, levantar o mínimo de suspeitas.

Os minutos, que pareceram eternos, finalmente se passaram e logo pudemos ouvir um barulho de sirene adentrar a rua.

Mantive minha cabeça baixa, mas Harry se levantou abruptamente e gritou um "Hey!"; quando olhei na direção em que ele estava olhando, a vi correndo.

Harry pegou impulso e começou a correr também atrás dela, antes de me mandar ficar ali. Os policiais viram a cena e perseguiram os dois, mandando que parassem.

Não consegui obedecê-lo e fui atrás, esforçando-me ao máximo para pelo menos mantê-los na minha área de visão. As pessoas da calçada paravam assustadas e algumas delas pegaram até seus celulares para filmar a cena.

Vi quando o último policial adentrou em uma rua menos movimentada e me obriguei a correr mais rápido. Assim que eu virei a esquina, eles já haviam conseguido parar a Taylor e estavam agora a segurando.

— Então essa é a suspeita? — O policial de mais cedo perguntou e eu e Harry dissemos que sim em uníssono.

— Vocês estão loucos, eu não tenho nada a ver com... — Ela percebeu que iria falar demais e parou.

— Pois eu acho que você tem tudo a ver. — Eles a examinaram e encontraram um pequeno isqueiro em seu bolso. — Mentir agora só vai ser pior, garota.

Um deles pegou o isqueiro e levou-o como evidência.

Eu e Harry assistimos Taylor entrar na viatura sem acreditar que havia sido tão fácil.

— O que será que ela pensou em vir fazer aqui? — Perguntei.

— Acho que eu nunca vou entender aquela garota. — Respondeu-me sem fôlego.

36 REASONS (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora