Capitulo 2

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— D... desculpe, eu chamei mas ninguém respondeu — gaguejou enquanto desviava o olhar.
— Você não respondeu.
— O que?
— O bolo.
— Ah... é sim. Minha avó que fez.
— Todos aqui no bairro são bonzinhos assim? — quis saber o jovem misterioso.
— Acho que não.
— Bem, agradeça ela por mim. Eu sou Jake.
— Luna.
— O que tem?
— Meu nome é Luna.
— Ah, como a lua. Lindo nome.
— Obrigada, já vou indo.
— Se quiser pode levar alguns livros, eu vi que você ficou hipnotizada por eles, e não é por menos.

— Existem livros muito raros aqui, bem difíceis de conseguir.
— Leve quantos quiser, encare isso como um agradecimento pelo bolo.
Luna não perdeu tempo e logo foi pegando vários dos livros enquanto Jake guardava o bolo na cozinha.
— Vou levar estes — ela os mostrou quando ele retornou.
— Tudo bem — ele a acompanhou até a porta. Uma senhora de idade passava pela rua quando avistou Jake só de toalha ao lado de Luna.
— Esses adolescentes de hoje em dia — balançou a cabeça negativamente enquanto seguia seu caminho.
— Só estávamos conversando — disse Jake em voz alta enquanto Luna seguia para sua casa abraçada aos livros. Sua avó estava na sala assistindo TV ao mesmo tempo que cortava alguns legumes para o almoço.

— Onde conseguiu esses livros? — ela ficou curiosa.
— O vizinho me emprestou em agradecimento pelo bolo que a senhora fez para ele.
— Quantos estão morando lá?
— Só vi um. Seu nome é Jake e ele aparenta ser bem jovem.
Luna subiu para o quarto e guardou os livros, olhou-se no espelho e por algum motivo fez algumas caretas. Ficou ali por algum tempo escolhendo qual seria o melhor livro para começar a ler e escolheu um de romance, nada comum comparado aos seus gostos. Algum tempo depois sua avó a chamou para almoçar, ela desceu e foi direto para a cozinha. O cheiro da comida atiçou ainda mais a sua fome e logo voltou para a sala com o prato em mãos. Minutos depois alguém bateu na porta principal da casa.

— Abra para mim, Luna! — gritou sua avó de um dos andares de cima. Luna colocou o prato sobre o sofá e dirigiu-se até a porta, a abriu e era Jake.
— Isso é seu — ele a entregou a vasilha, agora vestia uma blusa preta e calça jeans, em sua cabeça havia uma touca preta com um pouco de seu cabelo negro escapando pela testa.
— Obrigada — ela agradeceu pegando a vasilha e ele saiu para a rua sem dizer mais nada.
— Quem era? — perguntou sua avó chegando na sala.
— O vizinho, ele veio trazer a vasilha do bolo.
Ambas voltaram para dentro e foram assistir TV, o tempo passou rápido e logo já era hora de Luna tomar seu banho para ir a escola.

Não gostava muito de estudar mas era preciso. Pegou sua roupa em seu quarto e foi para o banheiro. A água agradável tocando sua pele a fazia desejar ficar ali para sempre, pena que teve que sair. Vestiu o uniforme e sua calça, secou os cabelos e os penteou ali mesmo frente ao espelho do banheiro. Saiu para o corredor e subiu as escadas que levavam ao seu quarto, arrumou a mochila e colocou um dos livros que havia pegado com Jake. Voltou para baixo e se despediu de sua avó.

— Quer algum dinheiro?
— Não precisa, vovó — beijou sua bochecha e saiu para a rua. Agora tudo estava mais agitado e o sol ainda mais quente. Andou em meio as pessoas que iam e vinham até chegar perto ao ponto de ônibus. Se sentou, colocou os fones de ouvidos e ficou a espera. As aulas haviam voltado a quatro dias mas tudo estava como sempre, nenhuma mudança radical havia acontecido na escola. Os mesmos professores, os mesmos alunos, a mesma chatice de sempre. O ônibus chegou e ela embarcou. Sua companheira, Kathy, estava a sua espera em um dos assentos.

— Oi, Kathy — disse ela sentando-se.
— Oi, Luna — a amiga retribuiu com um sorriso. Seus cabelos loiros combinavam com seu lindo batom vermelho. Era a única garota que conversava com ela desde que se conheceram ainda no primário.
— Novidades? — Luna perguntou.
— Quase nenhuma e você?
— Arrumei alguns livros novos e raros — ambas amavam livros. Era sempre o assunto mais comentado entre ambas.
— Onde?
— Com o meu novo vizinho.
— Como ele é? — Kathy foi logo perguntando, era famosa por ser namoradeira e sempre conseguir os garotos que queria.
— Normal, alto, cabelo liso — Luna sorriu.

— Gato?
— Sim — respondeu meio tímida.
— E você só pegou os livros, sei.
— Foi constrangedor por que ele estava saindo do banho.
Kathy deu uma risada.
— A mocinha tímida está mostrando suas garras.
— Não é nada disso.
— Relaxa, Luna. Isso é normal, está na hora de você arrumar um namorado pra poder usar esse cofre aí entre as suas pernas.
— Pare com isso, alguém pode ouvir — ela olhou em todas as direções enquanto a amiga se divertia — esse tipo de garoto nunca se interessaria por mim.
Enquanto conversavam sobre o novo vizinho de Luna, o ônibus enchia cada vez mais durante a viagem e logo estavam perto a escola. O veículo parou e ambas desceram. Na estrada da escola havia uma bagunça infernal e elas seguiram para a porta principal. Ao entrarem deram de frente para dois corredores.
— Nos encontramos na saída — disse Luna.
— Onde vai?

— Preciso resolver algumas coisas com a diretora, baboseiras sobre os meus registros.
— Tudo bem então, te vejo depois.
Luna seguiu pelo corredor da direita e no final dele encontrava-se uma sala com a porta fechada. Ela bateu três vezes até ser respondida.
— Entre — disse uma voz feminina.
Ela abriu a porta, revelando o cenário seguinte e viu que a diretora entregava alguns papeis para alguém sentado na cadeira de costas para a porta.
— Oi, desculpe incomodar. Eu vim resolver os assuntos sobre os meus documentos da matrícula.
— Não é mais preciso, Luna. Apenas houve um engano no sistema, sua matricula está em dia.
— Ah, fico mais aliviada. Obrigada — ela se voltou para a porta.
— Luna — chamou a diretora.
— Sim.
— Este jovem está na mesma sala que você, poderia leva-lo para mim?
— Claro... sem problemas.
— Seja bem vindo — a diretora apertou a mão do sujeito que ainda estava de costas para Luna, ele levantou-se e enfim virou.
— Jake — disse ela o reconhecendo.

Meu Vizinho É Um DemônioOnde histórias criam vida. Descubra agora