Capitulo 13

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Jake agora servia vinho a Melanie, a bela ruiva com quem conversava antes.
— Então, não vai beber também? — ela perguntou.
— Sabe que eu não preciso.
— O que pretende com tudo isso, Jake?
— Isso?
— Sim — ela colocou a taça sobre a mesa de vidro — você não é assim, pelo que me lembro é impiedoso e trabalha para a escuridão.
— Ah, isso — ele sorriu — eles me traíram e agora eu vou impedir que o grande plano deles seja concretizado.
— E pretende exterminar todo o inferno? Por que até onde sei vão vir todos contra você.
— Talvez sim, talvez não. Quem sabe eu não guarde a carcaça de alguns para usar como tapete ou decoração.
— Impiedoso como sempre — ela sorriu.
— Não sou tão impiedoso assim, afinal eu salvei sua vida. Se lembra?
— Como eu poderia esquecer isso?


845 A.C


O sol do meio dia brilhava forte no céu enquanto vários aldeões arrastavam uma garota pelos cabelos, para perto de uma fogueira improvisada. Uma pequena multidão se reuniu aos poucos e começaram a gritar:

“Queimem a bruxa” “Adoradora de satã” “Criança possuída”

— Me solta — a menina se debatia.
— Cale a boca, pequeno demônio — um dos sujeitos deu um soco no rosto da garota.
— Que confusão é essa na minha aldeia? — Um homem barbudo saiu de uma grande casa feita de madeira, bambu e palha. Ao lado dele vieram outros dois com o mesmo porte fisico.
— Capturamos essa bruxinha perto a floresta, senhor.
— E como sabem que é uma bruxa?
— Ela estava fazendo algumas folhas levitarem e depois as queimou apenas com a força da mente — aquilo gerou um alvoroço ainda maior entre os aldeões presentes, uns ficaram com medo, outros  com ódio exigindo que queimassem logo a menina bruxa.
— Eu não tenho culpa de nascer com esses poderes — disse a garota tentando se soltar mais uma vez mas não conseguiu.

— Você tem pais, criança? — perguntou o líder da tribo.
— Sim.
— Onde estão?
— Não vou te falar.
— Se me contar eu vou até lá e os trago até aqui para que sejamos todos amigos.
— Amigos?
— Sim, menininha.
— Não vai nos machucar?
— Claro que não, onde vocês moram?
— Perto ao grande carvalho negro, depois do rio.
— Ótimo, encontrem eles e os matem também. Não permitirei que pessoas assim andem livres por ai — ele deu a ordem aos seus homens.
— Você disse que não os machucaria —  a menina berrou.
— Que pena, eu menti. Agora queimem ela.

Os demais a arrastaram e a amarraram em um tronco que estava no centro da fogueira apagada. Em seguida trouxeram mais madeira e mais palha para se certificarem de que o fogo fosse bem alto.
— Por favor, me soltem — pedia ela chorando enquanto alguns arremessavam pedras. Os demais riam e gritavam ofensas de todo tipo. Um dos aldeões saiu de sua cabana trazendo uma tocha acesa para dar início as chamas que queimariam a garota.
— Ah, encontraram a minha irmã — Gritou Jake chegando ao local fazendo todos se virarem para trás.
— Essa criatura é sua irmã? — Perguntou um dos homens armados com uma lança de madeira.

— É sim, com licença — pediu ele empurrando os aldeões e abrindo caminho até chegar perto do tronco —não é mesmo, Gertrudes?
A menina fez um “não” com a cabeça.
— Ele está mentindo, deve ser outro demônio. Matem no também — ordenou o líder.
Jake virou-se para a multidão.
— Calma gente, ela só esta meio confusa. Não é mesmo irmã? — ele a encarou por cima do ombro.
— Ele não é meu irmão, eu nem tenho irmãos e meu nome não é Gertrudes — a garota teimosa não queria colaborar.

“Queimem os dois” gritaram todos.
— Oh criança dos diabos viu  —reclamou Jake estendendo sua mão, fazendo uma grande foice surgir a sua frente.
Alguns aldeões saíram correndo ao ver aquilo, os demais se armaram com lanças  e foram para cima de Jake. Um deles tentou acerta-lo no rosto mas ele usou a foice para se proteger e a lança se partiu. Jake derrubou o homem no chão e com outro movimento passou a foice sobre outro, o cortando ao meio. Após ver aquilo, os aldeões que ainda restavam correram e se esconderam em suas cabanas enquanto suplicavam socorro aos deuses para os protegerem dos demônios e bruxas.

— Quer morrer queimada, criança dos diabos? — perguntou Jake a encarando. Ela respondeu balançando a cabeça —podia ter colaborado um pouco então.
— Eu não gosto de mentiras — explicou ela.
Jake cortou as cordas.
— Some daqui logo antes que eu mesmo ascenda essa fogueira e te use para assar cogumelos selvagens.
— Mentira, você não parece ser alguém ruim — a menina ficou parada olhando para ele.
— E você não parece ser uma bruxa — Jake retrucou.
— Minha mãe disse que sou muito poderosa.
— Ela mentiu. Agora some logo daqui.
— Por que me salvou? — a garota insistia em continuar fazendo perguntas.

— Por diversão, estava passando e vi que iriam queimar uma criança, então decidi impedir. Nada mais — Jake deu as costas e começou a andar rumo a floresta.
— Espera!
— O que foi agora?
— Preciso que me leve até a minha casa, pode haver algum deles por ai — ela olhou assustada para ambos os lados.
— Pensei que fosse poderosa — ele gargalhou.
— Estou aprendendo.
— Não tenho obrigações com você.
— Por favor — a menina suplicou.
Jake a fitou por cima dos ombros.
— O que eu ganho?
— Deus vai te amar ainda mais — ela deu um sorriso.
— Deus? Que hilário. Mas que seja então, eu não tenho nada para fazer mesmo — ele andou até ela.
— Obrigada.

— Me erra, agora vamos logo.
— Você parece ser uma boa pessoa.
— De novo esse papo de mongol? — ele bagunçou os cabelos da menina.
Adentraram em uma imensa floresta por uma trilha de terra.
— Eu sinto quando as pessoas são boas e você é bom.
— Errou outra vez, não sou uma boa pessoa. Aliás nem pessoa eu sou.
— É o que então?
— Um demônio.
A menina parou de andar.
— Não é não.
— E por que eu não seria?
— Minha mãe me disse que demônios e bruxas são inimigos mortais, você não tentou me matar.
—  Nós só matamos bruxas para roubar seu poder, aquele velho lance da cadeia alimentar. Mas não tem porque eu  roubar o seu, é fraca demais.
— Vai machucar minha família?
— Se eu quisesse machucar você ou sua família, vocês já estariam mortos. Acredite.

Meu Vizinho É Um DemônioOnde histórias criam vida. Descubra agora