CAPÍTULO 2 parte 1

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Para hoje, escolho uma das camisetas do Deftones. Mesmo estando com sono e sem apetite, faço tudo o que a minha velha pede. Saio de casa ouvindo "Entombed" do Deftones e durante o percurso até a escola tento me lembrar do meu sonho. Por um segundo, me distraio e quase atropelo um gato preto.

Desço do skate, pego o felino, levantando-o na altura dos meus olhos:

— Ei! Te machuquei, gatinho? – murmuro encarando seus olhos.

Ele mia, começa a ronronar e, por um momento que parece eterno, olho para seus grandes olhos amarelo-esverdeados. Eles são tão lindos, sinto algo estranho, parece que o felino, de alguma forma, consegue ver minha alma. Balanço a cabeça piscando várias vezes. Que loucura! Um gato ver minha alma? Minha imaginação anda bastante fértil ultimamente! Coloco ele de volta no chão.

— Acho que está bem.

Continuo meu caminho ainda tentando me lembrar do sonho. Creio que tinha espadas. Sim! Uma espada tão brilhante quanto o sol do meio-dia, também tinha outra, mas essa era bem diferente, lembro que era preta tão negra quanto a mais escura das noites. Lembro de ter visto o céu escuro dessa forma em uma de nossas mudanças para o interior de Minas Gerais.

Ao chegar na escola percebo que, novamente, cheguei cedo demais, pois o portão ainda está fechado, porém a molecada já aguarda para entrar. Preciso melhorar esse meu horário de sair de casa. Não quero ficar esperando para entrar, principalmente com esses olhares para cima de mim. Sigo direto para o outro lado da rua, parando perto da árvore como no dia anterior.

Alguns minutos passam, de repente, sinto alguém colocar a mão no meu ombro. Me viro e lá está o Júlio, me olhando com seu sorriso lindo. Tiro meu headfone:

— Oi. Você está melhor hoje?

— Oi. Estou bem. – murmuro com um leve sorriso.

— Olha, esqueci de te dar o horário das aulas ontem. – diz ao me entregar um pedaço de papel – Hoje, as duas primeiras são da sua matéria favorita.

— É mesmo?! – exclamo eufórica olhando para o papel.

O portão abre e a molecada começa a entrar:

— Vamos?! – encaro seus olhos.

— Infelizmente, hoje não vou entrar. – seu sorriso se desfaz – Vim apenas lhe entregar o horário. Agora, preciso ir. Depois você me passa o conteúdo?

— Claro! – digo ao franzir o cenho.

Antes que eu pudesse perguntar alguma coisa, ele se afasta. Neste momento, reparo no seu braço esquerdo um curativo grande. O que será que aconteceu?


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O professor de português é tão alto quanto um jogador de basquete e muito magro. Pele alva, cabelos e olhos castanhos e, sem dúvida, gostei muito dele. É lindo! Seu nome é Romeu, creio que é gay por causa de sua maneira de falar e de se expressar, mesmo assim, amei ele.

A aula de hoje é sobre a vida e obra de Jorge Luis Borges. Ainda não conhecia esse autor, mas como poderia conhecer, meus antigos professores, quando davam aulas sobre literatura, só falavam de autores brasileiros ou no máximo portugueses.

Borges é argentino e pelos dois textos que o professor passou para nós, gostei muito. Os professores de português poderiam mostrar alguns autores de outros países latino-americanos, não se prender somente aos que falam nossa língua. T[a, sei que isso deveria ser tarefa de professor de espanhol, mas só em uma escola tive a oportunidade de estudar um pouquinho essa língua, por causa de um projeto escolar. De qualquer forma, vou pesquisar mais sobre esse autor no computador da biblioteca mais tarde.

Nem me importo muito com as outras aulas. Sinto falta do Júlio! Os amigos dele também não apareceram na escola hoje. Será que é coincidência?

Quando a aula termina, sigo para a biblioteca e faço a pesquisa sobre o Borges. Permaneço no local por umas duas horas até que decido ir para a casa.

Ao sair da escola, encontro um gato preto parado no portão. Ou será que é o mesmo felino de hoje de manhã? Dou de ombro, coloco meu headfone, começo a rodar a caminho de casa ouvindo "The Middle" de Jimmy eat World.



Subitamente, percebo que o gato está me seguindo. Tento andar mais rápido, mas ele começa a correr atrás de mim. Droga! Minha velha não vai gostar disso! Interrompo o movimento do skate, me viro e espero o gato chegar perto, pego ele no colo, em seguida continuo o meu caminho levando-o comigo.

Ao chegar em casa, coloco o felino no chão, ele começa a miar e andar pelo apartamento explorando tudo. Constato que minha mãe está trancada no quarto dela, vou para o meu e deixo minha mochila na escrivaninha, já o celular e o headfone coloco sobre a cama.

Volto para a sala, noto que o gato está deitado sobre o sofá como se já fosse íntimo da casa. Que folgado!

— Ei! Gatinho, você quer comer? – murmuro fazendo carinho na cabeça dele, ele me encara com seus grandes olhos amarelo-esverdeados. Nesse momento, tenho certeza de que é o mesmo bichano que quase atropelei pela manhã, pois, novamente, sinto seu olhar tão penetrante que parece ver minha alma. Que gato estranho! Balanço minha cabeça piscando várias vezes. Vou tentar não encarar mais os olhos desse felino.

Vou até à cozinha e ele me segue. Procuro uma vasilha pequena no armário, abro a geladeira e pego a caixa de leite. Coloco um pouco do líquido no recipiente, depois posiciono-o no chão perto da pia, o gato dá uma cheirada e começa a se alimentar.

Devolvo a caixa na geladeira, pego uma maçã e começo a degustá-la observando o felino. Quando ele finaliza começa a miar se esfregando nas minhas pernas, entrelaçando sua calda. De certa forma, me sinto feliz por ter ele comigo. Minha velha sempre está dormindo quando chego da escola, por isso me tranco no quarto e fico ouvindo música, jogando no celular ou lendo meus livros.

Agarro o gato e dou um abraço apertado nele, sigo para a sala e me deito no sofá colocando-o sobre mim acariciando ele até nós dois adormecer.

Dunyas eno Unyaah - O Rapto e A ViagemOnde histórias criam vida. Descubra agora