CAPÍTULO 2 parte 6

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Somente nesse momento reparo que ele está sem o curativo que estava no braço no dia anterior. Não tinha percebido antes porque a blusa que está usando estava com as mangas abaixadas, mas agora que ele as puxou para cima, dá para ver que onde deveria ter um curativo não tem absolutamente nada, nem mesmo uma cicatriz.

— Não é nada disso. Estou preocupado por você ter passado mal dois dias seguidos.

— Como assim? Não disse nada que passei mal ontem. – tiro meu braço das mãos dele com força.

— Está na sua cara que passou mal ontem e nem tente dizer o contrário. – Júlio franze o cenho olhando para suas mãos.

— Minha vida não é da sua conta!

Deixo-o sozinho e volto para a sala de aula. Vasculho minha mochila atrás do meu headfone, coloco a música "Dead Girl Walking" do grupo KidneyThieves para tocar no celular, puxo meu capuz para cobrir minha cabeça, mudo de lugar sentando-me o mais longe possível do Júlio. 



Durante a quarta aula, fico ouvindo música ao mesmo tempo que transcrevo tudo o que a professora de geografia coloca no quadro negro. Na quinta aula, a Alessandra vem conversar comigo, me obrigando a desligar a música:

— Oi. Aconteceu alguma coisa entre você e o Júlio? Ele está estranho. – murmura baixo para que ninguém nos ouça.

— Ele quer se meter na minha vida, não gostei disso. Só minha mãe fala daquele jeito. Na verdade, mais ninguém fala comigo, por isso acho muito estranho vocês conversarem comigo. – também falo baixo perto do ouvido dela.

— Eu entendo você. Escola nova, pessoas que não conhece querendo ser seus amigos, mas você precisa entender o Júlio. Ele realmente quer ser seu amigo e, na verdade, acho que queira ser mais que isso. Nunca vi ele tão entusiasmado com alguém como está com você.

— E o que ele viu em mim? Não sou o tipo de garota que os meninos ficam querendo namorar.

— Por que diz isso? Para mim você é muito bonita. Seus olhos são lindos e seu cabelo também, justamente por ser diferente.

Dou uma gargalhada estridente fazendo com que todos me olhem, o professor de filosofia me repreende com o olhar e um leve aceno de cabeça. Por causa disso, sinto meu rosto queimar como brasa viva.

— Tá vendo. – ela sussurra bem perto de mim – Todos olham para você porque é diferentemente linda. Olha como fica vermelha como uma pimenta quando está com vergonha. Isso é tão fofo.

— Não acho graça nisso e os outros me olham porque me acham estranha, principalmente as meninas.

— Bom, eu posso dizer que algumas delas podem até falar isso de você porque sentem inveja. Quanto as outras e os meninos, você já parou para pensar que é você que afasta todo mundo por gostar de se isolar e por causa do seu jeito explosivo de ser. Eu vi quando você e o Júlio estavam conversando no intervalo, garanto que você não deu a mínima chance para ele. Simplesmente ficou nervosa e deixou ele falando sozinho.

— Foi ele que te mandou aqui?

— Não mesmo. O Júlio não precisa de ninguém para interceder por ele, mas ficou chateado, por isso vai ficar afastado um tempinho, porém tenho certeza que ele vai voltar a falar com você.

— Será? – levanto uma sobrancelha demonstrando minha incredulidade.

— Com certeza. Ele é teimoso, quando coloca uma coisa na cabeça dificilmente alguém consegue tirar, por isso acho que ele vai te procurar para conversar.

Alessandra e eu passamos as duas aulas conversando e descubro algumas curiosidades estranhas. Todos já completaram dezessete anos ou vão completar. Fernando e Bianca completaram em janeiro, Júlio em dezesseis de abril, exatamente no dia em que me mudei. Gustavo completa em julho e a Alessandra em setembro. Todos reprovaram o ano anterior por falta, mas ela não quis dar mais detalhes do motivo que fez eles faltarem tanto. Outra curiosidade é que Fernando, Bianca e Júlio estão sendo criados por suas mães, enquanto a Alessandra e o Gustavo estão sendo cuidados pelos pais.

Ao terminar as aulas, decido ir logo para casa. Encontro o Rylo sentado ao lado do portão como uma estátua guardião quando saio da escola. Afago ele por alguns instantes, ao mesmo tempo, noto que os cinco amigos saem da escola e seguem na direção contrária a que tenho de ir para casa.

Percebo o olhar do Júlio meio de soslaio para mim, em seguida ele segue seus amigos sem falar qualquer palavra comigo:

— É Rylo, acho que só você é meu amigo de verdade. – murmuro o mais baixo possível.

Depois, coloco meu skate no chão e sigo para casa ao som de "The Only" de Static-X acompanhada do meu felino e da garoa fina que voltou a cair.


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Beijos e até o próximo capítulo.

Dunyas eno Unyaah - O Rapto e A ViagemOnde histórias criam vida. Descubra agora