CAPÍTULO 4 parte 6

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Júlio senta ao meu lado, ficamos em silêncio observando a rapaziada por alguns minutos até que ele quebra a quietude, ainda olhando para os esqueitistas:

— Por que você agrediu aquele cara?

— Ele e os amigos queriam que eu saísse da pista, ficaram me chamando de bonequinha esquisita e tampinha. Quando caí e ouvi as gargalhadas deles, fiquei com muita raiva. Eles não tinham o direito de ficar falando daquele jeito comigo. Então, fui para cima do que estava mais perto. Não consegui me controlar.

— Mas você sabe que esse tipo de problema não se resolve com violência, não sabe?

— Sei, por isso que desafiei ele na pista. – cubro meu rosto com as duas mãos – Eu estava muito bem até você chegar e me chamar.

Nossa! Agora me lembrei! Foi como um sonho, mas esse parecia muito real. Será que aquela mulher da minha visão é a mãe do Júlio? Me lembro das palavras do homem estranho. Tiro minhas mãos do rosto, encarando-o.

— O que foi? – questiona ao encarar meus olhos.

— Ah... nada não! – desvio meu olhar para a pista.

— Olha, já entendi que o que aconteceu foi culpa minha. Será que dá para me perdoar? Mas você me assustou fazendo aquelas manobras sem equipamento de segurança. Já vi alguns esqueitistas caírem nessa pista e um deles, mesmo estando equipado, ficou mal. Fiquei com medo de você se machucar.

— Tá! Tudo bem! Dei mancada em tirar meu capacete, também não deveria ter desafiado o cara, mas o sangue subiu e o que mais queria fazer era mostrar para ele que sou tão boa quanto vários por aí.

— E para finalizar e piorar o problema você agrediu ele! Depois fala que não é esquentadinha. Acho que você quebrou o nariz dele, por isso acredito que tanto ele, como os amigos, não vão aparecer por aqui por um bom tempo.

— Nem sei o que dizer porque sou contra a violência, mas... – olho para as minhas mãos, roço meus dedos que se chocaram contra aquele rosto lembrando-me da sensação de agredir o infeliz.

— Mas o quê? – Júlio indaga colocando uma das mãos sobre as minhas, me fazendo encará-lo.

— É tão difícil dizer isso, mas gostei de socá-lo. Foi... delicioso fazer aquilo com ele. Me senti... Livre.

— E você é presa por acaso? – levanta uma sobrancelha.

— Não sei explicar porque senti isso. O que sei, é que não quero fazer nunca mais aquilo. – desvio meu olhar para um garoto que faz uma manobra próximo de nós.

— Por quê?

— Por causa do que os olhos dele mostraram para mim.

— O que você viu?

— Terror. Ele estava apavorado. – encaro os belos olhos negros do Júlio.

— Não fique triste. – ele segura com mais força minhas mãos.

Seu olhar está triste por algum motivo, está olhando para as minhas mãos, mas parece perdido em pensamentos.

— Posso fazer uma pergunta? – questiona ainda olhando para as minhas mãos.

— Pergunte. – respondo ainda encarando seu rosto.

— Quando vai completar dezesseis anos?

— Dia vinte e um de maio, por quê?

— Ah... Por nada. – solta as minhas mãos e voltar seu olhar para os esqueitistas.

— O que foi? Pode falar! – digo franzindo minha testa.

— Não é nada, era só uma curiosidade. – responde sem me olhar – Você não vai mesmo na festa de sábado que vem?

Meu pai do céu! O que esse garoto tem? Cada dia que passa entendo menos ele. Uma hora está sorridente e cheio de gracinha. Na outra, está muito sério e muda de assunto com uma facilidade que me deixa confusa.

Quero entender o que está acontecendo. Quem ele realmente é, ou melhor, o que ele é? Porém, parece que sempre que tento conhecê-lo alguma coisa acontece nessa sua cabecinha, me afastando de algo que não quer mostrar. Assim não dá!

Dunyas eno Unyaah - O Rapto e A ViagemOnde histórias criam vida. Descubra agora