CAPÍTULO 4 parte 4

180 62 20
                                    

Sinto um frio na espinha, no mesmo instante, uma névoa escura cobre meus olhos.

Uma mulher afrodescendente surge diante dos meus olhos, está deitada e gritando em um lugar com pouca iluminação. Duas mulheres e um homem com vestes estranhas, ao estilo medieval, a acompanham:

— Está quase acabando, querida! – diz uma das mulheres que está na frente da que está deitada.

Não consigo ver com nitidez os rostos dos acompanhantes da mulher, mas noto que ela está em trabalho de parto. No segundo seguinte, ouço um choro de uma criança.

— Que alegria! É um menino! – diz a mesma mulher de antes.

— Segundo nossas instruções, Júlio será seu nome e ele será um grande líder para nossa causa, principalmente sendo filho de um dos quatro! – o homem exclama, com grande alegria, pois consigo ver seu sorriso contagiante na penumbra.

Sinto uma dor forte na cabeça e a imagem se desfaz em uma nuvem que se dissipa logo em seguida. Estou deitada no chão quente, uma dor alucinante martela meu crânio.

— Sara, sua louca! – ouço a voz do Júlio, no mesmo instante que sinto sombras se formando sobre mim.

Abro meus olhos, vejo meus amigos a minha volta. Seus semblantes demonstram estarem assustados ou preocupados, menos o Júlio que demonstra estar irritado. Me sento, sinto um líquido quente escorrer na minha testa ao lado do meu olho esquerdo.

— Você está sangrando! – Alessandra se abaixa, puxa minha franja e coloca atrás da orelha – Temos que levá-la ao hospital.

— Nada de médico! – me levanto do chão. Passo a mão na testa, em seguida a encaro. Ao vê-la suja de vermelho, sinto a raiva tomando meu ser enquanto minhas bochechas começam a queimar.

Droga! Nunca me machuquei com o skate antes! É claro que no começo caí várias vezes, mas nunca me machuquei e a culpa é do Júlio que tirou minha concentração.

— É claro que vamos te levar no médico! – Júlio fala alto, parece irritado de verdade – Por que não estava usando o equipamento de segurança? – reclama me mostrando meu capacete, as cotoveleiras e joelheiras em sua mão.

— Não é da sua conta! E a culpa é sua! Não se chama o nome de uma pessoa enquanto ela está numa manobra! Tira a concentração dela! – pego meu equipamento de sua mão e saio de dentro do banks.

Ao chegar próximo da escadaria ouço as gargalhadas dos três moleques, isso me deixa mais irritada e encaro eles com a cara mais emburrada que poderia fazer.

— Por isso disse que aqui não é lugar de bonequinha esquisita, ouviu tampinha! – o garoto de cabelo curto exclama, sinto meu sangue ferver como nunca aconteceu antes, parto para cima dele.

Largo minhas coisas no chão e me jogo sobre seu corpo derrubando-o, começo a socar a cara dele com meu punho direito fechado com toda a minha força, enquanto a outra mão segura seu pescoço.

— Sara! Pare com isso! – mal consigo ouvir meus amigos gritando comigo.

Meu oponente tenta, mas não consegue me empurrar. Sinto um prazer enorme em golpeá-lo, é tão delicioso fazer isso. É como se minha alma precisasse de violência para sobreviver. Me sinto livre.

— Sara! – ouço meu nome como se fosse um trovão me chamando, mas parece ser a voz do Júlio.

O grito me faz parar e encarar meu oponente, ele está com a cara cheia de sangue. Parece que quebrei o nariz dele e... vejo... terror em seus olhos. Noto que meu cabelo forma um grande véu sobre nós dois, ao mesmo tempo, percebo alguém tentando me tirar de cima dele.

Deixo quem quer que seja me levar, viro meu rosto na direção da pessoa que me segura, é o Júlio. Ele me pega em seu colo no mesmo instante que olho meu punho fechado, está cheio de sangue do moleque.

Volto meu olhar para os três garotos a tempo de ver os cabeludos ajudarem meu oponente que ainda está caído no chão, agonizando de dor.

— O que você fez, minha esquentadinha? – Júlio sussurra em meu ouvido – Não se deve resolver esse tipo de problema com violência.

Ele se senta em um dos degraus comigo em seu colo. Engraçado, mas ele não parecia ser tão forte, contudo, concluo que realmente é ao sentir os músculos do seu braço sob a camiseta. 

Dunyas eno Unyaah - O Rapto e A ViagemOnde histórias criam vida. Descubra agora