CAPÍTULO 1 parte 2

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Coloco para tocar no celular a música "Slept so Long" do grupo Korn, logo depois de fechar a porta e sigo para o elevador.



Ao chegar na rua, percebo que o dia está bem nublado. Aposto que minha velha vai aproveitar para fazer compras no mercado, pois ela nunca sai de casa quando está sol, até parece que tem medo dele. Coloco meu skate no chão e começo a andar pelo bairro na direção da escola.

Moramos em um bairro chamado Lapa que é bastante movimentado com várias avenidas com o trânsito carregado, mas também tem algumas ruas mais tranquilas. A nossa é uma dessas mais calmas e a escola não fica muito distante.

O problema de se começar em uma nova escola é entrar com o ano letivo já em movimento. Como estamos no primeiro dia útil do mês de maio de dois mil e dezesseis, já se passaram três meses desde que as aulas começaram. Isso quer dizer que vai ser mais difícil tentar fazer amigos, se bem que essa tarefa nunca se realizou em qualquer momento do ano.

Ao chegar perto, percebo que já está repleta de adolescentes risonhos na frente do muro e da entrada. Como sempre acontece no primeiro dia de escola nova, sinto alguns olhares curiosos e outros de extrema arrogância para cima de mim. Droga! Por que isso acontece? Não sou alienígena! Antes de parar em frente ao portão, noto uma árvore do outro lado da rua não muito distante da entrada, é exatamente para onde sigo, assim posso aguardar com mais tranquilidade a prisão abrir suas portas.

Um garoto afrodescendente legítimo, cabelo bem curto, que está junto de uma turma perto do portão, está me encarando e isso me deixa nervosa. Os garotos, normalmente, passam longe de mim, por isso ainda sou "boca virgem". Como pode uma coisa dessas? Dezesseis anos na cara e ainda sou B.V., mas também, quem é que vai gostar de uma garota como eu. Magricela, sem qualquer atrativo e ainda por cima, albina.

O garoto se aproxima, isso faz com que eu perceba que é tão alto quanto um jogador de basquete, por isso tenho que levantar um pouco a cabeça para olhar em seus olhos e... Nossa! Que olhos lindos! Parecem duas jabuticabas! Tiro meu headfone quando ele abre um leve sorriso e fala algo.

— Como? – pergunto.

— Eu disse oi! Aluna nova, não é?!

— Sim. – "É claro que sou aluna nova seu doido, por acaso já tinha me visto aqui antes?", poderia dizer essas palavras, mas me contenho.

— Meu nome é Júlio. Qual é o seu? – questiona ainda sorrindo.

— Sara.

— Já sabe qual é a sua sala?

— Minha mãe disse que é o 2º ano B.

— Ah! Que legal! É a minha sala! – ele abre mais o sorriso e... Nossa! Que sorriso lindo! – Vou lhe mostrar tudo. Vou tentar te apresentar para alguns alunos, mas não se preocupe se não fizer amigos logo de cara porque até comigo foi um pouco difícil me enturmar.

— Beleza! – mostro-lhe um leve sorriso.

O portão é aberto e a molecada começa a adentrar as entranhas do prédio.

— Vamos evitar o tumulto, por enquanto. – ele diz se virando para olhar o pessoal entrando, em seguida, volta sua atenção para mim e abre novamente um grande sorriso – Vejo que é roqueira e esqueitista.

— Sim. – murmuro coçando a cabeça. "Você é mesmo um gênio", reflito.

— Mas, você trouxe a camiseta da escola? Eles são muito chatos quanto a isso! – ele levanta uma sobrancelha e seu sorriso se desfaz.

— Trouxe. – tiro a mochila das costas, pego minha camiseta, depois de vesti-la por cima da outra, agarro meu skate e coloco a mochila em um dos ombros – Vamos entrar?

— Sim! Venha!

Ele pega minha mão livre e me puxa em direção ao portão. O que quer? Nenhum garoto pegou a minha mão antes! Acho esse Júlio muito estranho e... bonito. Balanço minha cabeça para esquecer meu pensamento e, assim, me preparar para o que está por vir.

Dunyas eno Unyaah - O Rapto e A ViagemOnde histórias criam vida. Descubra agora