Ingênuo - Revisado

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Abri os olhos depois de mais uma noite mal dormida, eu não conseguia parar de pensar nela. Em seus olhos verdes marejados me encarando quase implorando para que eu fizesse alguma coisa, mas fui covarde e apenas a deixei ir. Depois da minha visita em seu apartamento e o modo como ela me tratou eu decidi que nos pouparia de todo aquele drama, pois não tem algo que eu odeie mais do que drama.

Talvez Gaara não estivesse fazendo tudo aquilo para tentar me atingir, ponderei por longas horas que Sakura realmente é uma pessoa muito fácil de se apaixonar. Talvez aquela era uma opção melhor para seu futuro, pois eu não podia garantir que não fosse tratá-la como as outras. Me lembrei de cada vez que senti o pouco de afeto por uma mulher e logo perdi o interesse, de como toda vez que eu me afastava era condenado por ser cruel e não ligar para os seus sentimentos.

Eu tentei de tudo para afastá-la, a ignorei, ofendi e a rebaixei de uma forma perigosa. Sempre mantive a pose profissional com todos os meus funcionários, mas com Sakura foi diferente e em troca ela me enfrentou, e me desestabilizou sem sequer ter conhecimento do que fez. Acabou se aproximando dos meus pais a fim de zelar por algo que não lhe pertencia. Sakura é uma exceção.

Respirei fundo finalmente me levantando da cama, tomei um banho e comecei a me arrumar para seguir rumo a UCE quando meu telefone tocou, no visor mostrava o número de um dos ramais da empresa.

- Senhor Uchiha... - A mulher não perdeu tempo em dar a notícia. - A senhorita Haruno acabou de nos apresentar sua carta de demissão. - Senti um aperto no peito. - Achei que deveria avisá-lo o quanto antes.

- Obrigado. - Respondi e desliguei ainda encarando o celular.

Aquela ligação me deixou atônito, levei alguns segundos para me dar conta de que Sakura estava deixando a empresa, estava me deixando. O que eu esperava depois da cena que poderia ser muito mal interpretada dois dias atrás com Karin em meu escritório.

Terminei de me arrumar rapidamente e segui rumo a empresa. Meu celular vibrava a cada segundo, Naruto me ligava e quando parei o carro em frente ao prédio lhe mandei uma mensagem perguntando se ela ainda estava ali. A resposta veio imediata e a esperei no hall de entrada. A porta do elevador abriu e pude ver Naruto acompanhá-la.

- O que está fazendo? - Perguntei impedindo-a de passar por mim.

- Sakura... - Naruto a chamou lhe entregando a pequena caixa com seus pertences. - Não pense que vai se livrar da gente tão fácil assim, nos vemos em breve. - Sorriu e lhe deu um beijo no rosto. Sakura tentou continuar a andar em direção a saída, mas não me contive e agarrei seu pulso.

- Eu estou falando com você. - Falei tentando conter aquele peso em meu peito.

- Você pode me soltar por favor? - Perguntou olhando em direção a minha mão ainda agarrada ao seu pulso, logo voltando a me encarar com repulsa.

- Você está jogando todas as expectativas que meu pai tinha em você fora. - Disse entre dentes, aquele olhar me afetou mais do que deveria.

- Não me coloque nessa situação Sasuke. - Disse virando-se totalmente em minha direção. - Eu não preciso me sentir culpada pelas minhas escolhas.

- Porque você está fazendo isso? - Perguntei ainda lhe encarando e segurando seu pulso.

- Eu não te devo explicações. - Respondeu rancorosa. - Mas eu tenho certeza que no fundo você sabe a resposta. - Balancei a cabeça em negação, eu não estava pronto para aquilo.

- Isso é coisa do Gaara. - Disse soltando um riso anasalado. - Eu sabia que ele te tiraria de mim. - Confessei deixando a raiva me consumir.

- Não Sasuke, não foi o Gaara que me tirou de você. - Pude sentir a magoa em sua voz. - Você fez esse trabalho árduo sozinho. - A culpa era minha, eu tinha afastado-a. Desviei meu olhar e Sakura se desvencilhou.

Observa-lá se afastar foi doloroso, eu queria impedi-la de ir embora e implorar para que ela não me deixasse, mas eu não consegui me mover. Depois de alguns segundos ali parado sob o olhar de alguns curiosos decidi seguir para minha sala. Passar pela recepção e encontrar Tenten sentada ali lembrou-me de nosso primeiro encontro. A mágoa me fez questionar porque eu não a demiti naquele exato momento quando ela me enfrentou pela primeira vez. Seu eu o tivesse feito toda essa bagunça teria sido evitada, mas também não sentiria toda aquela excitação a cada vez que estava ao seu lado.

Aquele sentimento amargo de ter sido deixado me fez pensar em como baixei minha guarda e deixei com que uma garota do interior me virasse do avesso. Karin era prova de que não importava o quanto uma mulher se dedicasse ou insistisse em mim, no fim tudo não passava de diversão. A ruiva me seguia desde o colegial e Karin sempre deixou claro sua paixão por mim, mas nunca consegui desenvolver nenhum tipo de sentimento. Mas aqui estou eu, parado de frente a mesa em que as duas já tinham ocupado e a única coisa que me vem em mente é o sorriso de Sakura. O que faz toda essa situação irônica, pois contratar Karin foi a opção que encontrei para tentar parar de pensar nela.

Eu achei que tinha tudo sob controle, até a viagem a Lerici. Quando a vi chorar tão frágil ao bater em minha porta para encontrar segurança em meus braços. Eu me perdi em seus olhos, completamente. Naquela noite em meu quarto percebi que aquele era um caminho sem volta, eu reconheci que estava apaixonado e saber que Sakura tinha seus olhos em mim da mesma forma me fez querer mais. Não demorou muito para eu me saciar em seu corpo e perceber que não era o suficiente.

De volta à normalidade em Tóquio vi o quão uma paixão pode me afetar, sentir saudade e desejar estar perto a todo momento me assustou. Aquilo era tudo novo e me senti sobrecarregado com a necessidade de tê-la ao meu lado. Então eu me afastei por medo de toda aquela vulnerabilidade, me senti sufocado e decidi tentar voltar a ser o velho Sasuke como se nada tivesse acontecido. Agora percebi o quão ingênuo fui ao tentar afastá-la, pois o sentimento já estava enterrado em meu peito e eu não poderia voltar a ser o que era antes de conhecê-la.

Perdi a conta de quantas vezes olhei para seu contato na tela do celular e pensei em ligar para ouvir sua voz. Ino sempre fazia questão de dar atualizações sobre a vida da Haruno e do quanto ela estava feliz. Descobri pelos meus pais que Sakura tinha começado a cursar medicina e senti a tristeza de não ser a pessoa que a apoiou em suas decisões, mesmo que essas tenham sido tomadas provavelmente pelo que aconteceu entre nós dois.

Demorei um tempo para me acostumar de que ela não estava mais ali, mas depois de longos meses tomei a decisão de que seria uma pessoa melhor, já que Sakura parecia ter amadurecido e mudado depois de tudo aquilo. Eu também tinha que tirar algo daquela situação ou o tempo que passamos juntos não serviria de nada.

Não importa quanto tempo passe uma parte de mim sempre estará em dívida com Sakura. E no fundo ainda tenho esperanças de que um dia terei a chance de fazê-la feliz, até lá eu seguirei tentando ser uma pessoa melhor e merecedora do seu amor. 

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