Mal consegui dormir, quando percebi o despertador soou avisando que era hora de levantar. O velório seria pela manhã, um pouco mais de vinte e quatro horas depois do horário de seu óbito. Eu ainda não acreditava que Fugaku tinha falecido, no hospital que eu trabalhava em minha frente e eu não pude fazer nada.
Me arrumei e segui para o local indicado na mensagem que tinha recebido na noite anterior. Alguns carros de emissoras de televisão preenchiam o estacionamento, mas apenas os poucos convidados podiam entrar no local. Uma foto de Fugaku estava posicionada atrás da urna que carregava seu corpo, Mikoto e Sasuke cumprimentavam a todos que se aproximavam para lhes oferecer condolências.
Eu queria muito me aproximar, mas meu corpo não respondia ao comando para se mover. Aquela imagem parecia não ser processada em meu cérebro, então acabei estagnada na porta de entrada para aquela sala. Eu queria chorar, mas a imagem dos dois ali calmos ao lado de Fugaku me intimidava. Se eles estavam calmos e aguentavam a dor em silêncio, porque eu o faria diferente?
- Você não vai entrar? - A voz e o toque gentil em meu ombro me despertou. Eu o olhei e neguei. - Tudo bem, eu fico aqui com você. - Naruto cruzou os braços e encarou Sasuke.
- A Hinata não veio com você? - Perguntei, tentando controlar a dor em meu peito.
- Ela preferiu dar espaço ao Sasuke. - O loiro deu de ombros. - Sasuke me disse que foi durante o seu turno. - Engoli seco e assenti. - Ele está preocupado com você. - Disse, e naquele momento eu tinha certeza que nossa atenção era completamente nele.
Ficamos ali em silêncio, observando cada um dos conhecidos da família Uchiha se aproximar, saudar Mikoto e Sasuke, e ir embora. Olhei o relógio em meu pulso e já estava quase na hora que indicavam o final do velório, sempre achei que esse tipo de coisa durava praticamente o dia inteiro. Mas depois de três horas já tinham pessoas recolhendo as flores que enfeitavam a sala.
- Tem certeza que não vai se despedir? - Naruto me despertou outra vez.
Dei um longo suspiro, e com toda coragem que tinha comecei a caminhar em direção a Mikoto. A cumprimentei com um abraço sem poder de fato lhe olhar nos olhos, eu não queria desabar ali. Acenei para Sasuke e fui em direção a urna, que estava fechada.
A última vez que o vi foi deitado naquela maca, mal pude ver seu rosto por conta da máscara de oxigênio. Não pude conter a lágrima que rolou em meu rosto sem que eu percebesse. Segurei o colar em minhas mãos e o apertei.
- Obrigada por tudo. - Sussurrei com os olhos fechados, lembrando de nossas conversas e de como ele pareceu orgulhoso no dia da minha formatura.
Me afastei e vi que as pessoas que o levariam para o crematório já estavam a postos. Mikoto não estava mais presente e Sasuke se aproximou.
- Me desculpa. - Disse observando a urna sendo removida. - Eu não pude fazer nada. - Abracei meus próprios braços.
- Não tinha nada a se fazer. - Sua voz saiu em um murmúrio. - Minha mãe está esperando, você pode nos encontrar em casa? - Perguntou virando-se em minha direção e assenti.
Toquei a campainha e fui atendida por uma das empregadas que me levou até o escritório de Fugaku, onde Mikoto e Sasuke me esperavam acompanhados por outro homem.
Mikoto chamou-me para que eu me sentasse ao seu lado no sofá aveludado ficando de frente para o homem.
- Já que todos estão presentes começarei a ler o testamento do Senhor Uchiha, aqui estão cópias onde a parte que vos interessa está marcada. - Ele estendeu uma cópia do papel que tinha em mãos. - Bom... todos os bens, patrimônios e empresas do Senhor Uchiha serão divididos por igual entre Mikoto e Sasuke Uchiha. - Eu estava confusa. - Exceto pela Uchiha Company Engenharia. Essa será dividida entre Sasuke Uchiha e Sakura Haruno com cinquenta e cinco por cento e quarenta e cinco por cento respectivamente...
A partir dali não ouvia mais nada que o advogado dizia, minha atenção foi toda para a folha em minhas mãos. Não conseguia entender o que estava acontecendo. Vi o pequeno parágrafo marcado, li e reli para ter certeza de tudo aquilo. Quando dei por mim o advogado estava parado à minha frente estendendo uma caneta para que eu assinasse o documento em suas mãos.
"Deixo quarenta e cinco por cento das ações da empresa Uchiha Company Engenharia em nome de Sakura Haruno em forma de gratidão pelo tempo e excelência com que representou tal empresa, a atenção e a persistência para com a minha família."
- Eu não posso. - Disse me levantando e fazendo o advogado se afastar.
- Vocês precisam de algum tempo para discutir? - O homem encarou Sasuke que se aproximou.
- Sakura. - Mikoto se levantou. - Nós decidimos isso juntos. - Disse apoiando sua mão em minhas costas.
- Eu não posso aceitar, essa empresa é do Sasuke. - A encarei com os olhos marejados. - Quem sou eu para possuir quase metade de uma empresa? Eu mal pude fazer o trabalho que fui propriamente treinada para fazer... - Meu peito doía e não pude conter as lágrimas.
- Do que você está falando? - Mikoto perguntou segurando em meus braços gentilmente me virando em sua direção.
- Se eu tivesse feito alguma coisa ontem, talvez ele estivesse aqui. - Encolhi os ombros. - Eu não estaria herdando algo que não me pertence e deixando as coisas mais complicadas. - Mikoto deu um longo suspiro e virou-se para os dois homens que nos encaravam.
- Vocês podem nos dar licença? - Disse e em poucos segundos estávamos sozinhas. - Sakura... - Começou me entregando um lenço. - Eu e Fugaku decidimos reescrever o testamento depois de alguns meses que você deixou a empresa. - Confessou e a encarei. - Eu tenho certeza que você aprendeu bastante com meu marido, e de alguma forma você fez com que Sasuke mudasse. Depois do falecimento de Itachi, as coisas não estavam bem... - Mikoto deu um leve sorriso. - Mas você trouxe luz para essa família. - Deu um longo suspiro. - Eu não sei como vamos nos recuperar de mais uma perda, mas eu gostaria muito de te ter por perto, porque eu e Sasuke precisamos de você. - Pude ver seus olhos brilharem e a abracei.
- Eu não me afastaria. - Disse, mesmo que não tivesse certeza daquela afirmação.
- Então assinar aquele testamento não vai fazer diferença. - Mikoto se afastou e me encarou. - Eu acredito que tomamos a decisão certa. - Disse e eu assenti.
Alguns minutos depois eu estava assinando o documento que agora me dava posse de quarenta e cinco por cento da UCE. Não consegui encarar Sasuke, não sabia como ele estava aceitando aquilo sem contestar a decisão de seus pais. Quando estava prestes a sair, Mikoto me pediu para que eu esperasse por ela, e deixou o escritório com o advogado.
Encarei Sasuke que guardava os documentos em uma pasta.
- Sasuke. - Eu chamei sua atenção. - Me desculpa, eu não fazia ideia... - Ele me olhou confuso. - Dividir a UCE, sei o quanto você preza por aquela empresa e agora eu...
- Eu acredito que meu pai sabe o que faz, ele sempre soube. - Respondeu colocando a pasta em uma gaveta. - As vezes acho que se ele tivesse tido uma menina para proteger e cuidar talvez algumas coisas em minha criação tivessem sido diferentes. - Disse se virando em minha direção, e dessa vez eu o olhava confusa. - Pronta para voltar? - Perguntou mudando de assunto.
- Eu aceitei parte da empresa, Sasuke. - Disse cruzando os braços. - Mas nunca disse que voltaria à empresa.
- Eu não tenho mais o meu pai, Sakura. - Ele se aproximou e abaixei a cabeça. - E a pessoa mais próxima que tenho com a mesma cabeça que ele é você. - Levantei minha cabeça e senti uma nostalgia em meu peito.
- Está dizendo que precisa de mim para administrar sua empresa Uchiha? - Perguntei o encarando, ele soltou um riso anasalado.
- Quase isso. - Admitiu desviando o olhar. Eu tive vontade de sorrir, mas lembrei-me do motivo pelo qual estávamos ali.
- Eu preciso de um tempo para resolver as coisas no hospital. - Expliquei e Sasuke voltou sua atenção para mim.
- Claro. - Acenou. - Eu também preciso organizar as coisas na empresa para te acomodar melhor. - Disse dando de ombros.
- Obrigada, Sasuke. - Agradeci e nos encaramos em silêncio por alguns segundos até que Mikoto entrasse no escritório nos chamando para almoçar.
De alguma forma eu estava aliviada por estar na presença dos dois naquele momento tão delicado. O sentimento de perda estava ali, mas era como se um fosse a força que o outro precisava para seguir em frente.
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Faithfully
FanfictionOs opostos se atraem, mas os dispostos se completam. Estariam então dispostos a assumir seus sentimentos um pelo outro? " -O senhor quer saber o que eu acho?!..... -Não, não quero saber. Não faz diferença o que você tem a dizer. ...