Round 1- O presente

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JESSE RYAN 

-Estou mandando um presente pra você, certifique-se de tratá-lo bem!- eu sorri, quando a voz da minha avó, encheu meus ouvidos.
- Presente? Meu aniversário foi no mês passado, vó!
- Não existe data para ganhar presentes, garoto bobo!- Sua repreensão carinhosa me fez sorrir novamente.
- Eu preciso manter-me em forma vó, vai ser difícil durar um segundo no ringue, comendo seus doces!-
- A entrega chegará hoje às 7 horas da noite meu filho, isso é tudo o que você precisa saber!- sua voz estava triste e imediatamente meus nervos inflamaram.
- O que Charles fez dessa vez?- Tinha certeza de que se existia alguma coisa errada, meu irmão era o culpado. Ela suspirou, confirmando que de fato, o idiota aprontou de novo.

- Algo que não tem como ser reparado. Eu acho. Não se preocupe Jesse, tenho fé que no final, tudo dará certo!

Não insisti, sabia que não adiantava forçá-la, isso era tudo que teria, minha vó gostava de conversar olho no olho, tecnologia não era algo que ela se identificasse. Precisava visitá-la o mais rápido possível.

- Vou desligar meu filho, preciso tomar os meus remédios, não esqueça, hoje, às sete. - Eu não me preocupei em corrigi-la de que os correios só faziam suas entregas no horário comercial.
- Cuide-se vó, tranque a casa direitinho, não fique esperando Charles. E não esqueça que a senhora está guardada no meu coração! Eu amo você. Muito.
- Eu também te amo, Jesse! Tchau meu bebê!-

Ela suspirou pesadamente antes de finalizar a ligação, ou tentar, porque o aparelho continuou ligado por alguns segundos, esperei, até que por fim, a chamada foi finalizada.
Falar com ela me trazia uma alegria grande, em seguida tristeza, eu sentia saudades dela, muitas.

Meus pais morreram de acidente. Com a perda da sua única filha, minha avó criou meu irmão e eu, nos suprindo de carinho, ela encanou seu sofrimento por perder sua filha amada e nos deu uma vida digna, ela era minha base, meu exemplo de força e superação. Diversas vezes quis trazê-la pra cá, mas ela era irredutível. Charles meu irmão mais novo, morava com ela, mas sabe aquele ditado: Antes só que mal acompanhado? Pois é, minha vó ficaria melhor sozinha.

Quando Charles nasceu, eu tinha 10 anos, éramos tão unidos, ele era meu irmãozinho amado, as coisas mudaram quando ele entrou na adolescência, eu sequer o reconhecia mais, passamos a nos desentender muito. Agora com 22 anos, meu irmão era praticamente um desconhecido e na maioria do tempo, ao invés de sentir amor, eu queria esganá-lo com minhas próprias mãos, ele só fazia merda e embranquecia ainda mais, os cabelos da minha vó.

Acabei saindo de casa para não piorar as coisas entre nós, eram brigas em cima de brigas, o ambiente era horrível. E também porque eu tinha o sonho de entrar no UFC, achava que aqui nessa cidade, eu teria sorte, eu era muito bom e lutava desde os cinco anos.

Hoje com 32 anos, a vida me mostrou que alcançar o topo, não era nada fácil, tinha milhões de lutadores tão bons quanto eu,  então me tornar um campeão famoso, acabou ficando em segundo plano, era tipo um daqueles sonhos impossíveis, agora meu foco, era outro, abrir minha própria academia.

Dei um suspiro antes de entrar na academia em que treinava, Charles era um chute nos meus ovos, hoje eu iria treinar pra valer, pois iria imaginar socando a cara idiota dele. A primeira coisa que vi quando entrei, foi a minha ex-namorada, Paloma.

- Jesse! Eu pensava que você não chegaria nunca!- Ela veio correndo e me abraçou, sua boca pousou em meus lábios e nos beijamos rapidamente. Pois é, ela perdeu o título oficial, mas a gente se pegava sempre que dava.
- Estava falando com minha avó – Disse me afastando e ela fez beicinho. Paloma sempre teve ciúmes de mim, ela não gostava de me dividir com ninguém. Ela não falava nada, porque sabia que eu não tolerava essas palhaçadas, minha família vinha em primeiro lugar, sempre, mas eu não era cego para não enxergar o bico horroroso que ela sempre fazia.
Ela disfarçou a raiva tomando o capacete das minhas mãos e deu um sorriso falso. Minha relação com ela se resumia a sexo, eu não dava a mínima para o que ela sentia fora do quarto, pra ser sincero, ás vezes nem dentro, ela não merecia.

- Entre no ringue campeão, ficarei aqui te esperando- Piscando ela saiu rebolando, meus olhos imediatamente conferiram sua bunda. Lambi meu lábios, ela era gostosa demais, por isso ainda estava com ela.

Levei meu tempo me exercitando, quando treinava o mundo lá fora deixava de existir, não sabia quanto tempo estava dando golpes naquele saco, só sabia que era analisado. Era impressionante, como Paloma ficava me observando feito uma boba. Não sei o que ela via de tão interessante, tirando o fato de eu ser bonito claro, mas achava isso tão estranho, ficar olhando um homem bater num saco.

Minha cor moreno claro, juntamente com meus 1;83 de altura e meus 98 kg chamava atenção, eu era um cara grande. Sendo Lutador de MMA invicto na categoria peso pesado, eu era perigoso, definitivamente assustador, bem, eu achava que era né? Paloma dizia que eu tinha cara de bebê, isso me irritava pra caramba. Para um lutador, parecer um bebê, não era um elogio muito agradável, mas definitivamente beleza, não era meu problema.

Isso me incomodava muito. Odiava que algumas pessoas enxergassem apenas isso em mim. Parecia que eu era um objeto, um mero pedaço de carne, ás vezes, me sentia num açougue.
Paloma era assim infelizmente, ela não gostava de Jesse o homem, ela gostava de Jesse a besta do Ringue! Ela não era nenhuma coitadinha nesse nosso acordo, Paloma era egoísta e interesseira.
- Essa é a melhor parte do dia, quando te vejo assim, todo suado! - Sua mãos espalmaram meu peito melado.

- Eu amo seu sabor, baby!- Sensualmente, ela bateu sua língua em minha pele. 

- Vamos ao vestiário, são 19:00h. Ainda temos uma hora e meia, antes de seu treinador chegar-
Quando suas mãos deslizaram no meu abdômen, era o fim, eu já estava pronto.

 Mesmo tendo que receber a encomenda da minha vó, não parei. Dessa vez Paloma viria em primeiro lugar, não dispensaria seu corpo quente, por causa de um pote de doce, se o carteiro aparecesse, (o que eu achava impossível) ele que voltasse amanhã.

                                                                                 ***

A chuva bateu no meu corpo tão forte que me causou dor, andar de moto 80 km/h sem camisa debaixo de uma tempestade, não era prazeroso. As ruas estavam silenciosas, afinal, quem sairia de casa à meia noite para enfrentar um dilúvio?
Quando cheguei à minha casa, notei alguém sentado na calçada, o barulho da moto sequer despertou sua atenção. A louca estava dormindo? Que tipo de idiota, dorme debaixo de um temporal? Era uma mulher.

Ela estava abraçada a seus joelhos com a cabeça abaixada entre eles. Se ela fosse inteligente procuraria uma varanda para se proteger por três motivos, um: Minha casa obviamente não tinha cobertura. Dois: Não pago para fazer sexo, se ela era uma garota de programa desesperada querendo grana, se molhou à toa. Três: Detesto estranhos na minha porta, então, encontrar alguém de madrugada como um cachorro molhado dificultando a entrada à minha residência, não era o jeito certo de começar uma amizade comigo, não mesmo. Iria enxotá-la agora mesmo! Ela que fosse procurar outro lugar!
- O que diabos você faz aqui?- Perguntei ríspido, enquanto os olhos mais negros que já vi me encararam assustados.


2º ROUNDOnde histórias criam vida. Descubra agora