Round 32- Bê!

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Eu balançava meu corpo para frente e para trás em nervosismo, alheia a tudo. Alheia ao fato, de que o cara que bagunçou o meu mundo, estava sentado bem ao meu lado, ele era apenas uma presença insignificante que mal se notava, eu estava preocupada demais com o bem estar de Jesse, para perder tempo com Charles e a raiva por tudo o que ele tinha me causado.

Por que ele não foi embora com os policiais?

- Vai ficar tudo bem, gata. Cirurgias são demoradas mesmo... Você quer um café?

A voz dele era suave, quase hesitante, como se escolhesse as palavras que deveria usar. Assenti com a cabeça apenas para que ele saísse do meu lado, queria ficar sozinha, Jesse estava na sala cirúrgica para operar seu braço e eu achava hipocrisia demais de Charles, estar aqui fingindo se importar por algo que ele mesmo ocasionou.

Respirei fundo quando ele saiu para buscar o café, durante muito tempo tinha sonhado com esse reencontro, com ele se ajoelhando pedindo meu perdão, comigo estapeando seu rosto estúpido, meu coração acelerando com a raiva e amor, pensei que teria que respirar pausadamente para não enfartar, mas quando seus olhos azuis cravaram em mim, tudo o que senti, foi nada.

Nem um simples descompasso, nem sequer raiva, pena, ou outro mísero sentimento, era como se eu estivesse vazia. Como se quaisquer sentimentos houvessem sido drenado do meu peito.

- Pronto... Mandei colocar bastante leite, daquele jeito que você gosta.

Disse solícito, - Não vai tomá-lo?

Ele perguntou, quando simplesmente rejeitei o café na mesinha de centro.

- Não estou bebendo mais café. A cafeína prejudica meu sono.

- Olha, Nicole...

- Não Charles, olha você - O interrompi, mas minha voz era calma até para meus ouvidos - Não quero você aqui, não quero a sua companhia, suas palavras falsas de conforto, nem seu café estúpido, não quero conversar agora, se você não percebeu, estou aflita, o cara que eu amo, veja bem, eu disse o cara que EU AMO, está numa sala cirúrgica agora, não quero ficar de papinho furado com quem o mandou para cá, então, por favor, faça o que você tem feito durante todos esses meses, deixe-me sozinha!

Seus olhos cintilaram em dor, se era uma dor simulada ou verdadeira não sabia, mas eu tinha mais o que fazer ao invés de testemunhar isso.

Levantei-me indo para outra ala do corredor, mas ele seguiu atrás - Espera... Tudo o que aconteceu não foi porque eu quis, quando eu soube que seria pai, só queria dinheiro para comprar uma casa melhor para gente, para te pedir em casamento e te dar a festa dos seus sonhos, um casamento de princesa do jeito que você sempre sonhou.

Eu ri batendo minhas mãos na minha perna num gesto brusco.

Isso tudo foi por uma porcaria de festa?

- Obrigado por tentar fazer isso por mim, mas era melhor não ter feito nada, só serviu para me mostrar que toda essa coisa de festas, pedidos românticos, às vezes não passam de uma grande baboseira. Eu já fui pedida em casamento Charles, e foi tão simples, tão real, Jesse não precisou sequer se ajoelhar, às vezes menos é mais. Muito, muito mais.

Minhas palavras pareciam o esfaquear.

- Me perdoa, Nicole? Por favor? Sei que palavras não apaga tudo o que aconteceu, mas eu estou tão arrependido -

Sua voz quebrou num lamento, numa outra época eu choraria junto com ele, mas agora nada me comovia, eu estava oca.

Suas mãos estavam nervosas, quando ele tirou as chaves do bolso e pôs na minha mão - É a chave da casa, se você quiser pode mudar para lá hoje mesmo. O quarto do Júnior é lindo, você vai amar.

2º ROUNDOnde histórias criam vida. Descubra agora