Round 30- Sansão

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JESSE RYAN

Eu estava por um fio.

Eu podia sentir o monstro do descontrole querendo cavar as unhas em meu corpo. Ele estava quase me alcançando e se eu cedesse, não seria uma porra bonita.

Eu me abaixei em meus punhos para mais uma flexão. Perdi as contas de quantas tinha feito, seria aquela a centésima, quadragésima, vez? Foda-se, se eu sabia.

Só sabia que fazer exercício, era a válvula de escape que me impedia de chegar ao meu ponto de ruptura.

O suor escorria por todo o meu corpo e meus músculos já estavam doendo, mas eu não parava, parar significava pensar em Nicole, pensar em Nicole significava um conjunto de sentimentos que me levavam a loucura.

Onze dias sem ela. Onze, porra!

Eu tinha dois círculos roxos nos olhos, causado por noites mal dormidas, estava tão feio que poderiam me confundir com um urso panda.

Eu tinha medo de dormir. Porque quando eu abaixava minha guarda, era a hora que meus pesadelos me atacavam. Sonhos em que eu a perdia para sempre, que esses homens a machucavam. Pesadelos em que eu era derrotado no ringue e o bebê tirado de nós.

Era tanta merda apavorante, que eu acordava tremendo e suando. Então eu olhava em volta e ficava louco com a ideia disso se tornar real.

Eu tinha medo de nunca mais tê-la em meus braços, de nunca mais ouvir seus dramas, seus gritos bobos quando ela via uma simples barata, seu riso horroroso, o modo como ela franzia a testa e ajustava seus óculos, suas reclamações que me davam nos nervos... E foi então, que percebi que amava até seus defeitos.

O que diabos faria da minha vida sem ela?

Não pensa nisso, caralho!

Interrompi os exercícios quando Victor abriu a porta, olhar para esse cara agora, era perigoso tanto pra ele, quanto pra mim.

Sentei para um descanso e fechei meus olhos fazendo de conta que estava sozinho. Suspirei entediado, estava sozinho mesmo, porra.

- Tem outra luta para você amanhã. Era para eu ter dito na luta passada, mas esqueci.

Ele disse sentando-se numa poltrona frente a mim.

Eu estava enjaulado num quarto de tamanho médio, com uma cama de solteiro, banheiro, e alguns itens para distração. Tinha um saco de boxe, pesos de musculação, cordas, até uma maldita esteira, eu me sentia um rato de laboratório.

- É bom que você esteja treinando, o cara que você enfrentará é bom. Muito bom... Duvido que tenha batido de frente com alguém como ele, o chinês parece reencarnação do Bruce Lee.

Ele deixou implícito que eu iria perder. Parecia torcer por isso. Levei minhas duas mãos ao rosto e respirei dentro e fora um par de vezes, eu estava tão cansado... Malditamente cansado.

- Estou falando com você, está surdo caralho?

- Você quer conversar, Victor? Tenho mil coisas para dizer, mas talvez você se irrite com meu tom. Quer ouvir? Então, guarde suas armas que eu vou guardar meus punhos, e teremos uma conversa de homem pra homem.

Falei calmo, eu mal reconhecia minha própria voz.

- Como eu estava falando, o cara é bom, a sua luta de número 30 seria com ele, aquela que perderia, mas o dono dele já ficou sabendo de você e fez uma proposta, proposta grande. Então... Você já sabe o que tem que fazer. Ganhar! Você terá que ganhar ou...

2º ROUNDOnde histórias criam vida. Descubra agora