Round 4-Banho gelado

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Nicole...

Onde eu vim parar?

Fiz essa pergunta enquanto me sentei tremendo na cama do meu cunhado. Coloquei a mão no meu coração que batia enlouquecido e respirei profundamente.
Que medo! Será que era seguro ficar aqui?
O cara parecia um louco, ele me chamou de boba e o que foi que eu fiz? Corri. Agora era a bobona assustada.

Eu amarrei meu cabelo num rabo de cavalo pensando nas suas ultimas palavras. ele disse que não me queria.
Graças a Deus que não queria, eu hein! Eca. Eu estava começando a achar que os homens dessa família não batiam muito bem da cabeça.

-Tomara que você puxe pra mamãe!- Alisei a minha barriga reta feito tábua. Não importava se tinha apenas um mês de gravidez, agora havia uma vida dentro de mim e eu tinha que conversar com ele, não podia abandoná-lo também.

-Mamãe vai te ensinar a ser um homem com H maiúsculo... Com certeza você vai ser tão bonito quanto eles, mas não será um louco como seu tio e nem um covarde feito seu pai!-
Imediatamente mudei meu tom de voz, estava irritada e isso não era bom.

-Eu não estou brigando com você não, viu? Mamãe só está cansada, espero que você seja homem, ser mulher é tão estressante que você não faz ideia.

Eu deitei minha cabeça no travesseiro e gemi com o esforço de me virar para o outro lado, minhas costas estavam doloridas da viagem. Meu corpo estava cansado e minha cabeça cheia de pensamentos.
Minha vontade era de levantar e ir embora daqui, o problema que eu nao tinha nenhum lugar para ir. Eu estava tão irritada que se eu pudesse exterminaria todos os homens da face da terra.

Fechei os olhos e imaginei o que faria quando visse Charles de novo, primeiro deixaria ele se humilhar bem muito, queria ele de joelhos pedindo meu perdão, depois quando ele estivesse quase morrendo de tanto chorar, pegaria na mão dele e pediria que se levantasse.
Ele então, daria aquele sorriso lindo com covinhas, e eu claro me derreteria por dois segundos, depois o beijaria muito, muito mesmo, porque eu continuava o amando apesar de tudo.

Cochilei pensando em Charles, acordei quando senti o colchão afundar. Senti o frio percorrer meu corpo inteiro e fiquei parada feito uma estátua fingindo dormir, o homem ao meu lado ficou quieto e manteve-se longe como prometido.
Eu adormeci novamente ouvindo sua respiração ritmada e pensando nos dias em que estaria nos braços do pai do meu bebê.

***

Eu tinha dormido o sono dos justos, apesar da minha insegurança de dormir ao lado de outro homem, eu cai na cama, dura feito uma pedra, eu esperava acordar totalmente entrelaçada à Jesse. Eu me mexia durante o sono mais que a preguiça Cid da Era do Gelo, então meio que tinha previsto que acordaria babando no peito do meu cunhado.

Mas a minha surpresa foi grande, quando ao invés de despertar com abraços quentinhos, acordei com um baita banho gelado.
Dei um grito horrível.
Parecia que eu estava morrendo afogada. A água jogada no meu corpo foi como punhal perfurando a minha pele. Santo Deus! Quem tinha coragem de fazer uma maldade dessa?

-Mas que merda é essa, porra?-
Jesse gritou ao meu lado rasgando fora da cama, suas mãos fechadas em punhos enquanto ele encarava a mulher com um balde na mão, ela estava furiosa e eu completamente desnorteada e com medo de ser atacada a qualquer momento.

-Eu que pergunto que porra é essa, você está me achando com cara de idiota, Jesse?-
A moça respondeu no mesmo tom, era óbvio que se tratava de sua namorada.
Eu que não ia ficar aqui.
Me levantei encharcada e corri para o pequeno banheiro antes que ela voasse no meu pescoço.
Tranquei a porta para ninguém entrar e fiquei escutando os dois gritando.

-Ela é a namorada do meu irmão. Você acha que eu ficaria com uma mulher como ela? Faça-me o favor Paloma!-

Uai! O que eu tinha de errado?

-Ela é uma mulher, e um homem e uma mulher juntos na cama resultam em sexo. Ela está com sua camisa, me poupe, eu não sou idiota.

-Sim, você é idiota. Devia me conhecer melhor, não sou um traidor, prefiro morrer na seca do que tocar nessa garota.

Prefere a morte que a mim? Será que eu era tão repugnante assim? Será que Charles pensava isso também e por isso me abandonou?
Eu senti meu estômago se retorcer com esse pensamento absurdo, Charles me ama, eu sei! Ele vai voltar! Ele tinha que voltar e me tirar desse lugar!

Eu abracei o vaso sanitário tentando me concentrar na tarefa de por meu jantar para fora e abafar os gritos de Jesse, mas até surdo escutaria sua voz irritada.

-Chega, Paloma! Não te devo satisfação, você não é mais a minha namorada. Quem é você para exigir alguma coisa? Voce não é porra nenhuma. Não te dou liberdade para fazer uma merda dessas, faça o favor de devolver a chave da minha casa e sumir da minha vida!

-Você está terminando comigo para ficar com ela?

-Terminando o quê? Que diabos você pensa que tem comigo? Você é só alguém que abre as pernas pra mim e que eu como quando estou a fim. Agora cai fora da minha casa.

-Ah agora você quer que eu caia fora não é? Já encontrou outra para abrir as pernas para você.

-Não é porque você é uma safada que todas as mulheres também são, Paloma. Vaza garota! Chega de falar tanta merda.

-Jesse você não pode fazer isso comigo!- Escutei Paloma, implorar.

-CAI. FORA. DA. MINHA CASA!- Ele gritou, essa menina era muito corajosa, porque se fosse eu, já estaria longe há muito tempo.

-Você vai se arrepender, Jesse!

A porta do quarto bateu estremecendo toda a estrutura, eu vomitei mais um pouco assim que a ânsia invadiu minha garganta, isso não era só enjoo matinal, era nojo de mim mesma por destruir o relacionamento dos outros, quando eu me tornei essa pessoa?

Quando não tinha mais nada para por para fora eu me levantei, pernas tremendo porque essa era minha rotina todas as manhãs e ela sempre me deixava fraca.

- Ei! Você vai ficar o resto da vida aí dentro? Eu preciso usar o meu banheiro! -
Seus punhos esmurraram a madeira e pulei assustada, se eu pudesse escolher, preferiria passar o resto da vida com minha cara atolada no vaso sanitário do que sair e encarar Jesse.

Joguei água no meu rosto e quando abri a porta do banheiro nem ousei levantar minhas vistas, estava amedrontada demais para isso.

-Vamos sair em dez minutos, vou resolver essa situação de uma vez por todas! É melhor que você se arrume rápido, não estou com muita paciência hoje.

Não consegui abafar o grito que dei pela porta fechada com ignorância, eu ia acabar ganhando meu filho antes da hora com tanto susto. Meu estômago começou a gelar com a pespectiva de um futuro incerto. Onde ele ia me levar, teria comida? Eu tinha que comer por dois não poderia passar fome.
Comecei a ficar apavorada.
O mesmo medo que senti quando àqueles homens queimaram minha casa era o mesmo que estava sentindo agora, não sabia onde poderíamos ir, mas pela raiva, imaginava que fosse para bem longe daqui, devia estar indo me despejar em algum abrigo. Ou seria uma ponte? Um beco, um viaduto?
Ai meu Deus! Por que ninguém consegue ficar comigo?

O sentimento de rejeição me sufocou. Por que eu sentia que era um estorvo para todo mundo?

-Vai ficar tudo bem, bebezinho... Vai ficar tudo bem.
Com as lágrimas escorrendo livremente eu conversei com a única pessoa no mundo que fazia com que eu me sentisse importante e especial, enquanto esperava Jesse sair do banheiro e decidisse meu novo destino.

Estava perdida!

2º ROUNDOnde histórias criam vida. Descubra agora