Capítulo 4

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Gerard esperava Frank encostado ao seu carro no fim do dia. Acabara de sair do treino e o outro disse que tinha um trabalho no laboratório de química, então só lhe restava esperar.

"Você 'ta mentindo, Frank." Matt dizia, enquanto era arrastado pelo garoto desgrenhado de óculos tortos.

"Você vai ver só." Frank riu e soltou o amigo, arrumando a mochila jeans nas costas para andar tranquilamente para fora da escola até o estacionamento.

"Hey, onde você vai moleque doido?" Matt correu em sua direção, mas parou ao ver Gerard de longe acenando para Frank. "Não acredito que o filho da Linda tava falando sério!"

Frank, após acenar para Gerard, virou para trás, fingindo que acenava para Matt enquanto fazia uma careta e silabava um 'toma, toma, toma!' e virou-se normalmente, como se nada estivesse acontecendo.

Entrou no carro de Gerard e indicou que podiam ir. Foram calados até a casa do menor – o silêncio cortado apenas pelas buzinadas de Gerard para algum motorista imprudente.

O jogador estacionou na vaga do pai de Frank, já que ele só chegaria do serviço tarde da noite, e entrou na casa do pequeno um tanto tímido.

"Manhê!" Frank gritou assim que chegou, limpando os pés no tapete. "Fique à vontade, Gerard. Eu só vou avisar para a mãe que eu cheguei." Disse, antes de correr para a cozinha.

Gerard caminhou pela sala da casa do menino analisando quase tudo; os móveis um tanto gastos, mas perfeitamente limpos, os quadros falsos de artistas famosos reproduzidos amargamente em molduras de plástico, os portas-incenso indianos e principalmente os vários porta-retratos que haviam ali.

Eram várias fotos dos Iero, desde uma do casamento dos pais de Frank até dele bebê, criança, vestido de anjo, de ursinho – o que fez Gerard rir – e da família inteira junta, abraçados.

Gerard pegou esta foto em particular e segurou-a cheio de melancolia, capturando o momento de felicidade daquela família para si. Queria tanto saber como era. Queria tanto ser amado assim, como Frank parecia ser.

Ele lembrou-se do dia do incidente com Frank, em que ele esperou um tempo por notícias do lado de fora da enfermaria e viu os pais do menino chorando abraçados, temendo pela saúde do filho. Gerard pensou que, se fosse ele no lugar de Frank, talvez os pais nem fossem vê-lo. Não teriam tempo.

Ele ouviu uma risadinha e deu alguns passos até próximo à cozinha, vendo Frank agarrado à cintura da mãe, que arrumava o cabelo dele enquanto dava beijos pela bochecha do garoto.

Ela notou o curioso espectador e sorriu, chamando-o para mais perto um Gerard extremamente constrangido. Separou-se do filho e aproximou-se dele.

"Oi filho, bem-vindo à minha casa. Desculpe, ainda estou de avental." Ela disse, abraçando-o sem pedir licença e Gerard abriu um tanto os olhos, dando tapinhas de leve nas costas da mulher, um tanto sem jeito. "Podem ir estudar, eu levo um lanchinho mais tarde."

"Okay, mãe." Frank respondeu, vendo a mãe se afastar do jogador e tirou o terno do uniforme, entregando-a e chamando Gerard para seu quarto.

"Você tem um quarto bem exótico, Frank." Gerard comentou, erguendo os olhos para a coberta de super heróis sobre a cama e olhando os inúmeros pôsteres de bandas que tinha no local. "Misfits? Kiss? Ali é o Ozzy?"

"Gosto de música." O menor respondeu com um sorriso sincero. Arrumou a escrivaninha onde sempre estudava e foi até o quarto dos pais pegar uma cadeira da escrivaninha deles para Gerard sentar. "Aqui."

"Obrigado." Gerard disse, enquanto colocava a bolsa em cima da cadeira para pegar os livros, quando olhou uma capa preta escondida num canto da parede. "Aquilo é um violão?"

"Guitarra." Frank falou, tirando um livro de física que mais parecia a bíblia sagrada da bolsa.

"Você sabe tocar?" O jogador perguntou e o outro só assentiu, coçando a bochecha. "Bom."

"Você trouxe alguma dúvida, posso olhar seu caderno?" Na verdade, não podia.

Gerard havia mentido sobre não entender da matéria porque queria algum contato com Frank. Ele era um ótimo aluno, assim como era um ótimo atleta e isso era o que fazia a sua fama na escola. Mas Frank não sabia – ele pensava -, então ele deixou para lá.

"Na verdade não. Não tenho muitas anotações e... Eu queria aprender tudo a partir do começo do semestre. É pedir demais?" Perguntou, um tanto receoso.

"Claro que não. Melhor assim, seguimos uma linha de raciocínio."

Frank começou a falar sobre o surgimento da física e como ela mudou a humanidade. Sobre como os físicos foram perseguidos pela igreja e que algumas de suas descobertas foram consideradas heresias e riu-se ao lembrar a si mesmo que não era uma aula de história.

Gerard de vez em quando perguntava algo completamente fora de questão, como o que significava a frase do começo do pôster do Iron Maiden (mesmo sabendo) e sobre o final de Star Wars, mas Frank respondia rápido e continuava a falar de gestores e cálculos.

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