Foi com muita dificuldade que Gerard levantou-se do chão e pôs-se a andar pelos corredores. Ele apenas resolveu seguir o caminho de onde, aparentemente, os tiros haviam saído e ver Frank. Sabia que não tinha forças suficientes para brigar, para se vingar ou mesmo para sentir.
Ele só queria que tivesse tido tempo. Tempo para pedir perdão a Frank por tudo, por todos os anos de ignorância, de burrice. Por ter pensado tão mal dele quando Frank fora a única vítima da situação. Gerard sentiu-se morrendo aos poucos a cada passo que dava, pensando que veria seu menino estendido no chão, morto, da mesma forma como havia visto a sua mãe anos atrás.
Tanta angústia... tanta remorso... uma perda tão grande.
Gerard não podia crer no quão infeliz sua vida seria. Não podia crer no quanto ainda amava Frank e não sabia o que faria depois de tudo. Parecia que anos de estabilidade haviam se esvaído com tantas novas e sofríveis lembranças que assolavam seu peito já muito pisado pela vida.
Engraçado como a culpa tortura as pessoas nos piores momentos; engraçado como sempre, em situações extremas, podemos sentir que algo mais podia ser feito, que tudo podia ter sido diferente, que a vida que sonhamos era possível se um passo errado que demos não tivesse sido executado...
...mas esquecemos que a vida não é feita apenas de um passo, mas de vários. Muitos passos foram perdidos por Gerard e ele apenas não podia ver com tanta dor cobrindo seus olhos em um momento tão triste. No momento em que ele havia descoberto um amor jamais rompido e o rompimento de uma possível mudança em sua vida. O rompimento do sonho possível. O rompimento de seu coração.E no fim daquele corredor que dava acesso ao gramado aberto da escola, Gerard fez uma promessa muda e idiota a seu ver; ele prometeu que se Deus pudesse lhe dar mais uma chance, apenas mais uma chance, ele poderia aproveitá-la, ele não deixaria ela escapar, ele seria feliz com Frank, com seus filhos, ele se daria a chance de ser feliz mais uma vez...se pudesse.
Gerard demorou a dar o último passo que o separava do gramado. Antes de fazê-lo, ele olhou para as sombras de luzes que vinham do céu e fechou os olhos, andando de forma que não via para onde os pés o guiavam nas primeiras pisadas.
E foi como um milagre – ou como um forte soco, ou um desfibrilador descarregando em seu peito – que Gerard encarou tudo o que viu quando abriu os seus olhos embaçados pelas lágrimas;
Frank estava sentado no chão muito machucado, os olhos muito abertos e assustados e uma de suas mãos segurava o braço esquerdo, enquanto ele olhava para os lados muito perdido. O rapaz encarou Gerard e apenas com o olhar ele pôde dizer tudo o que sentia.
Me desculpe.Eu sinto muito.Eu não sabia...
Mas Gerard teve que ignorar um pouco o seu pequeno quando percebeu que eles não estavam sozinhos. Ele olhou para o lado e notou o homem vestido de preto que segurava uma arma e apenas o encarava calado e curioso, mesmo que sua feição fosse um pouco irritada.
"Allman? Quinn Allman? O que..." Gerard negou com a cabeça, pensando se não estava louco. Quinn deu uma risada enviesada e guardou a arma no cós da sua calça, se chegando perto de Gerard, que recuou.
"Boa noite para um baile, não é verdade?" Quinn disse e passou por Gerard, indo em direção aos corredores da escola.
"O...ei, para onde você vai?" Gerard perguntou, indo em direção a Quinn e pondo a mão em seu ombro. "O que você fez? Por que está aqui?"
"Por que ninguém mais está." Respondeu de imediato. "Por que um dia, Gerard, eu estive nesse mesmo lugar com mais três babacas e fiz coisas das quais me arrependi a vida inteira." Engoliu em seco e deu uma fraca risada. Olhou para Frank, que tremia sem parar em seu lugar e voltou a olhar para Gerard. "Espero que um dia vocês possam me perdoar pelo que fiz. Todos merecem uma segunda chance." Quinn desviou da mão de Gerard e continuou andando. Parou uma última vez e olhou para trás. "Até vocês merecem uma segunda chance. Espero que se permitam.""Allman, onde está Ray?" Gerard ainda gritou, mas Quinn já havia ido embora
E sumido na escuridão sob o olhar confuso do jogador.
Gerard voltou a olhar para Frank, que já não mais parecia tão assustado; mas o rapaz estava com o rosto se contorcendo aos poucos e Gerard viu seu peito subir e descer com força até que ele começasse a chorar, uma das mãos cobrindo seu rosto triste.
Mas Gerard, antes de se aproximar, teve que dar um sorriso e teve que olhar novamente para o céu, xingando Deus e lhe perguntando qual a sacanagem irônica daquela situação. Sentiu-se abençoado naquele momento e sentiu que podia então dar seus passos até Frank sem o remorso de não ter agradecido pela promessa cumprida.
Ele chegou-se em Frank calmamente, o abraçando com força e o abrigando em seus braços. Frank chorava de forma tão verdadeira que os soluços o faziam não conseguir proferir palavras inteiras, sua voz saindo engasgada e embolada pelo desespero e o pânico que o haviam dominado depois de um tempo.
Foi como se ele tivesse percebido o que havia se passado. Como se ele tivesse acabado de descobrir que não era apenas mais um sonho ruim. Que tudo era real. Ele agarrou a camisa de Gerard com força, puxando o tecido e sussurrou dificilmente:
"Eu sinto muito..." Parou e tossiu. "...eu sinto tanto..."
"Eu também." Gerard respondeu, acariciando o cabelo fino de Frank e o embalando. "Eu também, meu amor..."
"Gerard, eu não sabia... eu não...fazia idéia, eu..."
"Shh..." Fez o outro, sorrindo bobo em um abraço. "Está tudo bem. Vai ficar tudo bem." Beijou o rosto do rapaz e logo sua boca, que tinha um gosto salgado de lágrimas. "Está tudo bem, meu amor."
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Seventeen
Teen FictionEu aprendi a verdade aos dezessete anos Que o amor foi feito para belas princesas E normalistas com pele e sorrisos claros Que se casavam cedo e então sumiam Os namorados que nunca tive As noites de suspense e charadas Eram gastas com outras m...