Gerard o observava. Frank sentia isso. Não precisava olhar – e nem olharia – para ter certeza e nem precisava ter visão holística para saber. Oh sim, Gerard estava encarando a direção onde o menino estava sentado.
Frank estava pouco à vontade com isso e coçou a bochecha tantas vezes que sentiu uma ardência no local. Matt, que sentava ao seu lado, percebeu a óbvia reação do colega.
"Hey. Psiu." Chamou Frank baixinho e só recebeu um 'hmmm' como resposta. "Você está bem?"
O garoto olhou para o amigo, os olhos túmidos dando uma resposta clara.
"Oh, bem. O que aconteceu?" Matt se inclinou na cadeira, mas, ao pigarro do professor Molko, que o encarava, voltou à sua posição inicial.
Quando o professor virou-se para o quadro, Frank cutucou Matt e aproximou o rosto do amigo. "Eu 'to tão ferrado, cara!"
"O que aconteceu?"
"Sr. Iero, Sr. Good. Querem conversar na diretoria?" O professor falou, com os braços cruzados em frente ao peito.
"Claro senhor." Frank se adiantou, ouvindo risadinhas pela sala e um olhar surpreso de Matt, que o seguiu, saindo da sala.
Ultrapassando o corredor, Matt puxou o amigo pela manga da camisa.
"O que você tem? Está louco? Nunca fui para a diretoria!"
"Nem vai. O Dave me deve uma, lembra aquela prova de biologia?" Pausou. "Preciso falar com você, tanto."
Não precisou repetir. Matt sorriu e abraçou-o por cima dos ombros, o arrastando dali para uma das salas que abrigavam os equipamentos velhos da escola.
"Aqui está bom." Matt disse, sentando em cima de um grande ar-condicionado velho. "Então?"
"Matt, o Gerard me beijou." Frank sussurrou, soltando o ar profundamente dos pulmões, como se tivesse murchado.
"O Gerard te beijou. O Gerard te beijou?" Saiu afetadamente, e Frank não pôde deixar de rir, mesmo que estivesse nervoso. "Caralho! Como isso?""Eu... eu não sei. Eu estou confuso. O Gerard, Matt... ele... apareceu do nada, antes eram só fantasias sabe? E nos últimos dias ele tem me levado para lugares e feito coisas comigo...."
"Coisas? Tipo, que coisas?" Matt ergueu uma de suas sobrancelhas e Frank praticamente o cortou com o olhar. "Ah... só coisas. Normais. Certo."
Coçou a bochecha, as têmporas, bateu nas pequenas coxas e sentou-se ao lado do amigo. Frank estava tão nervoso que Matt temeu por seu coração.
"Que bom que fomos expulsos de sala. Assim ele não pode me abordar no intervalo." Frank falou, tristonho.
"Você sabe que não vai poder evitar contato com ele para sempre, não é? Essa escola não parece, mas é um ovo."
"Eu sei."
Ouviram a confusão de vozes aumentarem gradativamente do lado de fora e ambos suspiraram.
"Eu fico aqui, você pode ir Matt. Sei que você e o Jared se vêem sempre no intervalo."
"Posso ficar aqui hoje."
"Pode ir, estou bem."
Matt hesitou um pouco antes de ir, mas foi. Frank encolheu-se no canto onde estava e encarou o tênis manchado na ponta.
O que estava acontecendo?O vento forte fez Frank se arrepender de ter perdido o ônibus. Mas também, como ele conseguiria pegá-lo, se Gerard estava no ponto, parado como um vigia, provavelmente à sua espera?
Ok, isso tinha se tornado presunçoso de pensar – Frank dizia a si mesmo - mas não era a verdade? Depois de um longo tempo – que ele não sabia quanto durara – Gerard colocou seus óculos escuros e foi em direção ao seu carro, indo embora, desistindo de esperar.
O garoto andou encolhido, apertando contra o peito o paletó fino, sabendo que de nada adiantava. Iria gripar, repetia mil vezes para si mesmo.
Quando finalmente chegou em casa, abrindo a porta desanimado, sua mãe apareceu da cozinha um tanto alegre, as bochechas sujas com o que parecia molho de tomate e uma colher na mão.
"Oh, querido..." Ela tentou dizer, mas parou quando viu Frank correr pelas escadas enquanto falava que não queria jantar. "...mas eu só queria te avisar que você tem visitas..." Linda deu de ombros e entrou na cozinha.
Frank sacudiu os ombros para tirar uma das alças da mochila das costas enquanto atravessava o corredor fino. Parou em frente à porta do quarto e antes que tivesse a chance de abri-la, alguém, que estava dentro o fez. E foi Gerard.
"Oi Frank." Ele falou um tanto presunçoso. "Estava te esperando, bem, desde muito tempo. Você demorou."
"O que você está fazendo aqui?" Frank perguntou, entrando no quarto esbarrando pelo jogador.
"Eu já disse, estava te esperando." Respondeu, observando Frank nervosamente colocar as suas coisas nos lugares. "Eu queria falar com você."
"Falar sobre...?" Estava se fazendo de idiota e Frank odiava essas suas atitudes, coisa de quem não sabe lidar com situações.
"Sobre o beijo de hoje de manhã." Respondeu o jogador, encostando-se na parede próxima à porta e cruzando os braços.
"Eu sei que você se arrepende. Não vai ficar nada mal entendido entre nós." O outro disse, de costas para Gerard, respirando fundo logo em seguida.Fechou os olhos por um momento, esperando a resposta que não veio. Ao contrário, sentiu o calor de um corpo próximo ao seu e uma respiração lenta que fazia os pêlos de sua nuca se arrepiarem.
Gerard pousou as duas mãos sobre os ombros de Frank e encostou a testa nos cabelos do garoto, o seu peito encostando às costas dele. Sentiu os fios tão finos de Frank roçar em seu rosto e sorriu, ao deslizar um pouco para o lado do rosto do pequeno para sussurrar.
"Eu não me arrependo, Frankie."
Frank ofegou. Não queria, mas seguidas vezes suspirou, a sua mão subindo rápida e pousando sobre seu peito.
"Eu não me arrependo..." Gerard repetiu, descendo as mãos dos ombros do menino até suas costas, deslizando-as por ali até parar em sua cintura magra. "...mas se você não gostou, eu..."
"Eu gostei." Frank sussurrou em um engasgo, fazendo o outro rir disso. "Está rindo de mim?" Ele perguntou, se separando abruptamente de Gerard e virando para olhá-lo.
"Não. Estou rindo de mim." Gerard respondeu, passando uma de suas mãos pelos cabelos um tanto compridos.Frank os adorava assim. "Eu pensei... bem, que você estava me odiando, você me deixou daquela forma de manhã..."
Como eu poderia te odiar, Gerard?
Frank, que antes encarava Gerard tão impassível, agora abaixava o olhar. "Nunca poderia te odiar... pelo contrário. Eu gosto de você..."
Fall into you, Is all I seem to do. When I hit the bottle 'cause I'm afraid to be alone.
Gerard se aproximou mais uma vez, seu queixo quase batendo na testa do menor, que mantinha os olhos para os próprios pés. Ele ergueu seu queixo e fez um Frank corado o olhar e sorriu, enquanto acariciava-lhe as bochechas.
Tear us in two, Is all I seem to do. As the anger fades. This house is no longer home.
"Eu...posso?" Gerard perguntou, aproximando o rosto do outro para o seu.Frank estava quase se entregando, os olhos cerrados, os dedos tensos nas mãos, que suavam. Gerard tão próximo, Gerard ali, querendo beijá-lo. Gerard todo para ele. Gerard...beijar seu aparelho...
"Espera!" Ele quase gritou, afastando Gerard com um leve empurrão e correndo para o banheiro.
Don't give up on the dream, don't give up on the waiting...and everything that's true.
"Mas que bosta!" Frank resmungava para si em frente ao espelho, tirando o aparelho móvel da boca enquanto balançava a cabeça negativamente. Merda, merda, merda. Por que tudo tinha que parecer tão mais difícil para ele?
Frank, ao tirar o aparelho, sentiu-se tão bobo, tão idiota, despido, até. Tinha vergonha de sair do banheiro e encontrar Gerard ali, não o querendo mais. Ele o tinha repelido! Frank o empurrou, rejeitou-o. Ele não estaria mais lá. Para quê sair, então?
"Frank? Você está bem?" Era Gerard. Ele ainda estava lá fora. Ele ainda esperava. Por que ele esperava? Frank se achava um nada. Não era bom o suficiente. Era feio. Gerard era lindo. Por que Gerard o queria? "Frank?"
Abriu a porta do banheiro, saindo de lá de cabeça baixa, com vergonha. Mordia o lábio inferior, enquanto levantava aos poucos o olhar para Gerard.
"O... aparelho. Eu fui tirar... o aparelho." Ele sussurrou, rindo de nervoso e balançando a cabeça. "Me desculpe, por isso, eu sei que eu sou ridículo e que você não quer mais, então eu..."
Calou-se. Calou-se da mesma forma como fora calado pela manhã. Pela mesma pessoa. Pela mesma boca. Gerard o havia puxado para perto, os lábios colados aos de Frank como se fossem seus donos, como se pertencessem uns aos outros. Lábios que esquentavam ao roçar natural de um beijo.
Because I want you too. Because I want you too.As mãos agarrando o corpo um do outro, as bocas ávidas unidas, abertas, buscando a umidade uma da outra. As línguas tocaram-se vez ou outra, vezes tímidas, vezes ferozes. Frank não sabia beijar, mas beijava da maneira que achava que era a certa, e Gerard o guiava, era só disso que precisava.
Não ficaram sabendo quanto tempo durou até acabar o longo beijo, que terminou em um abraço. Eles não disseram uma palavra mais. Não precisavam. O que se passava estava além das palavras.
Because I want you.
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Seventeen
Fiksi RemajaEu aprendi a verdade aos dezessete anos Que o amor foi feito para belas princesas E normalistas com pele e sorrisos claros Que se casavam cedo e então sumiam Os namorados que nunca tive As noites de suspense e charadas Eram gastas com outras m...