Capítulo 5

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Após inventar uma desculpa qualquer para o treinador Olsdal, por ter faltado mais um treino, Gerard correu para o vestiário e trocou-se, encontrando Ray e Jeph sentados nas banquetas.

"Olha quem resolveu dar o ar de suas graças." Jeph ralhou, tragando um cigarro que pendia entre seus dedos.

"Olha quem resolveu dar um de engraçadinho." Gerard respondeu um tanto áspero. Estava irritado naquele dia.

Especialmente porque a semana tinha ganhado um ar diferente. Após levar Frank ao seu lugar, ele o tinha levado ao seu restaurante favorito, ao seu boliche favorito (e único de Jersey, mas como Frank jamais tinha ido em um, Gerard aproveitou a oportunidade) e sentia-se murchado por estar onde não queria.

"Wow! Temos alguém esquentado hoje." Jeph disse, sátiro.

"Desculpe, eu só... acho que estou ficando doente e sempre fico meio amargo quando estou assim." Gerard explicou, querendo se livrar da conversa deles.

"Mas é sério, você não têm mais andado conosco, some nos intervalos, falta os treinos. Não é Ray?" Gerard não precisou olhar para saber que Ray estava consternado em seu canto.

"Ele deve ter suas razões." Toro falou baixo.

Gerard soltou mais algumas palavras e saiu do local, deixando os dois a sós novamente.

"O Gerard anda esquisito. Será que ele está nos evitando?" Jeph perguntou ao amigo, dando uma última tragada no cigarro gasto e jogando-o no chão para pisá-lo.

"Sim. Tem algo aí." Ray respondeu, pensativo.

"O que você acha que é?" Jeph não pôde obter uma resposta, pois o treinador fora chamá-los para iniciar o treino.

Mas Ray imaginava o motivo da mudança repentina de Gerard. E Ray faria algo a respeito.

O treino correu tranquilamente, Gerard sempre cobrado um pouco mais do que os outros, para variar. Enquanto os jogadores suavam as camisas no campo, as líderes de torcida ensaiavam as danças para o próximo jogo do campeonato.

Lindsey olhava Gerard de longe enquanto aquecia-se na bancada. Ele era o que lhe faltava, pensava para si. E ela o queria mais do que tudo.

No começo, quando Lindsey soube das suspeitas de que ele poderia vir a ser gay, não ligou muito. Nunca viu Gerard com rapazes, mas tampouco o viu com moças e isso a deixava mais esperançosa e determinada a possuí-lo.

Ela era a chefe das líderes e ele era o líder do time de futebol. Tinha algo mais certo do que eles dois ficarem juntos?

Foi com isso no pensamento que ela largou as meninas treinando e arrumou a saia xadrez do uniforme, andando em direção ao atleta, que descansava de uma seqüência de corrida.

"Oi Gee." Ela sussurrou, sentando ao lado dele no banco.

"Oi Lynz, você está bem?" Perguntou, com um sorriso.

"Sim. Obrigada. Você nem preciso perguntar." Parou um pouco e riu forçadamente. "Estava pensando... você não gostaria de ir à festa na casa da Alice? Tipo, vai ser amanhã e todos vão."

Gerard parou um pouco, registrando as informações e, como se tomasse um choque de realidade, sorriu.

"Claro, seria ótimo." Não deu tempo de Lindsey comemorar. "Mas posso levar alguém?"

Ela o olhou espantada e fingiu que não era nada demais aquilo. Meneou a cabeça e sorriu falsamente para ele.

"Claro." Levantou-se, a saia ondulando nas coxas sendo alisada por suas mãos ágeis, na intenção de arrumá-la. "Vemos-nos lá então."

"Sim, obrigado por convidar." Gerard levantou-se e correu até o campo para voltar os treinos e ela ficou no mesmo lugar, chocada com o acontecido.

Então havia uma pessoa. Havia uma concorrente. Ela ficou transtornada.

"Oi Lindsey!" Ray, que sempre tivera uma queda pela garota a cumprimentou, recebendo dela um olhar cortante antes de vê-la sair andando furiosa para longe dele.

Frank não pôde dar aulas para Gerard naquele dia, pois tinha uma visita no dentista. E Gerard, enquanto ia para sua casa, ficou pensando em como convidaria o menino para ir à festa consigo, depois decidindo internamente que seria uma má idéia; afinal, sua amizade com Frank estava indo tão bem longe da vista de todos, por que arriscar perdê-la numa tentativa de sair em público com ele?

Entrou em casa calado, a pisos finos sobre o carpete chinês, quando ouviu seu nome ser chamado do escritório do pai. Caminhou até lá um pouco receoso e ficou surpreso ao ver os pais juntos em casa tão cedo.

"Filho, queremos conversar com você." Donald falou, sem olhar para Gerard, de fato.

"Boa noite para vocês também." O jogador disse ironicamente, recebendo um olhar reprovador da mãe. "E do que se trata?"

"Da faculdade que você vai estudar." O pai respondeu, segurando alguns papéis, que Gerard reconheceu como envelopes de universidades. E estavam em seu nome. E estavam abertos.

"Pai, por que você violou minhas correspondências?" Gerard perguntou, alterado.

"Diga-me você por que escolheu arte em todas essas universidades, Gerard." O pai finalmente encarou o filho, enquanto jogava os papéis na mesa como se fossem nada. "Que merda você tem na cabeça? O que pensa que vai fazer numa faculdade de arte? Vai aprender a pintar e bordar e viver de vender artesanato?"

"É minha decisão. Eu escolho o que quiser!" Gerard gritou, ignorando as tentativas de sua mãe de acalmá-lo.

"Eu vou pagar. É minha decisão também." Respondeu o pai, cortando qualquer moral que Gerard havia adquirido na pouca conversa. "E você não vai cursar artes."

Ele meneou a cabeça e bateu palmas para os pais, que se assustaram com a reação inusitada.

"Parabéns por fazerem da minha vida um inferno." E saiu para o seu quarto correndo, escondendo as lágrimas que teimavam em cair.

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