Nostalgia e Déjà vu

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O bolo coberto de chocolate e recheado com leite ninho enfeitava a grande mesa de Undyne. Alphys e eu estávamos sentadas apreciando aquela vista maravilhosa, nos deliciando apenas com o cheiro do açucarado. Pap e Undyne pareciam orgulhosos com o resultado, tanto que mantinham um enorme sorriso no rosto.

São colocados pratos fundos e pequenos na mesa, onde em cada um deles havia um pedaço generoso de bolo. Todos sentaram-se.

Realmente Papyrus fez um ótimo trabalho, estava delicioso! O gosto me trouxe uma sensação de nostalgia, porém não entendi o porquê.
Alphys fazia uma expressão de paixão a cada mordida.
Ouvia-se um "hmmmm" rodeando aquele cômodo.

- EU, O GRANDE PAPYRUS, SABIA QUE VOCÊS IRIAM GOSTAR! SOU UM MESTRE CUCA INIGUALÁVEL!

- Com uma professora inigualável. - diz Undyne batendo em seu peito em sinal de orgulho.

- VOCÊ SÓ DESCOBRIU MEUS INCRÍVEIS DONS NA COZINHA!!!!

- U-Undyne é uma ótima p-professora. - Alphys fala em um tom baixo, facilmente comparado a um sussurro.

A líder da Guarda Real arregala os olhos. Seu rosto chega em um tom mais escuro que o vermelho, nunca vi ninguém corar assim antes.
Dou risada da situação. Com certeza havia algum sentimento ali, e era recíproco. Ainda não pensei em nada para aproximar as duas, mas talvez o tempo seja a solução. O tempo cura qualquer ferida, qualquer problema... Será que curaria os meus problemas também?

A próxima receita a ser feita era uma torta de frango, ficamos radiantes de animação. Pap estava ansioso.

Depois do treino todos nós sentamos em frente à televisão, que passava um programa de platéia com Mettaton. Algumas horas se passam, a noite chega rápido. A janela ao lado do espaçoso sofá de Undyne destacava a paisagem escura e assustadora de Waterfall. Todos perdemos a noção do tempo.
Dou algumas cutucadas em Papyrus e ele se assusta, pulando de sua posição inicial. Antes dele soltar um grito ou pedir alguma explicação por minha ação, eu aponto para a janela.

- WOWIE, POR QUE SERÁ QUE TA ESCURO?

- Acho que é porque anoiteceu. - ironiza Undyne.

- MEU BRO JÁ DEVE ESTAR EM CASA.

Havia esse detalhe também, esqueci completamente de Sans. Não que eu me divertisse ainda mais sem sua companhia, mas aquele foi um dia consideravelmente agradável. Fazia tempo em que não me sentia bem assim.

Com muito esforço saímos de nossa zona de conforto naquele momento e nos despedimos, seguindo caminho até em casa. Alphys não quis que acompanhássemos ela, por isso Undyne se encarregou da tarefa, o que eu achei bom. As duas não dialogavam na presença de outras pessoas, e isso talvez mudasse enquanto estivessem sozinhas. Não pude conter o sorriso ao pensar nisso.

Aproveitando o longo percurso pela frente, Pap me contou sobre seus dons e habilidades em várias áreas, principalmente em criar desafios e quebra-cabeças. A conversa rapidamente se voltou para Sans, e eu não gostei muito do que ouvi. Papyrus citou as saídas contantes de seu irmão pela noite, e que ele voltava de madrugada antes do amanhecer. Por meu sono ser absurdamente pesado, nunca notei essas saídas.

- UM DIA JÁ PERGUNTEI PRA ONDE ELE ONDE ELE IA, MAS ELE NÃO ME DISSE.

- Desde quando ele sai essas horas? - digo num tom decepcionado.

- SEI LÁ, ACHO QUE LOGO APÓS QUE VOCÊ CHEGOU.

Minha expressão alegre se perdeu durante o resto do caminho. Papyrus tinha um coração de criança, ele com certeza não via maldade ou perigo na situação, mas eu via. Fico feliz por ter sua amizade.

Um frio cruel toma todo o ambiente, chegamos em Snowdin. Estava nevando mais intensamente aquela noite. Minhas mãos e nariz congelavam, me arrepiei inteira. Comecei a tremer levemente. Nosso campo de visão se baseava em neve e em vultos ou formas estranhas na escuridão. Assim como seu irmão, Pap não se incomodava nem um pouco com o frio.

Interrompo o alegre esqueleto de suas histórias por um momento dando um puxão em sua blusa. Eu estava agarrada em seus braços.

- DIGA, MINHA MELHOR AMIGA HUMANA!

Aponto para seu cachecol.

- WOWIE, GOSTOU DE MEU BELÍSSIMO ACESSÓRIO?

Dou um facepalm e abro um sorriso.

- P-Pap, me empresta seu cachecol só até chegarmos em casa?

- WOWIE!!!! VOCÊ QUER FICAR ELEGANTE ASSIM COMO EU!!! MAS É CLARO QUE TE EMPRESTO!!! TODOS MERECEMOS FICAR LINDOS UMA VEZ NA VIDA!!!!

Eu até que poderia dar um empurrão em Papyrus por tal comentário, mas apenas ri. Admiro muito sua capacidade de arrancar sorrisos de todos em sua volta apenas sendo ele mesmo.

Finalmente chegamos em casa, ele destranca a porta e logo que entro avisto Sans completamente largado no sofá assistindo um programa estrelando Mettaton, o que era normal. Todos os canais parecem passar algum tipo de programa estrelado por ele.

Papyrus corre e deita no chão, que estava coberto com um tapete azul felpudo, de certa forma combinando com o couro preto do sofá. Normalmente sofás de couro são desconfortáveis, mas aquele não. Eu moraria naquele sofá pelo resto de minha vida.

Não perco tempo e logo pulo em cima de Sans, que parece perder o ar por alguns instantes.

- Você quase quebrou meus ossos. - ele diz abrindo um sorriso enorme.

- SANS!!! NÃO COMEÇA!!! - grita Pap.

- Foi mal bro, fica ossossegado.

Não contive meus risos. As piadas de Sans eram horríveis, e aquilo as tornavam engraçadas. Eu amo piadas sem sentido, e amo as reações de Pap ao ouvi-las.

Após um longo período de silêncio e concentração na TV os irmãos dormem. Nenhum vestígio de sono ocupava meu corpo, eu estava ansiosa por motivo algum.

Saio dos braços de Sans e me sento na borda do sofá. Abaixo a TV, porém sons de um show animado do Metta tomava conta de toda a casa. Preferi desligá-la. Meus desastres já eram o suficiente para acordar qualquer um.

Pego meu celular e entro numa rede social qualquer. Alphys havia compartilhado algumas coisas sobre felicidade e animes, Papyrus postou a letra de uma música que tinha como compositor "Napstablook", um monstro fantasma que aparenta ser tímido, mas gentil. Realmente eu precisava sair mais de casa, não conheço ninguém daqui.
Ao canto da tela do meu celular algumas páginas de entretenimento estavam sugeridas, e uma delas se intitulava "Matar ou morrer?".
Aquilo ecoou em minha mente, e senti uma sensação de déjà vu. Algumas cenas vieram na minha cabeça, assim como num filme quando a pessoa está prestes a morrer.

Tori, Pap, Undyne, Muffet eram mortos por mim, Sans me matava por incontáveis vezes e eu... voltava? Mas finalmente o matei, em apenas um golpe.
Até aquele fantasma morreu por minha causa!
Eu estava sorrindo! Quem é Flowey, que de certa forma puxava meu saco, e Asriel, que tentou me matar? Por que eu matei Asgore, alguém realmente fofo e gentil? O que Chara tem a ver comigo? Como eu conheço essas pessoas que eu mal tive a oportunidade de vê-las?

Apesar de ser muita informação, tudo passou rapidamente em minha mente trazendo uma enorme dor, me obrigando a dobrar minhas pernas, apoiar minha cabeça sobre elas e segurá-la com minhas mãos.
Eu fechei os olhos com força, e no escuro observado por mim naquele momento estava Chara, rindo maleficamente enquanto balançava sua cabeça em desaprovação. De certa forma eu me vi assim como ela. Além de sorrir, eu carregava uma faca comigo sempre, assim como ela.

Fiquei desesperada, soltando o mais alto grito que eu poderia soltar. Senti minha garganta sangrando por conta de tanta força vindo de mim. Todo o meu ar se foi com esse grito. Me senti pesada, eu não pensava em mais nada.
A única certeza que eu tinha naquele momento era que meu corpo atingiria o chão com força.

Deixe seu voto e seu comentário que me ajuda demais. Quer que eu inclua algo de seu interesse na história? Deixe sua sugestão, talvez eu possa considerá-la! Até o próximo capítulo. <3

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