Palavras rudes

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/ 14:35 -  Casa da Toriel

- Criança, você nunca me disse como era sua vida quando morava na superfície. Era boa? - Toriel pergunta-me, enquanto passava-me pratos que acabara de lavar.

- Não, não era. Mas nada de mais, sabe. Basicamente desde que nasci meus pais são revoltados comigo, pois de certa forma atrapalhei suas vidas sociais. A renda da família era grande, os dois trabalhavam em lugares importantes, mas depois que nasci tiveram que abandonar esses empregos pela minha grande necessidade de atenção. Se algum deles saísse de perto de mim para fazer o que for, eu chorava.

- Então como eles demonstravam ser revoltados com você?

- Eles me batiam pra me manter longe. Eu não lembro como me sentia com tudo isso, afinal era muito nova, mas creio que foi dolorido em todos os sentidos. Isso me manteve afastada deles, além de trazer-me certo grau de independência. Foi até bom, sabe. Depois que começamos a viajar muito eu não consigo manter amizades, então ficar sozinha é normal para mim, e eu não fico incomodada com isso. - digo, secando o último prato que Tori me dá após desligar a torneira.

Ela apoia-se na pia com uma de suas mãos enquanto a outra se junta à sua cintura, com quadril levemente jogado ao lado. Ela parecia confiante para soltar suas palavras a seguir.

- Aqui você fez amigos, tem uma família e um namorado. Você recebe muito amor, carinho e é alvo de preocupações de todos. Você está feliz com isso?

- Você ainda pergunta, Tori? Como não estar feliz?

- Vai saber, você poderia ter acostumado com sua vida anterior.

- Nah, bobagem. Às vezes tenho ataques de carência com Sans, é até engraçado.

Ela sorri e aproxima-se, dando uma leve bagunçada em meus cabelos, o som de seu sapato ecoou pela cozinha silenciosa. Todos ainda estão na sala, que é significativamente longe da cozinha, provavelmente assistindo ou brincando de algo. Eu optei por ajudar Toriel com a louça, afinal somos como mãe e filha, e filhas tem a obrigação de ajudar suas mães com os afazeres de casa.

- Sabia que quando Sans trabalha de vigia noturno na floresta às vezes ele passa aqui?

- Mas passar como? Ele vem tomar um chá? - indago, com o cenho franzido.

- Não "passar" assim, ele só fica do lado de fora da porta contando algumas coisas. - ela sorri.

- Ele desabafa com você?

- O que ele mais faz aqui é contar piadas. Ele sempre chega meio triste, pelo que percebo pela sua voz, mas suas piadas ao decorrer da conversa alivia-o de qualquer problema que estivesse enfrentando. Às vezes conto algumas piadas também.

- Entendi... Uh, legal ele confiar em você pra contar essas coisas. - finalizo num tom desinteressado e ao mesmo tempo irônico, saindo da cozinha em que estávamos.

Nunca fui ciumenta, porém tenho um profundo medo de perder quem amo desde que conheci Lil, minha amiga lá da superfície (aliás, que saudade da Lil). Tenho uma grande dificuldade em me apegar às pessoas, porém quando me apego eu não quero perdê-la. Sans é alguém que eu me apeguei muito. Talvez o pensamento de vários em relação a nós é que começamos a namorar muito cedo, mas eu não ligo. É como se eu já conhecesse Sans já havia tempos, e na verdade era essa a realidade. Tínhamos um relacionamento superficialmente amigável em linhas do tempo passadas, então o que importa é que já nos conhecíamos.

Na sala todos estavam brincando de um jogo que consiste em cada jogador desenhar uma tabela em tópicos no papel. Cada coluna da tabela recebe o nome de uma categoria de palavras e cada linha representa uma rodada do jogo. Pelo menos é assim que me explicaram da última vez que vi alguém jogando isso, lá na escola.

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