Capítulo II - Entre Perguntas e Despedidas

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A lembrança do encontro com a Sombra perturbou o jovem Eldarion por vários dias, tornando-o distante até para os pais e os amigos mais próximos. As dúvidas sobre o seu destino o corroíam, e nos dias que permaneceu em Ithilien, sempre voltava ao mesmo local em busca de um vestígio, um resquício de algo que poderia acalentar os seus pensamentos. No entanto, só conseguia rever aquele par de olhos de falcão em seus sonhos, repletos de enigmas e sussurros de um perigo crescente.

O príncipe de Gondor acordou antes de os primeiros raios de sol tocarem os jardins de Ithilien, no dia em que voltaria para Minas Tirith. Ele até tentara estender a sua estadia, mas seu pai lhe lembrara de suas obrigações, e que se pudesse também ficaria mais tempo visitando seus velhos amigos, no entanto, o dever os chamava. Bufando frustrado, Eldarion terminou de se vestir, ajustou a bainha da espada e seguiu em direção aos estábulos sob o brilho do céu abobadado por estrelas distantes. Seus ouvidos captavam o farfalhar das folhas, alerta para a presença de alguém, mas mesmo seus sentidos aguçados não eram páreo para identificar o elfo com mais de mil anos de treinamento em batalhas e camuflagem.

Legolas voltou sua atenção das estrelas para o herdeiro de Aragorn, arqueando levemente uma sobrancelha, curioso com o estado de espírito do jovem meio-elfo. Da árvore que estava não precisou se mover para observar o rapaz inquieto, que escovava a crina de um garanhão marrom. Eldarion estava tão distraído com os próprios pensamentos que não percebeu quando uma figura surgiu das sobras do estábulo.

Estreitando os olhos azuis cinzentos, o elfo, empoleirado na árvore, adiantou a mão para seu arco, silenciosamente armando uma flecha e esperando, atento para qualquer ameaça, enquanto observava.

— Saudações, Eldarion — pronunciou-se a figura encapuzada, fazendo o jovem saltar levemente, surpreso pela aparição.

— Você! — exclamou o moreno, apontando a escova de cavalos para a Sombra, que só olhou-o divertida. — Veio me perturbar outra vez?

— As perturbações de hoje podem ser necessárias amanhã —comentou a figura, aproximando-se e adiantando a mão para o cavalo, enquanto Eldarion recuava alguns passos. — São raros os descendentes de Mearas nos dias de hoje — acrescentou, acariciando o focinho do animal.

— O que quer dessa vez? — inquiriu o jovem, cruzando os braços para parecer firme, ao mesmo tempo que tentava ver algo além das capas e peles negras envolta daquele par de olhos de falcão.

— Tão impaciente é a raça dos homens — murmurou a sombra para o cavalo, divertindo-se com a situação do rapaz. O cavalo bufou e pateou o chão, como se concordasse. — Thalion é esperto, só espero que não seja mais que o dono.

Eldarion piscou algumas vezes, olhando indignado dela para o cavalo.

— Diga-me o que quer de mim e não chamarei os guardas para prendê-la — acrescentou o príncipe, recompondo-se.

— Criança, não seja tão impaciente — advertiu ela, os olhos ficando perigosamente escuros ao relanceá-los rapidamente para o jardim. — Vim apenas lhe pedir que não me procure, não sou eu que tenho as respostas para as suas dúvidas. No entanto... — e levantou a mão, impedindo o rapaz de retrucar, estendendo com a outra um pequeno pedaço de pergaminho dobrado e selado. — somente quando for chegada a hora, você saberá onde encontrar ajuda.

— Hum, obrigado? — agradeceu o rapaz, incerto, pegando o pergaminho e virando-o, estranhando que o selo escuro era liso e sem inscrições. — Mas como eu vou saber que...

— Afaste a ansiedade e aproveite a companhia daqueles que ainda estão ao seu lado — cortou a sombra, distanciando-se dele e misturando-se com o escuro. Então, parou à porta do estábulo, lançando um último aviso ao herdeiro do trono de Gondor. — Já não existe mais uma personificação do mal no mundo ou um inimigo universal. Não deseje uma aventura pela qual tantos morreram para por um fim.

A Sombra do NorteOnde histórias criam vida. Descubra agora