— Ao príncipe! — ecoaram centenas de vozes élficas, virando os cálices de vinho.Alguns ainda esperavam mais algum pronunciamento, talvez sobre a presença dos filhos de Elrond, ou da estranha donzela encapuzada sentada ao lado do rei. Mas o soberano voltou ao seu lugar, assim como o primogênito.
Então um banquete magnífico começou a ser servido. O povo élfico passava tigelas de mão em mão e o cheiro de deliciosas carnes e tortas de frutas assadas espalhava-se pelo recinto. Os cabelos dourados e negros dos elfos estavam enfeitados com flores, pedras verdes e brancas brilhavam em seus colares e cintos, e seus rostos eram cheios de alegria. As canções dos bardos eram altas, belas e cristalinas. E os elfos comiam, bebiam e riam muito. Bebiam principalmente vinho, e das melhores safras, que especialmente o rei e seu filho apreciavam. A adega de Thranduil ficara famosa, e a história dos anões que escaparam por ela também.
Era espantosa a quantidade de vinho que os elfos consumiam, e não se admira que logo haviam muitos pares ou grupos dançando em rodas pelo salão, e até em cima de algumas mesas — talvez Legolas houvesse ensinado seu povo o estilo de dança dos hobbits. E falando no príncipe, ele se juntou em um passeio pelo salão com Elladan e Elrohir.
— Seu reino recebeu ainda mais flores com a presença dos elfos de Lórien — comentou Elladan, depois de cumprimentarem mais um grupo de nobres. As formalidades eram necessárias agora que ele e o irmão eram os senhores de Imladris.
— Mas apenas uma está capturando a atenção do príncipe esta noite — emendou Elrohir, trocando um olhar zombeteiro com o irmão.
—Só estou curioso com que assunto meu pai tem a tratar com ela — defendeu-se Legolas, estreitando o olhar para os gêmeos. Então percebeu que haviam pequenos cortes nos pescoços deles, e arqueou uma sobrancelha — Creio que vocês já foram descobertos.
— Devo dizer que preferimos ter ela como nossa amiga de agora em diante — um deles declarou.
— Ainda que houvesse perigo em nossa empreitada, o prêmio se mostrou digno de arriscar nossas peles — acrescentou o outro, rindo do olhar descrente que o amigo lhes lançou.
— De fato —concordou o irmão, rindo também. Aproveitou para encher sua taça e sorrir para a elfa que seguravam um jarro de vinho — Agradeço, bela donzela.
— Úman ná — disse a elfa loura e alegre, em vestes azuladas, servindo o outro gêmeo e então seu príncipe, abrindo um sorriso ainda maior.
— Hantalë — agradeceu Legolas, então voltando o olhar para a mesa do rei, percebendo que o pai estava trocando palavras com a sombra, que tentava manter-se despercebida embaixo do capuz do vestido.
Continuou acompanhando os amigos, mas aguçou os ouvidos, tentando focar-se no que o rei estava conversando. Identificou seu nome, então descobrindo que falavam sobre a viajem até o Palácio, mas de forma muito mais formal e resumida do que ele confidenciara ao pai, já que agora era Thranduil quem na maioria das vezes falava, ou inquiria. Ouviu seu nome novamente, mas dessa vez fora um dos gêmeos que o mencionou, e disfarçou bebendo de sua taça.
— Parece-me que Legolas anda perdido — comentou Elladan.
— Talvez tanto vinho esteja finalmente o afetando — sugeriu Elrohir, provocando gargalhadas no grupo em que estavam.
— Deve estar preocupado com conversa do rei — disse Gwindor, o comandante da guarda, que não confiava naquela estranha ao lado de seu soberano – Ou melhor, a acompanhante.
— Estamos todos curiosos sobre a donzela — concordou Lindir, um menestrel e velho amigo dos gêmeos. A maioria dos olhos voltaram-se para a figura encapuzada — Qual será a raça dela?
— Temos algumas suspeitas — declarou um dos gêmeos, ao que o outro complementou:
— Mas ainda não a vimos sem o capuz.
Legolas por sua vez, preferiu se abster de comentários, enquanto os elfos continuavam a especular. Observou um dos gêmeos indo para a mesa do rei, fazer uma mesura para Remmirath e depois voltar com uma cara decepcionada. Foi obrigado a rir daquilo, junto com os outros.
— Esse plano não funcionou.
— E o que ela disse? —perguntou o irmão, mordendo o próprio lábio para não gargalhar.
— Que se sentia obrigada a declinar se não houverem lâminas envolvidas na dança — confessou o gêmeo, com um suspiro, provocando uma gargalhada geral. Outros elfos nobres e da guarda haviam se juntado ao grupo.
— Ora, você não deve ter pedido com jeito — declarou o menestrel, ele mesmo reunindo confiança e encaminhando-se para a mesa do rei.
Demorou um pouco mais, só que o semblante de quando voltou desacompanhado foi ainda mais hilariante. E já que ninguém se pronunciava, o príncipe perguntou, curioso com o ocorrido.
— E então?
— Bem... — o elfo moreno coçou a cabeça, incerto se repetia o ocorrido para os amigos — Tentei convencê-la com um pequeno soneto sobre música e dança... e ela me respondeu com uma estrofe:
Já não mais ouvirei as canções
Entoadas a luz de fogueiras
Os bardos compunham com seus corações
Agora cravados com flechas certeiras
Um silêncio pairou entre o grupo depois do menestrel declamar essas palavras, até que Elladan disse:
— Definitivamente isso foi um não.
E mesmo com o clima estranho no ar, eles riram, pois aquela era uma noite de festa e estavam bebendo do melhor vinho e desfrutando das melhores companhias. A tentativa de tirar a sombra para dançar era apenas mais um jogo para os elfos. Estavam ponderando quem seria a próxima vítima, quando Legolas se cansou daquilo e andou para a mesa do rei. Seus amigos ficaram olhando, esperando que ele também arriscasse, mas o príncipe apenas voltou ao seu lugar, decepcionando-os.
Glossário Élfico
Úman ná – De Nada
Hantalë - Obrigada
Quem mais gostaria de estar participando desse banquete?
Gostaram da estrofe da Remm? Faz parte de um soneto meu chamado 'Os Bardos', quem quiser ler inteiro é só acessar o livro de poemas no meu perfil :3
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A Sombra do Norte
FanficUma sombra surge do Norte gelado, trazendo com ela rumores de um novo perigo pelos sussurros de um passado enevoado. Apesar de não haverem mais grandes inimigos como Sauron para causar inquietação, a Quarta Era está fadada à tornar-se um tempo perig...