Capítulo III - Rastros e Cogumelos

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Enquanto a comitiva do Rei cavalgava para o sul até Osgiliath, o príncipe da Floresta Verde seguia pelo norte, beirando a floresta de Ithilien e o Grande Rio. Legolas parou para verificar os rastros no final da trilha arborizada, sentindo o vento e ouvindo as árvores, procurando o caminho que devia seguir. Estava sendo muito fácil até agora, apesar de ter cavalgado desde a última manhã, direto para não perder a sombra.

Mastigou um pedaço de lembas, enquanto seu cavalo comia algumas flores do campo, recuperando a energia. Pensando um pouco, o elfo refletiu que aquilo parecia uma loucura agora, mas suas aventuras passadas lhe mostraram que se não fosse atrás imediatamente quando algo acontecia, como quando os uruk-hai raptaram Merry e Pippin, o rumo dos acontecimentos poderia ter sido muito diferente.

Esperava que aquele sentimento de dúvida que crescia em seu coração fosse apenas um reflexo das incertezas de Eldarion ao receber tantos conselhos sombrios, no entanto, precisava falar direto com a fonte e descobrir quem era aquela Sombra. E o que estava crescendo nos lugares esquecidos pelos Povos Livres da Terra Média.

Montou novamente, agradecendo ao seu cavalo pelo bom trabalho antes de continuarem cavalgando para o norte, ainda que aquele caminho provocava um temor sob a alma do elfo. Que espécie de assuntos aquela sombra poderia ter a tratar em terras tão desertas e desoladas, ele não poderia imaginar.

Ao amanhecer do quarto dia de viajem, quando seus olhos élficos já podiam vislumbrar e até mesmo sentir o enorme Pântano que se estendia por milhas à sua frente, e quando já estava perdendo a esperança de que estava na trilha certa, Legolas resolveu fazer uma pausa e repousar sob algumas árvores de um pequeno bosque, que crescia apesar da desolação e aridez do local. Qual foi a sua surpresa quando, ao embrenhar-se entre as árvores e andar por um momento, encontrou um corcel negro mastigando folhas secas que espalhavam-se pelo chão. O elfo estacou, não querendo assustar o animal — e muito menos alertar seu dono — então apenas observou-o resfolegar pelo chão, sem se importar com sua presença ou de outro companheiro equestre. 

Legolas inclinou levemente a cabeça para o lado ao ver o cavalo começar a mastigar alguns cogumelos no tronco de uma árvore, imaginando que Merry e Pippin iriam brigar pelo alimento com o animal. Pausando suas divagações, tentando não se perguntar se aquilo faria mal ao cavalo, já que nunca vira um comendo tal alimento, deu um tapinha no seu branco que apenas esperava uma ordem para pastar, andando cautelosamente para mais dentro do bosque, observando as árvores. Ate que encontrou a figura sombria que procurava, encostada contra o tronco de uma e sentada sob o manto de peles enquanto analisava um mapa.

O elfo inspirou profundamente, pensando em como abordá-la agora que finalmente a encontrara — em circunstancias incomuns, pensava que teria que lutar e até mesmo imobilizá-la com uma flecha para obter suas respostas —quando a pessoa levantou o olhar para ele, perguntando.

— Você tem lembas?

Legolas piscou duas vezes, aturdido.

— Aposto que você tem algumas — acrescentou a sombra, casualmente, dobrando o mapa e guardando dentro da capa negra que a cobria. — Ou já foram todas enquanto me perseguia?

— Não, eu ainda tenho — respondeu o elfo, finalmente recuperando a fala. — Posso trocar algumas por informações.

— Nossa, eu nem imaginava tal acordo — falou sarcástica a sombra, apesar da voz que continuava sendo modificada pelo lenço que cobria sua boca, observando enquanto o elfo tirava a mochila das costas e abria, sem tirar os olhos dela, estendeu um embrulho de folhas, permanecendo onde estava.

Arqueando uma sobrancelha que ele não viu, graças ao seu capuz e lenço que escondia a maioria do rosto, levantou-se para pegar a lembas que estava a um metro, constatando que ele era meio palmo mais alto, antes de voltar a se sentar. A sombra indicou o tronco atrás dele, enquanto desenrolava as folhas que guardavam as lembas.

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