Capítulo IX - O Rei de Eryn Lasgalen

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Elladan — ou seria Elrohir? — estava lhes contando sobre a vez que ele e o irmão haviam escondido Arwen, ainda pequena, em um guarda-roupa, e logo após entoaram um poema que haviam visto em um livro para mandá-la para outra terra, graças aos ciúmes que sentiam por terem sido trocados pela nova membra da família.

— Funcionou por algumas horas, até que percebessem que ela havia desaparecido — falou o outro gêmeo, e então acrescentou, meio rindo. — Ainda me lembro do castigo que Ada nos deu.

A sombra só rolava os olhos pela milésima vez durante a madrugada, esboçando um sorriso fechado enquanto o elfo atrás de si ria da cara dos amigos, junto com os mesmos que gargalhavam alto. Não era de surpreender que com tanto barulho que esses elfos alegres faziam, logo uma patrulha da Floresta apareceu para abordá-los, já haviam reconhecido de longe seu príncipe e os filhos de Elrond. Ou apenas haviam ouvido os rumores de sua chegada e estavam vindo escoltá-lo. Pois os elfos sabem muita coisa, são espantosos quando se trata de noticias, e ficam sabendo o que acontece com os povos da terra com a rapidez da correnteza, ou mais rápido ainda.¹

Legolas desmontou e trocou cumprimentos com o líder da patrulha, enquanto alguns elfos vestidos de verde e marrom lançavam olhares desconfiados para a figura encapuzada que o acompanhava. Terminadas as formalidades, o líder da patrulha pediu que todos desmontassem para acompanhá-los em comitiva, já que logo estariam nos portões da cidade élfica. Não é preciso ressaltar que os elfos patrulheiros à volta de Remmirath eram muito mais numerosos do que os acompanhando os outros. Podiam ser tempos de paz, mas mesmo que o príncipe havia dito que ela era sua convidada, aqueles elfos da floresta não iriam baixar a guarda. Ela não os culpava, pois não eram um povo mau, só desconfiavam de estranhos, então apenas andou calmamente com Rauthar ao seu lado, sem se deixar intimidar.

Amanhecia quando chegaram à morada do Rei, há algumas milhas da fronteira leste da Floresta das Folhas Verdes, alcançada por uma ponte de pedra sob um rio que vinha das alturas da floresta e continuava até os pântanos no sopé das terras altas e cheias de bosques. A água corria escura, rápida e forte lá embaixo, na extremidade oposta estavam os portões, diante da abertura de uma enorme caverna, incrustada no flanco de uma encosta íngreme coberta de árvores. Ali as grandes faias desciam para a margem, até suas raízes tocarem o rio. Os patrulheiros se despediram dos quatro, que atravessaram a ponte junto dos cavalos, seguindo até o enorme portal de pedra, sempre guardado por sentinelas, agora aberto esperando pelo retorno de seu príncipe.

Os elfos acenaram para os guardas no portal, e depois que entraram junto da sombra, os grandes portões do rei se fecharam por mágica atrás deles, com um estrondo. Guardas reais já esperavam para acompanhá-los, e um cavalariço se ofereceu para levar os cavalos aos estábulos, onde seriam bem tratados. A sombra teve que afagar o corcel negro até convencê-lo de acompanhar o jovem elfo, Rauthar trotou com a cabeça altiva. Nesse meio tempo, Legolas pediu a uma serva para que preparasse os aposentos de seus convidados.

— Meu príncipe, o Rei os espera — informou o chefe da guarda, depois que os cavalos se distanciaram.

— Eu sei o caminho, Gwindor — Legolas falou, tentando se livrar de tanta formalidade. Os guardas assentiram, abrindo espaço para eles seguirem pelos corredores iluminados pela luz vermelha de tochas, e ao longo das passagens sinuosas e entrecruzadas. — Posso supor que já esteve aqui antes — disse enquanto caminhavam, voltando o olhar para a sombra ao seu lado.

— Sim — concordou Remmirath.

— Por que será que isso não me surpreende — comentou o louro, mais para si, acenando para um elfo que fez uma reverência quando ele passou.

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