A sombra e o elfo galoparam trocando poucas palavras e logo se viram livres das águas lodosas e do terreno lamacento, permitindo às montarias aumentarem a velocidade enquanto passavam pelas Terras Castanhas. Parando apenas o necessário para os cavalos durante vários dias, em que ambos estavam absortos nos próprios pensamentos na maior parte do tempo. Até que, em uma noite estrelada, a Floresta das Folhas Verdes, que há muito era só uma faixa no horizonte, começou a revelar sua magnitude.
— Sombra — chamou Legolas, atraindo a atenção na terceira vez que a chamou.
— Tudo bem, elfo, você já está testando minha paciência — reclamou ela, diminuindo um pouco a velocidade para emparelhar com o cavalo branco.
— De que forma devo então lhe chamar? — pediu o louro, ouvindo ela suspirar antes de olhar para o céu. Ele acompanhou o seu olhar, não encontrando nada além de milhares de estrelas brilhantes, até vislumbrar as sete jovens estrelas azuis conectadas por trilhas de material nebuloso.
— Remmirath¹ — murmurou a Sombra, o nome soando estranho em seus lábios já que há tanto tempo não o pronunciava. E então aumentou a voz, virando-se para ele. — Me chame de Remmirath.
— É um bom nome — Legolas olhou para o céu estrelado, deliciando-se com o brilho das estrelas que os elfos da floresta tanto amavam. — Não teria imaginado um melhor, minha Lady.
— Concordo. Se fosse depender de seu povo, quem sabe do que me chamariam — zombou a de orbes dourados, atraindo um olhar entre irritado e confuso do elfo. — Legolas, o Folha Verde, não é muito criativo.
— Felizmente essa Folha ainda perdura durante muitos outonos — declarou o príncipe da Floresta das Folhas Verdes, a cabeça erguida imponente observando a noite coroada pelas estrelas brancas que refletiam em seus olhos azul acinzentados.
— Legolas Verdefolha — falou Remmirath, após um longo momento, e o elfo a olhou pensando que ela estava lhe chamando. —o bosque é teu lar. Alegre viveste. cuidado com o Mar. Se na praia gaivotas gritarem por ti, descanso jamais acharás por aqui.¹
— Onde... como você sabe disto? — inquiriu o louro, aturdido. Aquelas eram as palavras que viviam ecoando por sua mente, podia até mesmo sentir a brisa do mar e as ondas que quebravam em praias longínquas quando estava perdido em pensamentos.
— Eu sei de muitas coisas da Terra-Média. Até mesmo as mais simples palavras transmitidas por um mago na narrativa de uma história podem ser úteis algum dia — respondeu finalmente ela, após vários minutos de silêncio, apenas com as patas ritmadas dos cavalos ecoando em seus ouvidos.
— Conhecia Mithrandir — aquela era uma afirmação do elfo, ao que ela acenou positivamente com a cabeça, esboçando um leve sorriso fechado.
Legolas sorriu também, saudoso de seus dias com o mago cinzento que se tornou branco. Já havia lhe ocorrido que, talvez, a cor que ela usava teria alguma relação com o mago, também. Apesar de ela lhe lembrar mais um Nazgûl, um Espectro do Anel, do que um mago.
— Mais do que você imagina — acrescentou Remmirath, só fazendo borbulhar ainda mais os pensamentos do elfo. Bem, ele tivera muitos dias para confabular consigo mesmo. — Suponho que sua cota de perguntas tenha se esvaído, elfo, logo chegaremos em sua Floresta.
— Eu não lhe farei mais nenhuma hoje, se parar de me chamar de elfo — reclamou Legolas, balançando a cabeça. Por Eru, aquela cópia de Gimli já estava começando a perturbar.
— Combinado, Legolas — concordou a Sombra, divertida com a situação do elfo. — Mostre-se útil e encontre um atalho para o meu destino, há alguém me esperando.
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A Sombra do Norte
Fiksi PenggemarUma sombra surge do Norte gelado, trazendo com ela rumores de um novo perigo pelos sussurros de um passado enevoado. Apesar de não haverem mais grandes inimigos como Sauron para causar inquietação, a Quarta Era está fadada à tornar-se um tempo perig...