Capítulo XVIII - A Ousadia de um Elfo

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 — Não — reiterou Legolas, então, explicou para Remmirath em tom suave — Senão este não seria um casamento abençoado pelos Valar, apenas um acordo entre reinos humanos distantes — e perdeu-se por um momento nos orbes de ouro líquido que pareciam enxergar através da sua alma.

A sombra não tinha o que replicar quanto aquilo, apenas desviou o olhar para o lado ao sentir-se estranha pelo jeito que o elfo a fitava. Mas a perda do contato visual não foi suficiente para despertar o príncipe do fascínio em que se perdera. A proximidade com a sombra, naquelas novas circunstâncias, fez um sorriso delinear-se nos cantos dos lábios do elfo, enquanto estendia o braço direito para ela, diminuindo a distância mais um passo.

Remmirath o fitou confusa, ponderando se o empurrava, e no segundo seguinte arregalou os olhos âmbar quando o príncipe fez a coisa mais impensável que um elfo já ousara contra si.

Legolas adiantou a mão para o rosto dela, hesitando por um momento, mas ao perceber que não pretendia lhe afastar, encostou a palma no lado esquerdo da face acetinada, um gesto típico de carinho entre seu povo, que ele queria que Remmirath se acostumasse — sabia que estava indo muito rápido para os padrões élficos, mas ele necessitava daquele tipo de contato.

Com um sorriso fechado e os olhos azuis pousados nos dourados dela, o príncipe a acarinhou de leve, deliciando-se com a suavidade e entremeando os dedos pelas mechas onduladas que contornavam a face da morena, antes de recuar, fitando-a intensamente, sem nada dizer.

Remmirath piscou, recompondo-se antes de sair ventando pelo corredor do salão, passando por um rei élfico desacreditado com o que presenciara ao longe.

O elfo permaneceu com o semblante neutro, pois reconhecera os passos silenciosos antes que tivessem chegado ao início do corredor. E então o pai o alcançou, com as sobrancelhas mais do que arqueadas. 

Thranduil olhou para o primogênito, e depois para o caminho por onde sua futura nora tempestuou-se, antes de declarar, divertido com a situação:

— Você é rápido, Ion Nin.

Legolas estreitou os olhos para o pai. Não era ele que queria o casar tão cedo? Só estava tentando se aproximar de sua futura esposa. Ele não aguentaria um casamento sem amor.

— Não irei repreendê-lo — acrescentou Thranduil, continuando seu caminho. — Ao menos, ela é sua noiva de verdade.

Ada! — reclamou o príncipe, acompanhando-o. — Eram as elfas que me perseguiam — acrescentou, com um sorriso de canto.

— Isso eu sei bem — o rei teve de concordar.

Era sabido que a maioria das donzelas solteiras na Floresta Verde e além já se sentira atraída pelo seu filho. Ainda mais depois de ele retornar como um dos heróis da Sociedade do Anel, provocando uma profunda admiração em todos. De fato, muitos nobres desejaram que suas filhas fossem escolhidas pelo príncipe, quando ainda era jovem, mas, depois de mil anos, Legolas ainda não havia se interessado em matrimônio com nenhuma das que já havia trocado demonstrações de afeto, e o rei bem sabia o por quê. Por isso nunca insistiu sobre o assunto, durante a era que se passou.

— Enfim, você precisa se preocupar com o seu futuro — declarou Thranduil — E não será nada satisfatório, se ela continuar agindo como uma estranha, perante nosso povo.

— Tomarei providências para isso, ada — concordou Legolas, tranquilamente.

Não adiantava discutir com o pai, era mais do que seu dever como príncipe fazer com que sua noiva se habituasse ao novo lar, e com ele. Duvidava que o conseguisse dentro de um mês. Então, uma pergunta surgiu em sua mente, e a compartilhou com o pai.

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