Capítulo XIII - Preocupações e Suborno

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O príncipe élfico de cabelos louros observava o seu povo festejar, mas com os ouvidos atentos para a conversa do pai com a sombra, que parecia trocar notícias sobre o que estava acontecendo em outros cantos da Terra-Média.

— ... incursões de orcs errantes na Terra dos Cavaleiros — estava dizendo Thranduil, em tom sério.

— Lhe garanto que as notícias que ouvi são as mesmas que os seus olheiros conseguiram, se não menos — declarou Remmirath, bebericando o vinho em sua taça, quase intocado desde o início do banquete — Esse mal não terá fim enquanto todos os covis e ninhos não forem destruídos.

— Minha floresta foi limpa na última guerra, dizimamos até as criaturas que se proliferavam nas montanhas— afirmou o rei, franzindo o cenho. Por mais que os rumores fossem distantes, não queria que um novo perigo ameaçasse seu povo — As Fronteiras estão seguras.

— Então faça com que continuem assim —declarou a sombra, suspirando e virando-se para o elfo com a coroa de folhas. — O Rei do Oeste já teve de subjugar muitos inimigos antes que a Árvore Branca pudesse crescer em paz. Além do Mar de Rhûn e nos distantes campos do sul o trovão da cavalaria dos Rohirrim já foi ouvido, e o Cavalo Branco sobre Verde tremulará aonde quer que surjam novos perigos. Não tema o escuro antes de anoitecer, ainda que a noite encubra perigos, sempre haverá o brilho das estrelas para guiar o seu caminho.

— E pelas estrelas eu sempre me guiarei — concordou Thranduil, com um semblante mais calmo, sorrindo em agradecimento pelo conselho.

Remmirath retribuiu o sorriso com um fechado, levantando-se ao ter seu olhar atraído por uma das bandejas em um canto extremo da mesa, adiantando-se para lá. 

Então o rei voltou o olhar para os seus súditos mais alegres do que nunca, enquanto bebia de mais uma taça de vinho. Estranhamente ainda não chegara a meio barril, naquela noite... e Legolas estava muito silencioso ao seu lado, apesar de a festa ser dele. Inclinou-se para o filho, sussurrando.

— Algo lhe preocupa, Ion Nin?

— Rumores de perigos distantes que tem surgido — confessou o príncipe, bebendo de sua taça, agora sem muita vontade.

— Esteve nos ouvindo — o rei arqueou uma sobrancelha, sem se surpreender.

— Isso é uma festa e não um de seus Conselhos reais — defendeu-se Legolas, mexendo-se desconfortavelmente na cadeira. Parecia reviver sua infância.

— Não tenho tempo para convocar um quando a detentora das informações pode resolver partir a qualquer instante — declarou Thranduil, então, voltando o olhar para a donzela que se aproximava novamente, segurando um prato cheio de cogumelos. Mas ela não sentou.

— Peço permissão para me retirar por esta noite — pediu a sombra, educadamente.

— É claro, que indelicadeza a minha. Imagino que ainda esteja cansada da viajem – o rei disse aquiescendo com a cabeça. Então acrescentou — Legolas, acompanhe a dama até seus aposentos.

— Às suas ordens, ada — concordou o príncipe, levantando-se e acompanhando-a pelo salão. Mas não deixando de olhar curioso para o prato que carregava. Elladan e Elrohir lhe lançaram olhares confusos quando passaram por eles, mas ele só deu de ombros. Também não fazia ideia do que estava fazendo, ainda mais quando ela pegou o caminho errado. Só depois de andarem por outros corredores diferentes é que ele resolveu se pronunciar — Milady, seus aposentos ficam em outra direção.

— Sei disso — confirmou Remmirath, virando em mais um corredor que se inclinava para o subsolo — Mas não estou indo para meus aposentos e sim para os estábulos.

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