O príncipe élfico de cabelos louros observava o seu povo festejar, mas com os ouvidos atentos para a conversa do pai com a sombra, que parecia trocar notícias sobre o que estava acontecendo em outros cantos da Terra-Média.
— ... incursões de orcs errantes na Terra dos Cavaleiros — estava dizendo Thranduil, em tom sério.
— Lhe garanto que as notícias que ouvi são as mesmas que os seus olheiros conseguiram, se não menos — declarou Remmirath, bebericando o vinho em sua taça, quase intocado desde o início do banquete — Esse mal não terá fim enquanto todos os covis e ninhos não forem destruídos.
— Minha floresta foi limpa na última guerra, dizimamos até as criaturas que se proliferavam nas montanhas— afirmou o rei, franzindo o cenho. Por mais que os rumores fossem distantes, não queria que um novo perigo ameaçasse seu povo — As Fronteiras estão seguras.
— Então faça com que continuem assim —declarou a sombra, suspirando e virando-se para o elfo com a coroa de folhas. — O Rei do Oeste já teve de subjugar muitos inimigos antes que a Árvore Branca pudesse crescer em paz. Além do Mar de Rhûn e nos distantes campos do sul o trovão da cavalaria dos Rohirrim já foi ouvido, e o Cavalo Branco sobre Verde tremulará aonde quer que surjam novos perigos. Não tema o escuro antes de anoitecer, ainda que a noite encubra perigos, sempre haverá o brilho das estrelas para guiar o seu caminho.
— E pelas estrelas eu sempre me guiarei — concordou Thranduil, com um semblante mais calmo, sorrindo em agradecimento pelo conselho.
Remmirath retribuiu o sorriso com um fechado, levantando-se ao ter seu olhar atraído por uma das bandejas em um canto extremo da mesa, adiantando-se para lá.
Então o rei voltou o olhar para os seus súditos mais alegres do que nunca, enquanto bebia de mais uma taça de vinho. Estranhamente ainda não chegara a meio barril, naquela noite... e Legolas estava muito silencioso ao seu lado, apesar de a festa ser dele. Inclinou-se para o filho, sussurrando.
— Algo lhe preocupa, Ion Nin?
— Rumores de perigos distantes que tem surgido — confessou o príncipe, bebendo de sua taça, agora sem muita vontade.
— Esteve nos ouvindo — o rei arqueou uma sobrancelha, sem se surpreender.
— Isso é uma festa e não um de seus Conselhos reais — defendeu-se Legolas, mexendo-se desconfortavelmente na cadeira. Parecia reviver sua infância.
— Não tenho tempo para convocar um quando a detentora das informações pode resolver partir a qualquer instante — declarou Thranduil, então, voltando o olhar para a donzela que se aproximava novamente, segurando um prato cheio de cogumelos. Mas ela não sentou.
— Peço permissão para me retirar por esta noite — pediu a sombra, educadamente.
— É claro, que indelicadeza a minha. Imagino que ainda esteja cansada da viajem – o rei disse aquiescendo com a cabeça. Então acrescentou — Legolas, acompanhe a dama até seus aposentos.
— Às suas ordens, ada — concordou o príncipe, levantando-se e acompanhando-a pelo salão. Mas não deixando de olhar curioso para o prato que carregava. Elladan e Elrohir lhe lançaram olhares confusos quando passaram por eles, mas ele só deu de ombros. Também não fazia ideia do que estava fazendo, ainda mais quando ela pegou o caminho errado. Só depois de andarem por outros corredores diferentes é que ele resolveu se pronunciar — Milady, seus aposentos ficam em outra direção.
— Sei disso — confirmou Remmirath, virando em mais um corredor que se inclinava para o subsolo — Mas não estou indo para meus aposentos e sim para os estábulos.
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A Sombra do Norte
Fiksi PenggemarUma sombra surge do Norte gelado, trazendo com ela rumores de um novo perigo pelos sussurros de um passado enevoado. Apesar de não haverem mais grandes inimigos como Sauron para causar inquietação, a Quarta Era está fadada à tornar-se um tempo perig...