Capítulo XIV - Conversa sob as Estrelas

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O sol despontou no horizonte e se pôs, por uma vez mais até que todos os elfos da floresta estivessem recuperados dos exageros nas comemorações pelo retorno de seu príncipe. Enfim, a vida voltava à normalidade, ao menos para Legolas, que não planejava seu retorno para Ithilien por algum tempo. Estava em casa e queria desfrutar da queda da última folha de outono. E viajar no inverno não era recomendável, ainda que fosse um elfo e o clima não o afetasse da mesma forma que aos mortais, preferia poupar seu cavalo. Em realidade, não seriam muitos os que sentiriam sua falta nos jardins de Gondor, Aragorn tinha mais o que se preocupar em Minas Tirith, uma família para cuidar e um reino para governar.

O elfo soltou um longo suspiro enquanto observava as estrelas brilhantes, sentado no tronco de uma das árvores que sustentavam o salão mais alto de seu palácio na montanha. Era um costume seu, desde que era um pequeno elfo e aprendera a escalar, empoleirar-se ali e deleitar-se com a beleza e o brilho das estrelas, tão amadas aos de sua raça. Seus olhos atentos foram atraídos por uma folha que se soltou de um dos mais altos galhos, caindo lentamente enquanto rodopiava pelo ar, até que pousou na mão que havia estendido. 

O dourado da folha seca lhe lembrou dos olhos de certa sombra que andava perturbando seus pensamentos. No início, quando a perseguiu para fora de Gondor, era com a tarefa de descobrir o que era o perigo que ameaçava a Quarta-Era da Terra Média, mas logo percebera que era inútil tentar descobrir algo que estava destinado ao príncipe de Gondor. E ainda assim, ela lhe intrigava. Com o passar dos dias ele sentia cada vez mais o pesar sobre o fardo que descobrira estar sobre os ombros da sombra, desde que enfrentaram os fantasmas no Pântano dos Mortos.

Queria poder se capaz de fazer algo sobre aquilo, e mesmo assim, logo cedo quando a avistara nas forjas, fabricando as próprias flechas de penas negras, ficara calado e saíra. Na tarde daquele dia buscou em vão na biblioteca a resposta para tantos mistérios que a envolviam, mas acabou saindo de mãos vazias e com ainda mais dúvidas, depois que encontrara Remmirath em um dos locais de leitura. Agora, perguntava-se por que estava fugindo, se estar perto ou longe dela não mudava a situação de sua mente. Talvez para que Elladan e Elrohir não o perturbassem ainda mais. Como se já não bastassem as gracinhas sobre ter deixado a festa na companhia dela, e voltado sozinho.

Suspirou mais uma vez, frustrado, deixando a folha de carvalho seguir seu rumo ao chão, cruzando os braços e voltando a olhar para o céu estrelado. Talvez as estrelas lhe dessem algumas respostas.

No momento que a folha pousou no chão trabalhado na pedra da montanha, o rei da floresta adentrou o salão, em seus passos firmes e altivos, procurando no alto mais do que o brilho das estrelas, até que encontrou o dono da cabeça dourada, empoleirado em uma das árvores, como em tempos distantes do passado. Observou saudoso o filho, por algum tempo, até que percebeu que Legolas estava tão imerso nos próprios pensamentos que resolveu se pronunciar.

Ion Nin? — Chamou, fazendo o elfo mais novo se sobressaltar no galho em que estava.

Ada! – reclamou Legolas, franzindo o cenho e olhando para baixo.

— Desça aqui, vamos caminhar – pediu Thranduil, sustentando o olhar do filho, que depois de um longo momento suspirou e começou a deslizar pelos galhos, saltando ao seu lado e segurando o antebraço do pai. Caminharam em silêncio por alguns minutos, entrando por uma das muitas cavernas do palácio.

— O que o aflige, Ion Nin ? — perguntou o rei, sem delongas.

Legolas permaneceu quieto, olhando para frente enquanto andavam, ponderando o que responder.

— A Sombra? — Sugeriu Thranduil, arqueando uma sobrancelha e olhando de canto para o filho.

— Sim — respondeu o louro, sem pestanejar – Ela me intriga.

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