Capítulo VI - Conversa entre as Árvores

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O príncipe da Floresta das Folhas Verdes sentiu o sangue ferver, não acreditando que ela se despedira dele dessa forma. Se bem que ele que se oferecera para ser um guia, e quase obrigara a levá-lo junto, mas isto não justificava. Ele não ia simplesmente deixá-la andando por sua floresta, com o perigo de acabar sendo presa por uma das tropas de guardas ou batedores de seu pai. Fora que ela era uma estranha e não era prudente deixar ela sozinha por ai. Bufando, pulou para o lombo do cavalo branco, esporeando com mais força do que o necessário e fazendo-o disparar pelo caminho em que a sombra sumira. 

O vento que chicoteava seu rosto enquanto o cavalo corria acalmou seus pensamentos, e quando alcançou o corcel negro, Remmirath lhe lançou um rápido olhar por cima do ombro, como se estivesse só verificando casualmente a trilha e ele sempre estivera ali atrás dela. Balançando a cabeça em negação, mais confuso do que nunca, Legolas decidiu não pensar sobre o assunto.

À medida que galopavam pela Floresta das Folhas Verdes, distanciavam-se da colina conhecida como Amon Lanc, que antigamente tinha sido a capital do reino de Oropher, e posteriormente a fortaleza do Necromante, Dol Guldur. As forças de Sauron permaneceram ativas naquele local durante a Terceira Era, lideradas por Khamûl, um dos Espectros do Anel. Mas foram derrotadas na Guerra do Anel, em um ataque de elfos liderados por Thranduil de Mirkwood, Celeborn e Galadriel de Lorien. A fortaleza fora totalmente destruída não restando uma parede, e após a limpeza e purificação de Dol Guldur por Galadriel, Celeborn reivindicou a parte sul da floresta, nomeando-a Lórien Leste e governando a partir da reconstruída Amon Lanc.

Apesar de viver a maior parte de sua vida naquela floresta e conhecer cada trilha como a palma de sua mão, Legolas teve que se contentar em seguir a Sombra, que o guiava por entre as árvores, sempre em direção nordeste. Se continuassem naquele caminho por mais alguns dias, logo chegariam às montanhas no meio da Floresta. Isso é, se ela estava mesmo indo encontrar alguém na Floresta, ou só era mais uma passagem em sua rota, assim como quase fora com Amon Lanc. 

Parecia que a sombra evitava propositalmente se aproximar de qualquer pessoa, mantendo-os em um caminho solitário. Nessa parte da jornada, Legolas já havia avistado alguns patrulheiros ao longe, olhos astutos entre as árvores apenas observando enquanto seu príncipe passava com a estranha figura encapuzada. O rei já devia saber de sua presença há muito, quando pararam para se alimentar, e aos cavalos. As lembas já eram escassas.

— Suponho que esteja confuso — pronunciou-se Remmirath, depois de os cavalos beberem de um pequeno córrego entre as árvores.

— Imagine — Legolas resmungou, terminando de encher o seu cantil e seguindo-a, perceptivelmente irritado com a falta de informações e o silêncio por parte da Sombra.

— Foi sua decisão me seguir — ponteou ela, montando novamente e guiando o cavalo pela beira do córrego. — Não tenho obrigação de lhe dizer para onde vou.

Inspirando profundamente, o príncipe olhou para o alto, rezando silenciosamente à Eru para que sua paciência élfica não chegasse ao limite. Infelizmente, ela tinha razão. Suspirando pela milésima vez, Legolas montou Aerlinn e a seguiu. Mas, diferente dos outros dias, não se contentou com o silêncio mútuo. Olhou à volta, tentando ter alguma ideia do que conversar, até decidir comentar sobre um tópico quase inútil.

— O tempo está agradável hoje — comentou o elfo, casualmente, emparelhando com o cavalo dela.

A sombra o lançou o típico olhar de "Você está falando sério, elfo?" acompanhado de uma sobrancelha arqueada.

— De fato — respondeu, voltando o olhar para frente e esperando que ele ficasse quieto.

— Como era o clima no norte? — arriscou Legolas, recebendo novamente aquele olhar que já estava acostumado há dias.

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