Capítulo IV - O Pântano dos Mortos

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Os cavalos diminuíram a velocidade ao chegar no terreno pantanoso, mudando para um galope ritmado entre os charcos. A noite caia e o pântano já normalmente enevoado, ficava ainda mais escuro, enchendo de temor o coração de Legolas, que sabia muito bem que local amaldiçoado era aquele. Relembrou as palavras de Frodo, quando o pequeno contara a todos da Sociedade sobre os perigos de sua jornada. 

"Jazem em todas as poças, rostos pálidos, nas profundas águas escuras. Eu os vi: rostos repugnantes e maus, e rostos nobres e tristes. Muitos rostos altivos e belos, e ervas em seus cabelos prateados. Mas todos nojentos, podres, todos mortos."¹

 Um arrepio subiu pela espinha do elfo, que fez o cavalo andar ainda mais devagar, não arriscaria afundar no lodo por um passo dado em falso.

A Sombra à frente guiava o corcel com ainda mais cuidado, evitando que passassem muito próximos de certas poças lodosas de onde um cheiro fétido subia. Seus olhos perscrutavam cada superfície, esperando não ver as luzes fracas que havia apagado na última vez que estivera ali. Aquele local já havia sido uma vasta planície entre os Emyn Muil e Cirith Gorgor, até se tornar a Dagorlad, a Planície da Batalha entre Sauron e a Última Aliança no fim da Segunda Era. Milhares haviam caído naqueles dias, e seus corpos lá permaneceram. Até que a planície tornou-se um pântano, e os pântanos cresceram desde então, engoliram os túmulos, sempre se espalhando. Aquele era o Pântano dos Mortos, onde os mortos ainda podiam ser vistos.

— Foi uma grande batalha — falou a Sombra, quebrando o silêncio enquanto galopavam pelo terreno pantanoso. Podia sentir a preocupação do elfo que a seguia. — Homens, elfos, trolls, orcs e outras criaturas lutaram sobre a planície por dias e meses diante dos Portões Negros.

— Meu avô caiu nesta batalha — Legolas comentou, sombrio, olhando sem ver para o pântano à frente dele.

— Ele lutou bravamente — acrescentou a Sombra. — Oropher foi um grande rei, e sábio, embora seu povo tinha pouco a ver com os outros da Terra-Média, ele respondeu à convocação da Última Aliança. Sabia que não poderia haver paz até que Sauron fosse derrotado.

— Você estava nessa batalha? — o elfo perguntou, subitamente, aproveitando a chance.

— Não, nesta, não... — respondeu a sombra, escolhendo as palavras.

O silêncio pairou entre os dois por um longo momento, cada um ocupado com seus próprios pensamentos, até que Legolas se pronunciou.

— E agora, estamos em paz? — e voltou o olhar para as costas da Sombra, que se retesaram por um segundo.

—– Podemos desfrutar de uma calmaria agora, mas quem poderá dizer quando uma nova tempestade irá despontar? — retrucou ela, simplesmente, continuando a analisar sua volta enquanto os cavalos avançavam.

— Mas então, o que você está procurando? —o elfo emparelhou o cavalo com o dela. Tentou capturar os orbes dourados, mas eles estavam focados em algo muito à frente.

— Não seja tão impaciente, elfo, logo você descobrirá — declarou a Sombra, e então desceu do cavalo, desembainhando sua espada negra e andando por um caminho mais estreito, seguindo uma luz fraca.

Legolas ficou observando a Sombra se distanciar, incerto sobre o que ela procurava entre aqueles túmulos nefastos. Suspirando ao perdê-la de vista, desceu do cavalo e andou pelo mesmo caminho que ela fora.

Aquele pântano era tão agourento e repleto de vapores estranhos, junto com sua vegetação e lodo nojento, que logo as águas começaram a se infiltrar pelas botas do elfo, deixando-o ainda mais enojado com o terreno. "Por Eru², o que havia dado na nela para entrar ali?" Sua cabeça chicoteou na direção de um som estranho ao longe, e, armando o arco com uma flecha atirou na luz esverdeada que tremulava pelo ar. Vapores começaram a serpentear a volta dele, lembrando-o terrivelmente uma experiência em certa montanha que preferia ter esquecido.

A Sombra do NorteOnde histórias criam vida. Descubra agora