Capítulo XXI - Treinamento

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Os dedos do elfo roçaram suavemente a pena, era a última flecha em sua aljava, descarregada no alvo à frente, que ele não via pois os olhos estavam vendados. Tampados para treinar seus instintos, manter o foco, não perder-se em seu novo estado de espírito ou com o burburinho no campo de arco e flecha que cessara há alguns minutos.

Legolas inspirou profundamente, tomando uma decisão ao encaixar a haste na corda e puxar, sem hesitação, atirando e retirando a venda logo depois. Só para confirmar que a placa de madeira redonda estava alvejada com flechas no centro. Sorriu, satisfeito, andando até a sala de armas e deixando a aljava e arco de treino. Os habituais ficaram em seu aposento, optando por trazer só as facas longas embainhadas no cinto, vestia a túnica de caça verde-musgo, calça, manoplas e botas leves em tons marrons. Poderia facilmente ser confundido com tantos outros elfos que circulavam pelo palácio subterrâneo, não fosse o rosto conhecido por seu povo.

A presença do príncipe instigava mais ainda o grupo de jovens, não mais que vinte elfos recrutas, que haviam deixado há pouco o campo em direção à sala de treinamento de combate. Todos os elfos da floresta, desde pequenos, recebiam aulas de literatura, herbologia e música, alguns pais os ensinavam a lidar com armas e se defenderem, mas cada elfo era livre para decidir a sua carreira.

As elfas preferiam as artes do lar, e algumas das que moravam perto da caverna do Rei permaneciam entre os curandeiros, costureiras, cozinheiras e servas gerais, alguns elfos também escolhiam plantar e cozinhar a empunhar uma arma e perambular pela floresta, protegendo as fronteiras. Mas os elfos, em geral, exercitavam e aproveitavam todos os variados talentos de sua raça, de habilidade ou tradição, embora em ordem e graus diferentes, em suas vidas tão longas.

Em busca de exercitar as suas habilidades de combate, os filhos de Elrond entraram no campo de treinamento, acenando brevemente para os recrutas que duelavam. O instrutor, um elfo de cabelos lisos castanhos escuros, se aproximou deles, dizendo:

— Ótimo, estava mesmo precisando de voluntários experientes para uma demonstração.

— Mas, Edhelthor, isso não seria divertido — retrucou Elladan.

— De fato, seria melhor se tivéssemos outra dupla com quem duelar — concordou Elrohir.

Se tivesse alguém além deles, seria mais proveitoso mostrar suas habilidades de guardiões para a nova tropa de patrulheiros. E veio a calhar que certa cabeleira loura passou pelo corredor, revelada pela enorme porta que estava aberta. Os gêmeos trocaram um olhar travesso, antes de chamar, em uníssono.

— Legolas!

O príncipe da floresta verde tentou passar despercebido, mas, ao chamado dos amigos, muitos pares de olhos se voltaram para ele. Então, foi obrigado a entrar no campo de treinamento, em uma pose altiva e rosto neutro, cumprimentando com leves acenos os seus súditos. Aproximou-se do antigo colega de tropa, agora treinador dos novatos, Edhelthor, e dos gêmeos, cruzando os braços e olhando-os.

— Junte-se a nós para uma demonstração de combate — pediu um dos elfos de Valfenda, enquanto o outro sorria, divertido.

Legolas arqueou uma sobrancelha, mas concordou silenciosamente, desembainhando suas facas longas e andando até o centro da sala. E quase sendo atropelado por certo cavalo negro que passou galopando e relinchando, em direção à antecâmara que levava ao bosque. O elfo pulou para o lado, enquanto os outros no recinto desviavam-se do caminho do mearas, observando com fascínio o porte nobre do cavalo.

— De onde ele veio? — exclamaram alguns, surpresos.

— Como os cavalariços deixaram fugir? — Edhelthor disse, em tom zangado.

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