Ano 42 da Quarta-era do Sol
Perambulava por entre as árvores novas de Ithilien, arrastando os pés com total desânimo, não havia nada de emocionante a se fazer em uma floresta alegre e verdejante. Certo que, se não fossem pelos elfos, nunca as florestas de Ithilien se tornariam tão revigorantes novamente, não que tivesse alguma lembrança de como elas eram antes da quarta-era, afinal, nem era vivo na época da última Grande Guerra. Bufou entediadamente, sentando-se contra o tronco de um carvalho, o único que parecia velho entre tantas árvores vistosas e reluzentes. Uma formação diferente de pequenas pedras formava-se perto do carvalho, formando um laguinho devido a ultima chuva recente. Inclinou-se para a pequena 'fonte', vislumbrando seu próprio rosto, encontrando os traços que herdara de seus pais. Apesar de ainda ser considerado uma criança élfica, para a raça de seu pai ele já estaria na idade de se tornar um guerreiro. Soprou uma mecha negra de cabelo, que teimosamente caia por sobre seus olhos cor de céu nublado. Sua imagem refletida começou a se desfazer, e pulou para trás ao perceber que um pequeno sapo verde-musgo surgira aonde antes estava o seu rosto.
— Sai dai! — ordenou o jovem ao sapo, irritado, mas a pequena criatura só coaxou, tentando o espantar de seu pequeno refugio.
Caso o perguntassem depois, não saberia definir o porque de ter se irritado tanto com um simples animal, mas naquele instante, sentiu que o sapo estava desafiando-o, e para mostrar quem era que mandava por ali, pegou uma pequena adaga curva, que levava pendurada em seu cinto, e já iria desferir um golpe se não fosse surpreendido por uma voz repreensiva.
— Se eu fosse você, não faria isso — o garoto suspirou aliviado ao perceber que não era sua mãe, mas mesmo assim aquela pessoa, que não havia notado antes, o fez sentir arrepios. Imediatamente escondeu a adaga.
— E quem é você para me dizer o que fazer? — perguntou, petulante, o jovem, procurando de onde vinha a voz e encontrando a dona sentada em um dos galhos do grande carvalho, a uns bons metros do chão.
— E quem é você para decidir quem deve morrer ou viver? — retrucou a jovem, lá do alto, despertando curiosidade no jovem príncipe, pois ela cobria-se totalmente com uma capa esfarrapada de peles escuras.
— Era apenas um sapo, não faz diferença se ele morrer ou não — tentou explicar-se, já levantado e tentando encarar de modo sério a estranha figura, a qual só conseguia distinguir estranhos olhos dourados e penetrantes. — De que raça você é?
— Era apenas um hobbit, não fazia diferença se ele morresse ou não — emendou a encapuzada, deixando-o confuso por alguns segundos, e logo depois arregalando os olhos azuis ao constatar do que ela estava falando.
— Mas, isso, não tem a ver, é totalmente diferente, não causaria mal a ninguém — falou ele, apontando e olhando para o chão à procura do pequeno ser verde, constatando que ele continuava lá, coaxando, e acompanhado de outros sapos.
— É claro que não, só à família do sapo...— era impressão dele, ou havia ouvido uma ironia na voz daquela estranha?— mas seria uma pena se o número de pragas começasse a aumentar repentinamente, acabando com os belos jardins de Ithilien, não é mesmo?
— Eu... não entendo...— murmurou ele, a olhando intrigado – Mas que é você, afinal?
— Eu sou a sombra que vem do Norte — falou ela em um tom que deixou o ar ao seu redor repentinamente gelado e misterioso. E então, de um salto, desceu do carvalho, aterrissando perfeitamente no chão, e estendeu-lhe a mão, como forma de cumprimento.
— Certo, Lady¹ Sombra... — murmurou o jovem descrente, analisando a mão alva como que procurando alguma armadinha, e cumprimentaram-se do jeito dos elfos, apertando-se o antebraço. — Eu sou Eldarion, filho de Aragorn. Herdeiro do trono de Gondor.²
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A Sombra do Norte
FanfictionUma sombra surge do Norte gelado, trazendo com ela rumores de um novo perigo pelos sussurros de um passado enevoado. Apesar de não haverem mais grandes inimigos como Sauron para causar inquietação, a Quarta Era está fadada à tornar-se um tempo perig...